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(PODE CONTER ALGUNS GATILHOS, ENTÃO SE NÃO SE SENTE BEM COM ESSE TIPO DE CONTEÚDO, POR FAVOR PULE ESSE CAPÍTULO).
Estelar Monroe
Eu tinha doze anos quando entendi que gostava de meninas, ao conhecer minha mãe eu me calei. Ouvia seus resmungos em como a filha da vizinha era pecadora. Acreditei nela por um breve momento, e torci para ser liberta.
Não fui.
A nova escola poderia ter me trazido liberdade, mais foi nela que me afundei ao me apaixonar por Ellen. Eu tinha quinze anos quando a deixei beijar meus lábios, e ela disse que permaneceria se algo de ruim acontecesse.
Ela não permaneceu.
O tapa no rosto que levei ainda me arde até hoje. Fiquei em silencio compreendendo que eu e Ellen havíamos sido descobertas.
Eu já tinha dezesseis anos quando fui jogada por minha mãe em uma clínica para a "Cura gay". Ellen, já estava lá. Segurei em sua mão lhe dizendo que tudo daria certo. Mais não deu.
- Eu sinto muito Estelar, mais não posso permanecer aqui. – Disse ela me olhando a levar choque em meu corpo molhado. Onde somente as peças intimas escondia minhas intimidades.
A deixei ir ao fingir uma cura que não existia. A deixei ir se esconder me recusando a fazer o mesmo, e a deixar ir confirmando que ela tinha sido a primeira a partir meu coração.
As meninas e rapazes pareciam cadavéricos anestesiados sempre que eu caminhava pelos corredores da clínica, e eu mal também parecia estar lúcida. Sentia meu corpo tremer todas as vezes que tinha visitação. Me sentava junto dos demais naquela imensidão de banco, esperava a janela com grades serem abertas, e era somente dessa forma que conseguíamos ver nossas famílias, assim como eles também poderiam nos ver. E eu me recusava a olhar para a mulher que tinha me jogado ali. Odiava olhar em como ela fingia se sentir culpada, mais no fundo eu sabia que ela não sentia culpa. E eu permaneci naquele lugar por anos, pois me recusava a dizer que eu tinha sido "Curada". Suportei todas as torturas calada, esperando um dia melhor chegar, mais ele não chegava nunca, e foi dessa forma que eu passei a me cortar. Me cortava para ao menos tentar me manter em pé.
Eu já tinha dezenove anos quando percebi os olhares maldosos do "Carcereiro" para mim. Tinha nojo em todas as vezes que ele me sorria ao passar seus dedos por seu cabelo loiro. Mais eu mal poderia o denunciar, pois ali eu era uma desviada que estava servindo de cavalo para o Diabo. Aguentei mais uma vez calada, pois eu não sabia se sentia mais medo dali ou de casa.
Eu tinha acabado de completar vinte anos, já era uma mulher cujo mal tinha qualquer expectativa sobre a vida. Era uma noite chuvosa, onde eu sentia um mal estar bem grande, e naquele dia compreendi que minha comida havia sido mexida, assim como de outras garotas e garotos já foram.
A porta do quarto rangeu sombria onde me revelou ser o "Carcereiro" loiro. Meu corpo já estava imóvel na cama, eu mal conseguia o sentir. E eu queria muito ter conseguido me mexer para fugir.
Não consegui.
Eu parecia estar olhando pro próprio diabo enquanto seu cabelo loiro refletia na pouca escuridão. Ele tirava sua roupa lentamente e eu mal conseguia gritar. Senti a ânsia me tomar assim que ele se deitou por cima de mim ao levantar meu vestido de dormir. Retirou minha calcinha mal se importando com os resmungos que eu conseguia soltar. E o quando o senti me invadir o corpo violentamente eu chorei.
-Eu sabia que você era deliciosa. – Disse como um bom nojento ao ranger seus dentes amarelados.
E quando ele se retirou de mim deixando o crime que ele havia cometido em meu corpo, ele foi embora. Me deixando sangrar e chorar ao pedir para deus me levar. E aquela tinha sido a primeira vez que eu chorei naquele lugar disposta a dizer que eu tinha sido "Curada".
Três dias depois eu observei um rombo na madeira que cercava o lugar. Acreditei que a salvação que eu queria era aquela. Arrumei minha mochila com as poucas coisas que eu tinha, e esperei todos dormirem. Caminhei silenciosa pela penumbra sentindo o medo me corroer. E quando eu ouvi meu nome eu corri, corri como se minha vida dependesse daquilo (E ela de fato dependia). Corri ao prantos para o fundo da clínica onde pulei o balcão e me joguei por debaixo do rombo da madeira. Me arrastei no chão até conseguir chegar na pista, e depois dali eu segui ainda correndo para algum lugar que me ajudasse.
Não havia nenhum.
Eu ainda tinha vinte anos, não tinha mais ninguém que pudesse me ajudar. Eu de fato caminhava pelas ruas sozinha por meses, onde drogas conseguidas e bebidas tinha se tornado meu alento. Até que avistei um rapaz sentado na pista de skate fumando um baseado. Como eu já não tinha mais nada a perder fui até ele.
- Me arruma um cigarro ai. – Pedi para o rapaz que me olhou desconfiado. Mais ainda assim ele me entregou. O acendi me sentado ao seu lado cansada de tanto lutar.
- O que você tem? – Me perguntou.
- Raiva. – O respondi e ele me sorriu ao mostrar a separação que ele tinha nos dentes. – Eu sou Estelar. – Falei.
- Isaak. –Respondeu o estranho.
E depois disso aquele estranho que se chamava Isaak, ia todos os dias a praça. Onde me levava, água, comida, e sempre dividia comigo seus baseados e cigarros. Conversávamos sobre diversas coisas onde ele me dizia que tinha vindo do interior, e que estava abrindo um Studio de tatuagens, mais ainda assim eu ainda não havia contado sobre minha vida. E ele entendia sem nunca me obrigar. E ainda que eu achasse a ideia louca eu o deixei me levar para sua casa.
Era uma noite calma onde bebíamos e conversávamos, eu talvez estivesse tão cansada e confusa depois de tudo que passei, que eu me inclinei para beija-lo. Ele sorriu negando com cabeça.
- Eu sou gay. – Disse e eu senti meu coração parar. Meu olhos marejaram naquela compreensão que eu talvez estivesse esquecido.
- Eu também sou. – Soprei para ele com a voz embargada. E eu me deixei chorar ao relatar tudo para ele. E tinha sido nesse dia que Isaak descobriu tudo sobre mim.
- Eu prometo cuidar de você, e prometo que serei seu amigo para sempre Estelar. – Disse me prometendo sincero. E eu acreditei em suas palavras, e ele de fato havia cumprido.
Meses depois eu senti algo querer sair de mim, Isaak correu para o hospital comigo onde fui encaminhada de imediato para a maternidade. Eu ia parir um filho do homem que havia me abusado. O moleque nasceu de seis meses, ficou um mês na incubadora onde eu tive que permanecer para o cuidar. E aquilo tinha me doído a alma pois o garoto carregava o mesmo cabelo loiro do homem que tinha destruído minha vida.
Quando ele ganhou alta Magnólia vulgo minha mãe apareceu. E eu não faço ideia de como ela tinha me descoberto ali. Mais ela descobriu, e levou o guri sem ao menos se importar comigo.
- O chame de Ravi. – Pedi sentindo as mãos de Isaak na minha. Ela somente concordou com a cabeça e o levou.
Passei meses me esforçando a levantar e no dia que Isaak gritou comigo para eu reagi, eu reagi. Levantei prometendo que nunca mais deixaria alguém me subjugar, eu nunca mais ficaria calada observando minha vida ser desenhada por outras pessoas.
E assim fiz.
Aprendi a tatuar com Isaak, comecei a ganhar meu dinheiro, comecei a conhecer os corpos femininos. E eu nunca mais abaixei a cabeça para ninguém, e eu não faria mais isso, nem por amor eu ficaria calada.
E eu jamais me esqueceria da importância que Isaak tem na vida, ele é o único homem que eu amo, o único irmão que eu tenho, o único melhor amigo, e o único para quem eu daria minha vida. E caminharemos assim, e eu estaria aqui por ele por toda uma eternidade.
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Stand Up: Série Irmãos Escobar - Livro 04 (DEGUSTAÇÃO)
FanfictionFicar de pé nem sempre é fácil, mais é necessário. Marcas de um passado tortuoso jamais será esquecido, mais é preciso seguir para um dia melhor chegar. E o que mais Estelar faz, é seguir. Segue sem se esquecer de suas dores, segue buscando sem...