Shinobu Só Queria Um Emprego

Único

— Olha só, Tomioka-san! — Shinobu chamou a atenção do namorado, dando puxões leves na manga da blusa dele e apontando discretamente para a fachada da lanchonete.

Kocho não queria chamar a atenção das outras mesas ao redor, pois o ambiente estava lotado. Tomioka estava dando uma mordida em uma batatinha frita quando percebeu o que a garota queria.

Ele semicerrou os olhos até encontrar o pequeno papel pregado na parede, onde estava digitado "Vaga para garçonete. Mande seu currículo com foto para o e-mail lanchonetepalhacofeliz@gmail.com". Sem entender muito bem, ele voltou sua atenção para Shinobu novamente e viu o rosto da garota radiante com uma oportunidade de emprego.

— Vou mandar meu currículo. Será que consigo a vaga? — disse ela cabisbaixa. — Quero aliviar as contas lá de casa porque a mensalidade da facul tá pesada demais.

— Com certeza, amor! Você é inteligente e dedicada. E ainda pede pra enviar com foto. Se for pelo quesito beleza, você consegue mais fácil ainda. — Quando não estavam implicando um com o outro por motivos bobos, Tomioka sempre tentava aumentar a autoestima de Shinobu

Ela ficou muito empolgada e confiante. Não estava sendo fácil conseguir um emprego por causa da pandemia e todo o prejuízo provocado na economia, mas parecia que conseguir o primeiro emprego, como é o caso de Shinobu, era uma verdadeira missão impossível. A garota estava sentindo na pele como era difícil conseguir ao menos uma entrevista.

Kocho esperava ansiosa o momento em que os humilhados serão exaltados, porque até para conseguir um estágio estavam pedindo experiência.

— Vou tirar a foto e mandar quando chegar em casa — anunciou ela, pegando seu celular de capinha roxa da bolsa e discretamente tirando uma foto.

Shinobu se sentia esperançosa. Dessa vez mandaria e teria resposta, diferentemente das oitenta vezes em que mandou currículos até então. Ela já tinha mandado currículo para quase todas as farmácias de sua cidade, mas ninguém queria uma estudante de farmácia no começo da faculdade, apenas a partir do quinto período.

Assim que chegou em casa, ela correu para ligar o notebook e colocar uma foto sua no currículo. A única foto que ela poderia colocar não era das melhores: parecia que suas bochechas eram maiores do que a realidade, e seu queixo, torto. Mas fazer o quê? Quem conseguia ficar bonito em uma foto três por quatro era uma verdadeira divindade.

Seu currículo só tinha coisas pra encher linguiça, já que ela nunca trabalhou em lugar nenhum. Precisava se descrever para chamar atenção de alguma forma: Forte, Decidida, Proativa, Guerreira, Boa comunicação, Criativa, Inteligente emocionalmente e Ótimo trabalho em equipe.

Shinobu estava quase adicionando o adjetivo "Desesperada". As empresas deveriam valorizar isso, porque nada como uma pessoa ter uma dívida e o nome sujo pra ela ser mais interessada que todos os funcionários ali e trabalhar melhor.

Enfim, quando era quase meia noite, ela terminou a modificação, mandou o currículo e seja o que Deus quiser. Cansada, a garota foi tomar um banho e dormir, pois amanhã ainda tinha uma prova online para realizar. Antes de adormecer, Shinobu mandou uma mensagem para Tomioka contando que havia enviado e o rapaz desejou boa sorte.

[...]

Ao despertar e ainda meio sonolenta, a primeira coisa que ela fazia todos os dias era checar as notificações de seu celular. Ali tinha desde coisas inúteis, como "Fulaninho fala sobre rumor de estar em um relacionamento homoafetivo com Deltrano" (Shinobu nem sabia quem eram essas sub-celebridades), desde duzentas mensagens no grupo da turma; no entanto, o que mais chamou sua atenção foi o e-mail resposta daquele currículo. Como era possível responder tão rápido assim? Aquilo era um sonho? No mesmo instante, Kocho despertou completamente em um susto e abriu o e-mail com as mãos trêmulas. Ali havia escrito: "Verificamos o currículo e desejamos que participe da entrevista de emprego hoje às 14:30 na Lanchonete Palhaço Feliz. Segue o endereço completo. Atenciosamente."