Prológo

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- Essa chuva que não para... – Muriel sacodiu o guarda-chuva e colocou no porta guarda-chuva que estava em frente ao café. O sino da porta do estabelecimento soo quando ele abruptamente abriu a porta.

- Ei.. seja mais educado – advertiu Joan que entrou logo em seguida. Ele ajeitou os óculos no rosto e jogou o cabelo molhado para trás.

Um forte raio cortou o céu nublado e um estrondoso trovão ressoou. Muriel fez uma careta, não só devido ao vendaval que se intensificava do lado de fora da cafeteria, mas também pela bronca que levara de seu colega mais jovem.

- Odeio dias assim... um café expresso e um isqueiro por favor! – Muriel pediu a uma garçonete que parecia estar um pouco receosa com a presença da dupla. O homem alto de barba falha ajeitou o sobretudo. – Como se não bastasse esse aguaceiro, ainda tem esse frio dos infernos... – resmungou Muriel enquanto tirava um cigarro do sobretudo.

- Frio dos infernos... – Joan repetiu em um tom irônico. Muriel cerrou os dentes. Joan ignorou a expressão de raiva do colega e continuou a rabiscar seu caderninho. Muriel ficava intrigado com aquilo e ao mesmo tempo curioso. Não havia muito tempo que ele e Joan trabalhavam juntos, mas sabia que ideias mirabolantes percorriam pela mente brilhante do jovem de 23 anos. E, quando Joan pegava o caderninho, Muriel ficava em alerta.

- Conseguirei ao menos tomar meu café? – questionou Muriel

- Não sei se terminará o cigarro, mas em quanto esperamos, o que acha das notícias? – Joan falava sem olhar para Muriel. Ele rabiscava freneticamente o caderninho. Muriel pediu o exemplar do jornal a mesma garçonete que acabara de trazer o café e o isqueiro. O homem de cabelo farto acendeu o cigarro e soltou a fumaça com pesar. A garçonete logo trouxera a edição matutina que não estava em bom estado. A chuva danificara os jornais e mesmo deixando-os em um ambiente mais seco, ficaram enrugados após enxutos.

-"Assassinatos em série assustam moradores de Haltwhistle" – Muriel leu em voz alta. Em seguida, colocou o jornal perto do rosto e espremendo as pálpebras, fez uma leitura rápida do artigo em silêncio.

- Já disse que deveria usar óculos, na sua idade não é bom forçar as vistas... – Joan molhou o polegar direito com o café quente e folheou o caderninho. Continuou escrevendo freneticamente e não olhou para Muriel. Muriel fez uma careta. Um novo trovão ressoou mais violento que o anterior e um raio pareceu cair nas proximidades. Com isso, um leve abalo atingiu o estabelecimento e a energia foi cortada.

Muriel revirou os olhos.

- Se-Se-Senhores... vamos ter que fechar o estabelecimento por falta de energia... – disse um senhor gorducho e barbudo que preparava os cafés.

- É agora não é?– disse Muriel irritado

- Precisamente em três segundos – disse Joan após parecer escrever a última palavra de uma frase no caderno. – 3...2...1 – Joan fechou o caderno com violência e olhou para o teto

- Ela está no teto bem em cima de mim né...- Disse Muriel. Joan concordou com a cabeça – Eu cuido do velho – em movimentos rápidos os dois homens se moveram. A garçonete que estava com dentes pontudos a mostra, voo em direção de Muriel que desviou agilmente. Ela tentou mordê-lo, mas levou um soco forte do homem. Joan se concentrou no outro oponente que já estava desfigurado.

- Como suspeitei.. é um xamã! – disse Joan por alto. Ele deu um sorriso de canto de boca, tirou os óculos e ativou seus olhos que ficaram extremamente vermelhos. Suas pupilas tinham duas cores: a do olho direito era branca e a do olho esquerdo, preta.

- O que foi que diss... – Antes que pudesse terminar a frase, Muriel foi acertado em cheio na barriga e arremessado para outro lado da cafeteria.

- É um Xamã! Ele deve estar aqui perto! – disse Joan com certa animação no tom de voz.

Com um pouco de esforço, Muriel se levantou e limpou o reboco do sobretudo.

- Então pare de enrolar com esse aí e comece a oração – a criatura que antes se vestia de garçonete investiu novamente em Muriel que desviou de um jeito desengonçado. Ele acabou sendo arranhado pela criatura.

- Olha quem fala... até quando vai ficar brincando? – Joan abriu o caderninho. A outra criatura fez menção de se mover, mas já estava preso em círculo mágico.

- O anima in lamentationibus, vagans incassum, iam non permitto te in hoc mundo habitare. Expiatio 37 - Seras ab inferno. – O espirito foi arrastado para um buraco que se abriu no chão. A criatura que atacava Muriel tentou salvar o "amigo", mas não conseguiu. Muriel, numa velocidade extraordinária, tragou o cigarro que estava em meio os escombros, soltou a fumaça na criatura, pronunciou algumas palavras em uma língua desconhecida e com o isqueiro que ele tinha guardado no bolso, ateou fogo. A criatura se contorceu e queimou até virar cinzas.

- Droga! É por isso que eu odeio chuvosos! Essas coisas aparecem aos montes achando que ainda são humanas. – Muriel cuspiu as palavras

- Vampiros... – disse Joan quanto recolhia as cinzas do vampiro e as colocava em um pode – que classe que você acha ele era?

- Eu sei lá, não deu para ver...

- Você também é um inútil – rosnou Joan que estava com os olhos mais vermelhos do que o normal. Uma gota de sangue escorreu pelo olho esquerdo do jovem.

- Já acabamos aqui, coloque seus óculos mandão – Muriel jogou os óculos para seu parceiro que voltou ao normal após colocar o acessório

- Me perdoe, perdi a compostura por um momento – disse Joan pegando um lenço e enxugando a lágrima de sangue.

- Não exagera senhor engomadinho  – disse Muriel dando tapinhas nas costas de Joan que o olhou de canto de olho.

- Vamos, se demorarmos muito o rastro vai sumir.. – disse Joan pegando o telefone e discando rapidamente alguns números – Alô, Estevão? Peça a arquidiocese que mande limpadores para Rua X... Estamos perto de resolver o caso. O Muriel? Lerdo como sempre, mas não posso reclamar... ok, daqui a pouco mando notícias.

- Já terminou o papo? Eu meio que estou irritado agora – um raio cruzou o céu e caiu, dando um grande clarão de luz. Os olhos amarelos de Muriel se destacaram.

- Claro! Vamos pegar esse Xamã.

O sino da porta do café do centro da cidade de Haltwhistle soou pela última vez. A dupla um tanto curiosa composta por um homem alto vestido de maneira grosseira e um jovem vestido com um terno extremamente alinhado feito sobe medida e óculos, saíram a caça.

The Night HuntersOnde histórias criam vida. Descubra agora