Andando pela loja de antiguidades, Uraraka deixou de olhar as prateleiras da entrada para explorar a parte mais funda e escura do lugar, numa área de produtos os quais, na maioria das vezes, eram evitados ou desprezados pelos clientes, fossem por parecerem ou objetos inúteis demais, ou macabros demais. Felizmente, para a sua pessoa, aquele era o local ideal para procurar o que precisava e estava quase sempre totalmente abandonado. Isso significava que ela estaria sozinha, longe de qualquer olhar desconfiado ou julgador. Antes que sumisse por um dos corredores, o único homem ali presente, o dono do local, disse:
— Se precisar de ajuda com alguma coisa, é só chamar.
— Obrigada! – E ela agradeceu, pouco antes de desaparecer loja adentro.
Assim que alcançou as prateleiras velhas e empoeiradas dos fundos, Ochako tomou a liberdade de tirar o capuz que usava, permitindo que o mesmo caísse sobre seus ombros, juntando-se ao restante da capa preta que cobria seu corpo. Estando mais à vontade, a mulher começou a passar suavemente os dedos pela madeira dos móveis, olhando com cuidado cada objeto presente, em busca de algo que lhe parecesse útil.
Depois de alguns minutos de busca, ao abaixar-se para verificar alguns caixotes podres que estavam no chão, os olhos de Uraraka brilharam quando ela finalmente encontrou o que tanto procurava: Um livro ancestral, revestido com uma grossa capa de couro marrom repleta de símbolos desconhecidos. Apesar de bem velho, o objeto parecia estar conservado o suficiente para ser estudado, estando apenas com as bordas das páginas mastigadas, provavelmente por traças. Tomando o grimório em mãos, a mulher levantou de sua posição ajoelhada e virou, retornando com passos calmos até o balcão da entrada, onde colocou seu achado. Remexendo os pequenos sacos de pano que encontravam-se presos no cinto de seu vestido, Ochako puxou algumas moedas, contando o valor total, antes de voltar a olhar para o dono da loja.
— Eu gostaria de levar esse livro. Quanto lhe devo?
— Este? – Ele apontou para o objeto, vendo-a assentir. – Tem certeza? Ele é escrito numa língua estranha que ninguém consegue ler. Não acho que seja muito útil para quem quer que seja.
— Eu tenho o hobby de colecionar coisas estranhas. Ele vai ser perfeito pra aumentar minha coleção! – Ela sorriu, insistindo na aquisição do produto. – E então, quanto lhe devo?
Desconfiado, o homem arqueou uma sobrancelha e a encarou, mas, ainda assim, deu de ombros, empurrando o grimório na direção da mulher, apenas para respondê-la em seguida.
— Três moedas de prata são o suficiente.
— Certo! Aqui está! – E separando o pagamento, ela lhe entregou as fichas prateadas, guardando as que sobraram de volta no pequeno saco de pano.
Em seguida, abriu a bolsa de couro que carregava ao redor do torso e guardou o livro, fechando-a pouco antes de agradecer ao dono da loja e se virar, deixando o estabelecimento. Quando chegou ao lado de fora e sentiu o sol batendo contra seu rosto, Uraraka deu falta de seu capuz e, prontamente, o vestiu, encolhendo-se para tentar passar despercebida enquanto caminhava rumo à saída do vilarejo.
Depois de cerca de dez minutos, a mulher chegou até a entrada da floresta e, antes de adentrá-la, olhou para trás e ambos lados, para garantir que não havia sido seguida. Quando tudo pareceu limpo, ela não hesitou e se afundou por entre as árvores, dando continuidade a sua andança.
Após algum tempo, sentindo que já tinha se afastado o suficiente da vila, Uraraka parou em uma clareira e, ao ouvir somente o som dos pássaros e pequenos animais, suspirou tranquilizada, antes de retirar a bolsa de couro de seus ombros e colocá-la no chão, sentando ao seu lado logo em seguida. Agora confortável e novamente sozinha, ela tirou seu capuz, encostando-se contra uma árvore e elevando o rosto para cima, para encarar o céu azul por entre os galhos que lhe faziam sombra. Aproveitando do ambiente calmo e da leve brisa, a mulher fechou os olhos, dando-se o mimo de relaxar um pouco. Entretanto, quando o som de passos pesados acompanhado de uma presença forte e intimidante correu até onde ela estava e a cercou com um calor intenso, Ochako soube que era hora de despertar e abriu seus olhos lentamente, apenas para deparar-se com a figura aterrorizante de um gigantesco lobo de pelos dourados.
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A Bruxa e o Lobisomem
FanfictionUm monstro que queria voltar a ser humano. E uma humana destinada a se tornar um monstro. Há três anos, o destino uniu ambos por acaso, sendo que ela era a única pessoa capaz de fazê-lo voltar ao normal um dia. E, sabendo disso, Katsuki fez um acord...