A Bruxa e o Lobisomem

Capítulo 5- Um descanso e alguns sentimentos

Os raios do sol nascente surgiram por entre as árvores e alcançaram o rosto de Ochako pela manhã, o que acabou por acordá-la depois de alguns minutos de uma luta vã para evitá-los. Após desistir de resistir à luz solar, a mulher suspirou, revirou-se sobre o cobertor no qual estava deitada, abriu lentamente os olhos e ficou encarando as folhas verdejantes e embaçadas que pairavam metros acima de si, esperando que seus sentidos despertassem também. Quando isso aconteceu, Uraraka foi prontamente consumida pelo delicioso aroma de carne assada, que fez com que seu corpo reagisse involuntariamente e se sentasse mais rápido do que o de costume, ao mesmo tempo que seu estômago emitiu um ronco bem audível, que a deixaria envergonhada se não estivesse concentrada em outra coisa. Ao virar a cabeça, a moça deparou-se com uma parede de pelos loiros bloqueando sua visão do que seria seu fogo conjurado, local que parecia ser a fonte daquele cheiro gostoso. Vendo Bakugou pelas costas, a bruxa só concluiu que ele estava preparando o café da manhã e começou a pensar no porquê de estar tão faminta. Foi então que Ochako lembrou-se que não havia jantado no dia anterior e... do que realmente havia acontecido naquela noite.

Ao relembrar do desabafo que havia feito, a mulher sentiu os músculos tensionarem e, na mesma hora, murchou com uma expressão pesarosa. Porém, assim que reviveu os momentos das horas passadas, recordando-se de como tudo acabou, estranhamente, Uraraka relaxou e respirou profundamente, como se estivesse tirando quaisquer vestígios de dor que pudessem ter ficado dentro de si. Por algum motivo, ainda que suas memórias continuassem dolorosas, agora, ela sentia-se muito mais serena e seu coração já não parecia estar mais tão pesado. Além disso, o fardo invisível que vinha carregando nos últimos três anos, de repente, parecia estar bem mais leve, quase como se ela não fosse a única a sustentá-lo. E parando pra pensar, talvez essa realmente fosse a situação.

Sentindo o estômago tremer, Ochako colocou a mão sobre o mesmo e suspirou, sabendo que não teria como adiar mais sua refeição da manhã, ela precisava se alimentar. Além de não ter comido nada na noite anterior, ela também havia chorado muito, o que provavelmente eram os maiores responsáveis pela leve dor de cabeça que a estava incomodando. Retirando de cima de suas pernas a manta que a cobria, a moça apoiou os pés no chão e se levantou, bocejando preguiçosamente. Sem dizer nada, ela caminhou até o lago e ajoelhou-se, apenas para se inclinar e começar a lavar o rosto e enxaguar a boca. Enquanto realizava sua higiene matinal, a bruxa continuava pensando em seu desafogo.

Eu vou ter que me desculpar com o Katsuki depois.

Ela concluiu mentalmente, enquanto enxugava a pele molhada em suas roupas. Não que ela tenha feito algo terrível, mas, de certo, foi egoísta. Envolvê-lo tão cruamente em seus fardos e fazê-lo ter que aturá-la chorar por tanto tempo... É, ele não merecia ter que passar por aquilo. Já não bastava o dia anterior inteiro com ela distante dele, sendo fria, agora isso. Fazia alguns anos desde a última vez que agiu de maneira tão egocêntrica.

— Bom dia. – cumprimentou mansamente, aproximando-se e parando ao lado do lobo. – O que temos para o café-da-manhã hoje?

"Peixe assado.", respondeu a fera, antes de olhar para sua parceira, com os olhos um tanto pesados, "Como você está?"

— Ah, bem... Eu tive uma boa noite de sono. – disse, enquanto encarava o pescado espetado em uma miniatura de uma lança de madeira, que estava posicionada sobre duas bases feitas com galhos, cada uma fincada em um ponto ao lado do círculo mágico, paralelamente. – Você quem preparou esse mecanismo para assar os peixes?

"Bem, eu não o achei por aí, né?", replicou a pergunta impensada, mas logo se arrependeu, baixando a cabeça. "Foi mal, eu fico meio impulsivo quando não durmo direito. Eu moldei alguns galhos e fiz uma estrutura básica para facilitar o processo de cozimento da carne, isso antes do sol nascer, assim eu poderia continuar preparando a nossa refeição mesmo depois de me transformar. "