A Bruxa e o Lobisomem

Capítulo 7 - A Bruxa e o Lobisomem: capítulo final

A chuva caia fracamente, mas sem parar, encharcando todas as plantas e a terra que se encontravam sob o céu aberto. Ao fundo da caverna, Ochako encontrava-se sentada em frente a uma fogueira – esta conjurada sobre um círculo mágico –, abraçando seus joelhos enquanto observava as chamas dançarem.

Por causa do tempo chuvoso, o clima havia esfriado, ao ponto de fazer qualquer pessoa desprotegida tremular em reação aos ocasionais ventos gélidos. Foi por isso que a mulher se arriscou a ficar tão perto do fogo, apesar de suas terríveis experiências recentes. Ela prometeu a si mesma que não deixaria aquilo traumatizá-la, apesar de entender seus recuos quando a fogueira começava a esquentar demais sua pele. Levaria algumas semanas, talvez meses, porém... Ela ficaria bem. Uraraka faria de tudo para ficar bem!

Fazia dois dias desde o incidente naquele vilarejo enlouquecido e, durante todo esse tempo, não parou de chover. Mas naquela manhã, as gotas começaram a diminuir gradualmente conforme as horas passavam, o que provavelmente significava que o sol não tardaria a voltar a brilhar.

O pensamento fez a bruxa suspirar com alívio, tendo em mente a necessidade de ir procurar por comida, já que as frutas que ela tinha colhido há alguns dias já tinham acabado. Ela sentiu-se com sorte pela falta de apetite que teve nas últimas 48 horas.

Um trovão ecoou pelo céu de repente, fazendo a mulher levar um pequeno susto que a tirou de seu transe reflexivo e a fez olhar para a entrada da caverna, como se de alguma maneira pudesse intimidar o responsável pelo estrondo. Respirando fundo, ela acalmou seu coração levemente agitado e, em seguida, se encolheu ainda mais contra seus joelhos, fechando os olhos no processo.

"Eu não teria me assustado assim se tudo não estivesse tão quieto..."

Afirmou mentalmente para si mesma, franzindo os lábios com o gosto amargo que se formou em sua garganta quando o sentimento de tristeza a invadiu.

Sim, já fazia dois dias que tudo ao seu redor continuava assim, desse mesmo jeito, calmo, vazio... e completamente silencioso.

A bruxa já não estava aguentando mais e não via logo a hora daquela chuva passar. Pelo menos, quando isso acontecesse, ela poderia sair e se livrar da atmosfera depressiva daquela caverna, mesmo que por apenas um momento. Estava se tornando torturante ficar ali confinada, sendo obrigada a se lembrar do último som realmente barulhento que a atormentou.

Seus soluços e choro desesperados não saiam de sua cabeça. Além, é claro, dos trovões da tempestade. E ela só desejava poder ouvir a voz de seu parceiro naquele momento.

Fosse pelo barulho, fosse por seu coração, não importava...

Uraraka só queria ter Katsuki de volta.

X — X — X

"Resista! Por favor, não morra... por favor...

Katsuki!"

Seus olhos se abriram de repente, ao mesmo tempo que inspirou rápido e profundamente, como se tivesse recuperado o fôlego após longos minutos sem respirar. Seu corpo espasmou na tentativa de levantar o torso, contudo, ele não encontrou forças para isso. Foi como se tivesse levado um choque que o despertou e, pouquíssimos segundos depois, o atordoou, fazendo-o se sentir extremamente fraco e cansado. Com uma dor de cabeça súbita e lancinante, ele virou dificultosamente o rosto, fechando os olhos na tentativa de apaziguar tantas perturbações.

— O que... estou? – murmurou, não conseguindo completar a frase.

— Bem-vindo de volta.

E uma voz doce prontamente o acompanhou, fazendo com que ele se esforçasse para abrir os olhos novamente, tendo que virar a cabeça para o lado oposto. A sua frente, a alguns metros de distância, estava a figura de uma linda mulher, sentada ao chão enquanto abraçava seus joelhos. Em sua face, ela esbanjava o mais meigo e alegre sorriso, enquanto o encarava carinhosamente. Ela parecia estar segurando alguma coisa dentro de si, pois não falou mais nada e apenas o aguardou.