Prólogo

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Guerra. Era a primeira palavra que ressoava em sua cabeça quando seus olhos se acostumavam com aquela visão. Quando ouvia os gritos; todos os juramentos sendo quebrados; adeus silenciosos sendo dados para pessoas amadas; sentimentos de milhões de mortes e o irreconhecível cheiro de ferro misturado a chuva e a lama.

Ela viu, em passos firmes e fortes, as pegadas marcarem o chão enquanto empunhavam as espadas ao som da melodia infernal que tocava. A melodia de membros sendo decepados, de corações sendo perfurados  pelo aço e o som forte de trovões, trombando feito tambores que anunciavam a chegada do apocalipse, ecoavam por todo o seu ser e a deixavam trêmula. Aqueles feixes de luz estavam soando como se fossem a trombeta que indicava o final de tudo, de todos.

Guerra. Era isso que era sussurrado por uma voz misteriosa em seu ouvido quando via as lágrimas de mães que perderam suas crianças. Era isso que pulsava em sua pele e em suas veias quando via o olhar desolado e completamente sem vida daquele de quem perdeu tudo. Casa, família, amigos, amores, promessas, lembranças...

O tilintar das espadas se chocando e os gritos agonizantes dos dois soldados se tornou uma tortura para seus ouvido. O corte tinha sido fundo, acertando o coração e deixando seu alvo preso contra o caule da arvore

Você não é nenhum deus para decidir a vida ou a morte de alguém. Você só é um ser desprezível que acha que conheceu a escuridão, e pensa que tem o direito de trazê-la para todos.. — parte de seu corpo já não existia mais. Buracos negros era o que haviam no lugar de seus olhos, espinhos saíam de seus dedos e sangue negro pintava seu corpo como chamas queimando a madeira. Sua boca estava aberta de uma forma que humanamente não seria possível — Eu te seguirei por toda a eternidade, amaldiçoarei seus descendentes, os perseguirei em seus piores pesadelos e os farei conhecer o sentido da palavra medo. Você não fugirá desta batalha enquanto não se arrepender de seus atos Madara.. Vo..cê... — a voz foi ficando cada vez mais fraca até se tornar um sussurro inaudível e arrastado — Pa — sua respiração foi parando, os espinhos de sua mão cortaram o ombro do outro — ...gará.

Ele estava morto.

Em uma recuperação de fôlego longa voltou à realidade, como se tudo não tivesse passado de uma ilusão ou de um lapso de loucura. Mas não tinha sido, ela sabia. Os cheiros, aquele desespero que corroía suas veias, o tremor que sentiu ao ouvir as palavras daquela criatura com forma de homem. Era tudo real demais para ser apenas uma ilusão, aquilo havia acontecido.

Retirou sua mão do tronco da árvore, sentindo-se tonta. Ao ter novamente a cena daquele corpo mutilado que insistia em voltar para a atormentar, se agachou sobre as raízes da árvore e vomitou a comida que tanto havia se esforçado para engolir. Seu estômago doía e sentia náuseas forte. Queria se deitar e se afastar de tudo, mas sabia que voltaria a ter a cena do corpo da amiga se dividindo em dois na sua cabeça, ou veria todas as memórias do local. Estava instável, fraca. Não conseguia controlar seu corpo e seus sentimentos estavam escorrendo para fora da cúpula que criou sem parar por um instante.

Socou o tronco da árvore com força, fazendo as farpas cortarem sua pele. Ela não queria sentir, não naquele momento.

As asas voltaram a se arrastar pelo chão daquela clareira da mesma forma graciosa e lenta que faziam. Ela sentiu as folhas secas e vermelhas fazerem cócegas agradáveis quando se encontraram com a pele sensível de seus pés descalços, mas aquela sensação agradável era totalmente desequilibrada com o resto das outras sensações que sentia e isso a deixava agoniada.

Quem seria aquele? Se perguntou, a imagem humanoide presa à árvore deixava seu corpo com calafrios e uma sensação de perigo à vista.

— Sozinha no breu? — um homem de pele leitosa e incrivelmente branca, se pronunciou, saindo do meio das sombras que os galhos das árvores criavam — Você sabe que ficar só não é lá uma escolha muito inteligente.

DéchirerOnde histórias criam vida. Descubra agora