Dapraxia

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Dia 24 de Junho, 10:24 da manhã.

O casal foi colocado para dormir na mesma sala, e, obviamente, Mitsuo acordara antes de sua namorada. Não era um caso tão sério, não houve uma proposta de namoro, foi simplesmente acontecendo, o que é claro, não impede nada. Os últimos meses foram de profundos pensamentos sobre a garota, que há algum tempo atrás batera na porta dele, molhada e com uma cara de quem havia comido e não havia gostado. Assim se dá início a uma serie de eventos que mudariam a vida do jovem para sempre, de diversas formas, Achiro iria aprender a lidar com pessoas diferentes e ocasiões que iriam demandar muito de sua psique, tais coisas que nem os treinamentos poderiam lhe salvar.

Ele não havia sido transformado em uma máquina de matar e dilacerar, ainda é claro. Todos os preparos físicos (incluindo idas na academia) haviam sido realizados e todos ensinamentos que alguém da classe dele deveriam aprender foram aprendidos, e no mais do mais, é isso. Quem sabe o que virá a ser dessa alma, que antes vivia uma vida pacata e sem graça, e que agora, em meses, terá de realizar missões as quais as próprias mãos irão revelar se o destino de uma pessoa será certeiro ou não?

Mas que calmaria horrível: Ter silêncio no mundo no estado em que ele está é algo terrível, não importa qual seja a sua vida. Não tem quem não se incomode com silêncio inquietante, e aparentemente esse sentimento realmente se espalhou por todos ali, Sonia, Mike, Iori, e antes das cirurgias até mesmo Sakura e Mitsuo. É como se até a chuva fosse mais hostil nestes últimos dias, como se ela batesse mais forte nas janelas, como se uma presença maligna se apossasse de tudo. E mesmo com tudo caindo aos pedaços, as pessoas ainda conseguem acesso a internet, e a implantes, isso é porque a tecnologia do mundo moderno não para: Tudo o que era conhecido como bom e caridoso se perde para um sentimento vazio e inconstante de felicidade temporária. Há sempre implantes novos, moda se renovando, etc, mesmo que o estilo de vida seja sempre precário.

Ao acordar, o garoto lentamente abre os olhos, percebe está vendado, e rapidamente remove a venda, vê que a sala está mal iluminada, logo em seguida nota que Sakura está com ele, e que seu corpo já havia mudado um tanto. Os implantes da garota deixavam a pele com poucos resquícios de que ela havia sido alterada, exceto por algumas linhas de dois a três centímetros que passavam por algumas partes do corpo, como por exemplo nas pernas, começando no tornozelo e terminando na coxa. Os olhos dela também haviam sido cobertos, provavelmente para evitar danos. O sentimento estranho de fraqueza levemente vai passando conforme Mitsuo vai acordando, e de pouco em pouco as diferenças já eram nítidas: Seus olhos agora funcionavam como câmeras perfeitas, dando zoom sem jamais perder a resolução. Seu nariz estava perfeito, e sua audição aguçada.

"Que... sensação estranha. Em um segundo eu 'tô' me sentindo cansado, e no outro não. Que saco, não sei se posso levantar daqui, — ele fica sentado na maca — mas pelo menos vou me mexer um pouco. Será que tem algum telefone de hospital por aqui? Eu não gostaria de esperar a graça deles para... deixa, eu espero. A Sakura fez a cirurgia depois de mim, deve estar longe de acordar, mas que seja então. Acho que a melhor alternativa é ler a lista de mudanças."

— Agora vejamos como isso funciona — diz Mitsuo baixinho — ... Não sei como mexe nesse sistema operacional que instalaram em mim, ele também cobre toda a vista dos meus olhos, o que é sinistro. 

Em sua visão se encontrava o mesmo tipo de sistema operacional usado em computadores, ele poderia navegar na internet, o que inclui baixar vídeos, fotos, pesquisar informações. No canto inferior direito, se encontrava uma espécie de personagem, bem pequeno, não dava para ver direito. "O que seria isso?" (pensa ele), a resposta vem imediatamente:

— Olá! Eu vi que você estava pensando em mim, eu sou a Linda, é um prazer conhece-lo, senhor Achiro.

"Senhor Achiro? Que coisa. Você é tipo uma inteligência artificial?"

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