Prova

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Haviam se passado algumas horas desde o encarceramento, a noite havia caído, Arthur estava sentado no que deveria ser uma cama, mas era só um pedaço de pedra lisa sem nada, sem janelas, sem cadeiras, quase sem passagem de ar e com apenas um balde de metal para as necessidades, o cheiro era de poeira e esgoto, apesar de não haver esgotos.

Ele pensava no que eles iriam fazer, tudo estava acontecendo tão rápido, em um dia ele acordou em um mundo caótico sem memórias, recebeu ajuda e agora não sabia qual seria seu destino. De repente, um guarda aparece na porta da cela.

- Levanta aí, eu trouxe comida e água. - Diz o homem colocando um copo d'água e uma tijela com algum tipo de sopa na abertura da porta, perto do chão.

Arthur se levanta em diração a porta, mas antes de pegar a comida, ele diz:

- Ei cara, o que eles vão fazer comigo?
- Não tenho permissão pra conversar com você e nem quero.
- Qual é! Se vocês querem me matar eu tenho o direito de...
- Você é de fora, não sabemos quem você é e você coincidentemente diz saber menos ainda, ninguém sabe quem é você, aqui você não tem direitos. Agora pega o que eu trouxe come e bebe logo, antes que eu decida levar tudo de volta. - Ele diz olhando fixamente nos olhos de Arthur, de maneira intimidadora.
- Tá legal, tá legal... Pega leve cara.

Arthur, então, pega a comida e a água, a sopa parecia ter gosto de uma mistura de vegetais e legumes, mas o gosto era horrível, ele se forçou a comer pela fome, sentiu enjôo, mas conseguiu comer tudo e bebeu água, devolvendo a tijela e o copo de volta para o guarda, que ainda estava na porta esse tempo todo.

- Agora é só ficar namoral aí e esperar, amanhã eles vão te levar pra julgar com o administrador e outros ajudantes da cidade.
- Tá certo... - Arthur diz assentindo com a cabeça.

Ele se deitou naquela placa de pedra e tentou ficar minimamente confortável para dormir, mas era impossível, era extremamente desconfortável, frio e a incerteza do amanhã não permitiram que ele dormisse até desmaiar de exaustão.

A noite passa...

Batidas fortes na porta, que se abre logo em seguida. Arthur acorda no susto e cai no chão, ele olha para cima e vê o mesmo homem da noite antenor, o guarda:

- Levanta, tá na hora.
- Não precisava ter entrado assim...
- Cala a boca, vamos.

Arthur se levanta e percebe que há outro guarda esperando do lado de fora da cela. Ele segue os dois e vão passando por alguns becos da cidade, até chegarem naquele prédio principal, eles o levam até a sala do administrador Lincoln. Ao abrir a porta, Arthur vê que, além de Lincoln, estão na sala o Howl, o cara que eles chamaram de "Bill", a mulher que estava na sala antes e mais duas pessoas, um homem cabeludo e loiro com uma cicatriz na bica e uma mulher loira de olhos verdes azulados.

- Aí está o "esquecido" - Bill diz em tom de ironia
- Bom dia, rapaz, sente-se. - Lincoln diz com seriedade.

Arthur obedece e se senta em uma cadeira virada de frente para todos os outros.

- Muito bem, nós tivemos uma reunião ontem, apesar dos incessantes pedidos de Bill para nós nos livrarmos de você, a maioria decidiu te dar uma chance.
- Chance de quê?
- Ninguém disse que você podia falar! - Bill grita se levantando.
- Bill, cala essa boca, senta e fica quieto. - Lincoln diz olhando para Bill.

Ele volta os olhares para todos na mesa e na sala, então olha novamente para Arthur:

- Resolvemos te dar uma chance de se explicar, você diz não lembrar de nada, nos conte o que você lembra.
- Mas e se vocês não acreditarem em mim?
- Nós vamos decidir isso, depois que você disser, se disser a verdade.

Arthur sentiu um nervosismo, ele não lembrava de absolutamente nada de antes do dia em que conheceu Howl naquele prédio, mas se faziam tantos anos que tudo aconteceu, como acreditariam nele? Essas questões martelavam na mente dele, mas não havia outra escolha, então ele disse a verdade:

- Olha, o que eu disse ao Howl é verdade, eu simplesmente acordei em uma cama naquele quarto daquele prédio onde eu vi ele e a gente fugiu daquela coisa. Antes daquele dia, eu juro, eu não me lembro de nada, não sei como cheguei ali ou como estive vivo por tanto tempo.
- Você entende, como essa história é suspeita? - O homem cabeludo diz.
- É óbvio que é mentira! Escutem o que eu tô falando - Bill diz
- Howl disse que quando entrou no quarto você estava em pé do lado de uma cama. Você já estava acordado quando ele te encontrou.
- Sim, eu tinha acordado há alguns minutos, só tive tempo de olhar pela janela e... - Ele se lembra da folha - ...lembro de ter visto uma carta!
- Uma carta? - Lincoln diz franzindo a testa
- Sim! Agora eu me lembrei, tinha uma carta de alguém que parecia estar cuidando de mim, mas que precisou ir embora.
- E onde está essa, carta?
- Eu... Acho que deixei lá.
- Ah, que conveniente - Bill diz rindo com deboche
- Olha rapaz, a sua situação não é das melhores, confesso que não confio em nada disso e meus companheiros aqui parecem compartilhar dessa desconfiança, exceto Howl que está te defendendo desde ontem.
- Eu posso ir lá. - Howl diz
- Como é?
- Eu posso ir lá, Linc, poss ir até a cidade e encontrar a carta, eu lembro o caminho.
- Não vale a pena perdermos você por um palpite incerto, Howl.
- Não podemos condenar um inocente! - Howl diz se levantando
- Sente-se, Howl. - Lincoln diz com firmeza
- Você precisa me deixar tentar. - Howl diz se sentando lentamente.

Lincoln fica olhando para Arthur o observando de cima a baixo, como quem tivesse procurando algo, alguma pista. Então fala:

- Ok, vou confiar em você Howl.
- Ah, fala sério Lincoln, vamos acabar logo com esse mentiroso! - Bill diz se levantando, andando até Arthur e parando de frente para ele.
- Eu já decidi Bill, a menos que qualquer outro aqui seja contra, é isso que vai ser feito.

Os outros se mantêm calados

- Pois bem, Howl, você vai com o Doss e o Tucker até a cidade recuperar essa tal carta e só isso. Entrem, recuperem, saiam e voltem para cá o quanto antes. Todos podem sair.

As pessoas vão saindo da sala, Bill sai com um olhar matador para Arthur. Sozinhos, Lincoln se aproxima, olha no fundo dos olhos de Arthur e diz:

- Howl tem um bom coração e eu gosto dele como um filho, então, para o seu bem, eu espero que tudo isso seja verdade. Acredite em mim, você não quer ver a minha fúria, rapaz.

Lincoln sai e Arthur fica sozinho com seus pensamentos incertos, ele torcia para que tudo corresse bem.

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