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Ele sabia que a encontraria naquele lugar. Isis ainda era, apesar dos últimos dias e do que ele tinha feito ela passar, a que conhecia. Se ela estava ali, é porque tinha ficado triste e precisava ficar sozinha, sem contato com mais ninguém. O que significava que nem mesmo Gia ou Halen sabiam o que havia acontecido naquele dia. Apostava tudo o que tinha ou pudesse ter algum dia, que ela tinha seguido direto para lá depois de se levantar do jardim, onde Amber disse que a encontrou.

Ela se encontrava encolhida no deque que eles ajudaram a consertar no último verão. Não tinha os pés na água, pois esta deveria estar extremamente gelada naquela época do ano. O cabelo solto balançava com a brisa gelada que passava no lugar e por ela estar na direção dele, de costas, o vento trazia o cheiro de Isis em sua direção. Era um cheiro mais cítrico, que combinava perfeitamente com o estilo despojado que ela possuía. Uma mistura de Orquídea com Romã... Coisas raras de se encontrar e que precisava saber manusear para não estragar.

Ao pensar sobre isso pela primeira vez na vida, soube que assim era o coração de Isis. Ele tinha feito tanto para a magoar, mesmo que não tivesse consciência disso, e ainda assim, com bravura, ela estivera ao seu lado, aguentando tudo como sua melhor amiga e agora, quando precisava que fizesse o mesmo, estava correndo o risco de fazer um dano irreparável.

Mas era como seu pai havia dito. Ele não era um covarde, então mesmo que tivesse que abrir seu coração em vão, apenas para levar um fora, não deixaria de lutar. Não a perderia sem uma boa batalha.

Se aproximou e viu os ombros de Isis ficarem tensos ao perceber a aproximação. Tinha certeza que ela sabia que era ele, por isso nem mesmo se virou para olhar, como um aviso para que ele não continuasse, o que Jet ignorou.

— O que faz aqui? — A voz de Isis era firme, mas ele a conhecia bem o suficiente para perceber o choro por traz.

— Precisava falar com você — respondeu, parando atrás da menina e a olhando por cima. Viu ela abaixar a cabeça, escondendo o rosto molhado pelas lágrimas.

— Não quero conversar nem com você nem com ninguém agora. Se está aqui porque Amber falou algo, não se preocupe...

— Eu não tô nem aí para o que a Amber pensa ou deixa de pensar — Jet disse, a cortando. — Estou aqui porque minha melhor amiga está chorando por minha causa.

— Eu não quero conversar com você agora, Jet. — Ele percebeu que ela falava com a voz embargada. Melhor amiga. Tinha certeza que essa ênfase lhe doera, como doeria nele se ela falasse apenas nesses termos.

— Então apenas me ouça, porque eu não posso ir embora sem falar isso — disse o rapaz, abaixando-se ao lado dela. Não se importava que Isis não o olhasse, por mais que quisesse encarar os olhos azuis dela enquanto falasse aquilo. — Eu fui um idiota. Não tinha o direito de tentar te dizer o que fazer ou com quem ficar. Me desculpe, Isis, a última coisa que eu queria era ser um idiota com você.

Esperou que ela absorvesse tudo aquilo, mas apenas viu os ombros se sacudirem levemente. Abriu um pequeno sorriso e se ajoelhou, assim ficando mais próximo dela. Isis podia sentir sua respiração um pouco mais ofegante do que o normal.

­— Mas não foi fácil ver algo que era tão óbvio e acho que nisso minha irmã tem razão, que ela não me ouça dizendo isso. — Fez uma pausa apenas para soltar uma risada baixa e anasalada. — Eu precisei ficar com medo de te perder pra um idiota para perceber que passei a minha vida toda apaixonado pela minha melhor amiga. — Viu a cabeça de Isis erguer e conseguiu visualizar o rosto banhado em lágrimas. Tocou-a ali, atraindo o olhar para o seu e sorriu fraco ao encarar os olhos azuis surpresos. — Eu também fiquei surpreso quando percebi que tudo o que eu estava sentindo não era minha intuição dizendo que um cara não prestava, era ciúmes de você, porque eu não queria que você ficasse com ninguém, só comigo.

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