Primeira Carta

165 21 74
                                    

⚠️Talvez esse capítulo seja um gatilho para algumas pessoas ⚠️

______%___%_______%_____%______

⚠️

Quando tudo começou?

Ele não tem certeza.

Ele só sabe da sensação de vazio e solidão que, constantemente, estão o acompanhando e o mandando ir para o mais longe possível. Mas ele só tem 25 anos, ele não deveria se sentir assim.

A realidade é que, ele não deveria ter sido abandonado do jeito que foi.

Ele tampou a boca, bloqueando o som de um grito agonizante, que rasgava sua garganta. Seu coração estava disparado, como se várias cargas de adrenalina fossem aplicadas no seu corpo.

Quem olhasse de longe, poderia associar isso a um ataque de um jovem com alguma deficiência mental. Mas na verdade, é apenas alguém que sente que vai explodir a cada segundo e não sabe como se livrar da agonia no seu estômago.

Ele sentia como se algo rastejasse dentro da sua pele, quase o impulsionando a arrancar a própria derme com as unhas. Lágrimas grossas escorriam por seu rosto como se fossem cascatas. Seu pescoço e camisa estavam ensopados.

A única coisa que era preocupante naquele momento, para ele ao menos, era descobrir como se livrar dessa sensação, que lhe visitava a cada dia mais e lhe exauria.

Suas forças, iam embora a cada sessão de tortura, gratuita, que sua própria mente lhe dava de presente. Talvez essas crises chegando em intervalos sempre menores, fossem apenas um aviso que seu corpo não aguentava mais estar remoendo tudo que passou e sentir que seu peito estava prestes a se partir e expulsar o coração para fora.

Ele bateu na própria cabeça. A todo momento sua mente lhe presenteava com imagens do passado.

Saindo de casa, mas ninguém insistiu para que ele ficasse. Sua mãe não olhou em seu rosto, mesmo quando ele cruzou a porta de entrada. Ele nunca recebeu uma ligação de casa.

Já fazia quatro anos.

Ok... eu não faço falta à ninguém, mas posso lidar com isso... eu...

Mais uma sensação de sufocamento lhe acometeu.

Seus pais brigando na infância e sua mãe dizendo o fardo que era criar dois filhos e que preferia ter tido apenas Yanli, pois ela nunca lhe arrumou problemas.

Ele começando a ficar o mais longe possível dos seus pais, para não lhes dar desgosto.

Um soluço saiu da sua garganta.

Ele tinha cachorrinhos, com quem ele passava o tempo e se sentia desejado. Até que seu pai adotou um garoto.

Quando ele acordou, não existiam mais cachorros.

Ele pressionou sua mandíbula tão forte, como se quisesse partí-la.

Tudo bem, não foi culpa dele...

Uma vez ele se interessou por uma menina. Mas seu erro foi ouvir atrás da porta e descobrir que ela sentia pena e nojo dele. Agradeceu por nunca ter se atrevido a falar com ela, sua humilhação teria sido catastrófica.

Colocou as mãos sobre a face, se sentindo ridículo.

Sua irmã vivia lhe dizendo que o amava, mas já fazia meses que ele não recebia uma ligação dela, e sentia medo de estar sendo inconveniente caso ligasse. Ele não queria estragar a felicidade que ela estava vivendo com seu marido. E tudo bem pra ele, ele podia lidar...

Respirou fundo.

Ele compensava sua sensação de inutilidade se esforçando para passar nas provas e sempre ter boas notas.

Seu irmão e o amigo dele disseram que era ridículo estudar tanto e mandaram ele ir arrumar amigos, se não, ninguém iria querer ele. Eles saíram rindo. Claro, pro seu irmão tudo é piada.

Ele se levantou do chão.

Os amigos que ele teve um dia, foram embora sem sequer se despedir. Eles só o trocaram por outras pessoas. Melhores. Populares. Bonitas.

— Tudo bem, é só uma crise... é só ignorar... eles te amam... só estão ocupados... — sussurrou apertando a bainha da camisa que usava.

⚠️

Ele passou direto pelo espelho e foi até o banheiro.

Lavou o rosto. Suas mãos estavam trêmulas.

Quanto mais lavava, mais lágrimas desciam.

Respirou fundo. Contou até 50. Tentou silenciar os pensamentos.

Saiu do banheiro. Tomou um calmante e deitou-se na cama, ligou a TV e colocou na sua série preferida. Se cobriu com o cobertor roxo, que havia ganhado de presente de sua irmã, no ano passado.

Ainda soluçava, quando um pensamento lhe ocorreu.

Se eu escrever uma carta, desabafando, eu me sentiria melhor?

Levantou-se da cama e pegou um caderno que não era utilizado há tempos.

"Oi?

Eu queria apenas desabafar, isto não é para ninguém especial, apenas uma carta aberta.

As coisas estão difíceis ultimamente, acontecem algumas crises que não consigo controlar. É apenas aterrorizante, pois em alguns momentos, eu realmente acredito que não voltarei a respirar ou pensar claramente. Sinto como se estivesse enlouquecendo.

Espero que melhore em breve, não sei mais o que fazer para melhorar isso. Me sinto inútil por não saber lidar com essa bobagem, minha mãe sentiria vergonha do que me tornei.

Jiang Cheng.

20/12/2021"

Destacou a folha, colocou em um envelope e lacrou. Voltou para a cama e continuou assistindo a série. Dois personagens brigavam pela mocinha pobre e com a vida fodida.

— Que merda, quando eu mudei de canal? — desligou e tentou dormir.

Seu corpo ainda transbordando adrenalina, o fazendo ficar agitado e com pensamentos invasivos.

Ele começou a imaginar o que aconteceria se ele fizesse parte de alguma série sobrenatural onde teria poderes.

Um pouco antes da meia noite, ele adormeceu. Seus sonhos variavam entre a família, professores ficando loucos, Wuxian se jogando da ponte e cidades de cupcake.

*******

Hello, td bom?

Gostaram?

Cartas A NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora