Para o outro lado

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O movimento dos carros na avenida, pessoas indo e vindo pelas calçadas, uma ratazana passa muito rápida saída daquela pilha de lixo.
É domingo, a circulação está bem menor, de certo as pessoas estão em suas casas assistindo tv, consumindo a vida dos famosos naquelas entrevistas superficiais dos programas dominicais, mergulhar na vida alheia faz o telespectador esquecer a sua própria, e talvez assim, anestesiado ele fantasia feliz de que tudo é como deve ser, o artista de riso amarelo ditando comportamento para aqueles que os admiram... Mas, lá fora as ruas não estão desertas, o sol já se pôs, a escuridão da noite se faz presente e os ratos devoram aquele resto de frango que ficou na ossada e descartada após o almoço e colocado em sacos pretos nas calçadas.
Vou caminhando para o supermercado, meu pensamento focado nas angústia da minha existência, o custo de vida na cidade é realmente de matar. Na mesma calçada que eu, um ilustre pedestre se mostra agitado e pensativo, ele está querendo atravessar para o outro lado: para onde ele está indo? Eu me pergunto em silêncio, e então fico o observando.
Ele olha para os dois lados, faz um movimento como se fosse arriscar, mas hesita, de certo mostra ter muita prudência, mesmo com menos carros, não vale a pena se acidentar e talvez até perder a vida e ficar ali, sozinho no asfalto que a essa altura já deve estar frio.
Um homem se aproxima e percebe a intenção daquele pequeno ser, mas parece ignora-lo, e eu continuo observando a cena querendo saber o desfecho daquela aventura, os carros estão vindo ao longe, e uma lacuna no espaço tempo propicia um momento para a travessia e o homem não hesita, adentra a avenida e vai ao seu objetivo, porém, logo percebe que o cachorro continua em dúvida, parado na calçada. Eu já me aproximei e agora estou ao lado deles. O homem o chama: "vem!". Sinaliza com a mão, e o cachorro sorri, se enche de confiança e vai, alinha seus passos junto daquele humano e chegam juntos ao outro lado. Eu que já tinha diminuído meus passos curiosa pra ver o que ia acontecer com o doguinho, não contenho o sorriso e testemunho o homem pegar o caminho da direita e o cachorro agradecido indo para esquerda feliz e abanando o rabo.
Para onde ele está indo?
E assim, entro no supermercado, pensativa...
Todos querem chegar a algum lugar, todos estão sempre indo, mas para onde eles vão? Para onde eu vou?

Para o outro ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora