Capítulo 1

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— Pegamos você, Falcão. Finalmente. – A voz rouca e firme ditou, em tom de escárnio e um sorriso ladino. Feliz por sua vitória.

Dor.

Era quase insuportável os choques de alta voltagem, os socos desferidos contra sua pele e os cortes em seu abdômen, causados pelos anéis afiados nos dedos dos quatro capangas à sua volta.

Suspenso no teto com correntes feitas de aço, Sam se recusava a render gritos de dor ou choros de agonia. Se mantinha firme, o sorriso debochado e fraco no rosto ensanguentado, permanecendo esperançoso de que, pelo menos sua família e ele estariam à salvo.

Há dois dias fora sequestrado pelos alvos de sua missão, ao tentar resgatar vítimas de tráfico humano. Notou que não lidaria com simples homens mal armados e com pouca técnica de luta. Foi atraído pelo seu bom coração e senso de justiça ao seu martírio lento e doloroso, que durava mais de quarenta e oito horas. Não reconhecia aqueles rostos mal encarados, alguns rindo satisfeitos por estar ali preso, realmente não ligava para eles, apenas deixou de resistir quando ouviu por meio de um celular sua irmã e seus sobrinhos na presença de um dos encapetados, como denominou.

Oras, eles eram feios e carrancudos.

Sabia que Bucky estava a sua procura, ah, aquele homem era insano. Em seus dois dias encarcerado, só conseguiu lembrar de como sentia falta dos abraços quentes e dos beijos carinhosos despejados em seus lábios, o relacionamento sigiloso e confortável de ambos que surgiu há dois anos atrás. Foi lento e demorado conquistar aquele rabugento, o fazer enxergar que, apesar do seu passado sombrio, Sam estaria ali para o acolher durante seus pesadelos nas madrugadas, até que eles sumissem de vez. Sempre que ele olhava para o nada, lembrando da dor que causou, Sam o abraçava por trás carinhosamente e beijava a nuca cheirosa, sussurrando que o amava, então ele se virava de frente para si e respondia:

— Se isso é para me deixar mais apaixonado, saiba que conseguiu, assim como todas as trezentas e cinquenta vezes.

— Esse é o tempo que estamos juntos, você contou todos os dias?

— Eu conto todas as vezes que eu sinto te amar mais a cada dia que passa, Sam Wilson.

Se permitiu até mesmo sorrir um tanto bobo pela lembrança calorosa de um ano atrás, sentindo as borboletas no estômago apenas por lembrar daquela voz grossa e calma e o olhar azul fixado aos seus castanhos.

"Até quando estou perto de morrer você me deixa desconcertado, seu paspalho", pensou.

Claro que nem todo dia era assim, aliás, estamos falando de Sam e Bucky. Intrigas e discussões idiotas fazem parte dessa dinâmica. Como a vez que, Bucky trouxe um cachorrinho filhote para o apartamento de ambos.

— Merda, Barnes! Não podemos cuidar de um cachorro, já falamos disso tantas vezes.

Bucky ergueu os olhos quase inocentes para Sam, enquanto embalava o filhotinho de poucos meses em seu colo.

— Eu o achei na rua, estava chovendo e fazendo muito frio, o Dobby estava com fome...

— Está fazendo um sol do caramba lá fora e um calor maior ainda, seu besta. — Disse entredentes, quase arrancando os cabelos que já não tinha em frustração, porque para piorar, o cachorrinho até era fofo e...— Você já deu um nome pra ele? Sério? Dobby?!

Viu ele dar de ombros e desviar o olhar para esconder a vergonha, apesar do rosto de manter firme para argumentos.

— Eu assisti Harry Potter esses dias com seus sobrinhos, achei legal.

Assim que voltou a olhar para o homem a sua frente, o notou de costas, coçando a nuca e se perguntando entre resmungos baixos coisas como:

— Onde eu estava com a cabeça quando pedi esse velhote em namoro?

Evidence || SambuckyOnde histórias criam vida. Descubra agora