Capítulo 2

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Sem resposta. Um pequeno sorriso ainda banhava os lábios rosados enquanto seu parceiro desaparecia atrás das portas da ambulância, foi aí que aquele mesmo sorriso se amarelou e o homem voltou para o carro, estacionado de frente onde antes seu namorado estava encarcerado, a vista fixa mas os pensamentos vagando longe.

Ambas as mãos de Bucky pousaram sob a figura circular do volante, alguns dedos tamborilavam no couro – Principalmente os polegares; Estava ansioso.
A cabeça de Bucky gritava consigo mesmo e, antes fosse por algo simples, mas não hoje.

O quão idiota fora perante toda aquela situação conturbada era algo que ele não conseguia entender. Achava o que? Que receberia uma resposta imediata? Afinal, situação cuja ele mesmo poderia ter evitado se tivesse insistido um pouco mais em Sam.

"Merda, James", sibilou ao bater no volante com sua mão humana, controlando sua força, mas ainda descontando um pouco de suas emoções ali.

Raiva, frustração, ansiedade, o tormento frequente daquele homem que colocava a chave na ignição, dando partida para dirigir até o hospital onde Sam havia sido encaminhado. Não sabia como encará-lo, mas uma hora teria que fazê-lo e tinha plena consciência disso.

O terror de perder seu parceiro dançava entre seus pensamentos que uma vez mais haviam se tornado melancólicos. Bucky não sabia quando tinha começado a ser tão assim, tão... sentimental.
Talvez negasse para si mesmo, ele sabia exatamente o motivo mas nunca admitiria isso em voz alta para ninguém mais e ninguém menos do que o Wilson, o causador de suas mudanças.

O mulherengo que existia no passado havia morrido congelado juntamente com suas memórias, aparentemente. Nunca em sua vida toda ele pensava em unir-se a alguém, ele não lembrava a primeira vez que havia se apaixonado, havia amado.
Sua sexualidade foi uma descoberta depois de ser salvo da organização nazista, agora seus sentimentos também foram descobertos, afinal, ele sentia, ele amava, ele enxergava apenas seu homem dentre outras inúmeras pessoas.

Há um ano e meio, em uma de suas perdas de sono da madrugada ele obteve sua resposta ao mover-se na cama e perceber que seu tronco estava envolto pelos braços negros de seu parceiro. O rosto tranquilo, ressonando baixinho, com a respiração quente próxima de si. Era isso. Sam Wilson era seu primeiro amor.

Ele aprendeu e evoluiu com o moreno, aprendeu a sentir e a amar. Apesar de, por anos, sua memória ser danificada, apagada e restabelecida todas as vezes que cumpria suas missões, mesmo que hoje em dia ele tenha lembranças falhas, ele era extremamente orgulhoso por memorizar tudo o que passava com Sam, todas as sensações para si. Ao lembrar, o faziam se sentir vivo, como se fossem palpáveis logo a sua frente.

Mas ele jamais admitiria isso, preferia muito mais manter sua carranca do que assumir que em sua cabeça só havia um certo moreno pairando por ali, bagunçando seus pensamentos e lhe dando as tais' "borboletas na barriga", essas que custaram muito para Sam lhe explicar o sentido da frase.

— Como assim você comeu borboletas!? E pior ainda! Como elas ainda estão vivas em você?

— Você mantém elas vivas – Mexeu as sobrancelhas num tom galanteador, mas só recebeu um arquear de uma delas do moreno. — Ah, qual é, Bucky!

Lembrar disso ainda lhe fez sorrir enquanto dirigia.
As ruas estavam vazias ainda, era um começo do dia, o sol não havia nascido há muito tempo, o frio da manhã ainda se fazia presente mas ao parar em um sinal vermelho observou algumas pessoas correndo no parque, mais um gatilho para o Soldado.

— Vai, levanta! – Sam o puxava pela mão de vibranium, não tendo muito sucesso para tirar o homem da cama.

— Para que? Está tão cedo e tão frio! – O mais velho retrucou enquanto franzia o cenho, mesmo ainda de olhos fechados.

De pé, ao lado da cama, Sam sofria internamente ao ver o namorado agarrar as cobertas que tinha acabado de puxar.

— Você prometeu que iria correr comigo hoje! – Cruzou os braços, tentando conter o riso ao notar o rosto inchado pelo sono e a feição emburrada do outro, vendo ele se sentar na cama na maior lerdeza que jamais em sua vida achava que presenciaria no corpo de Bucky.

— Se eu for, nós vamos voltar depois para ficar enrolados na coberta para assistir vários filmes! – Tentou intimidar o outro com um olhar e até Sam entrou numa farsa, já que aquela cena era mais fofa do que amedrontadora.

— Certo, certo, eu me rendo. Você venceu, doce. – Levantou as mãos em rendição e o namorado logo em seguida deixou as cobertas de lado, indo se trocar,

Apenas despertou de seu transe quando um carro buzinou atrás de si, as pessoas que antes observava já nem estavam mais ali. Quanto tempo passou vagando nas próprias memórias?

De fato, pensar em Sam era algo que deixava James confortável, até demais. Sua vida ao lado do homem era assim. Sam o domava, era quem o acalmava nas noites de tormenta e o protegia de seus próprios pensamentos, era quem cuidava de si e acendia o chama em seu corpo, era quem domesticava o lobo em seu corpo, era seu dono. Exatamente, Bucky pertencia a Sam e assim seria, afinal, não havia outro lugar que o Soldado gostaria de estar se não fosse nos braços de seu amado.

E era para lá que ele esperava ir. Caminhando com a ansiedade lhe fazendo uma nova visita na área de hospedagem hospitalar, já havia confirmado o quarto e ao ver a silhueta de uma mulher saindo de seu destino final ele teve ainda mais certeza. Sarah era quem ele encontrava ali, provavelmente havia chego antes por ser a parente próxima de seu namorado. Mas naquele encontro, ela apertou seu braço de forma calorosa, o olhando levemente. Ela nada disse e assim se foi na direção contrária a sua, dando a chance para que entrasse no quarto.

O silêncio ali reinava, com Sam em paz e aparentemente descansando ele tomou a iniciativa de colocar-se de pé ao lado da cama, vendo que naquele momento os olhos escuros se entreabriam, fitando ele enquanto os lábios murmuravam algo.

Inaudível. Mas o de pele alva não desistiria. O afeto lhe fez deslizar as falanges para a mão negra, cerrada em punho, enquanto seu rosto se aproximava do de seu amado. Mas foi tudo muito rápido.

O resvalo rápido no gélido, metálico, circular, seu dedo se encaixava ali, assim como a palavra encaixava-se em seu ouvido, proferida pela voz que tanto amava absorver para si.

— Sim.

Evidence || SambuckyOnde histórias criam vida. Descubra agora