4- Amar não é suficiente

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Já se iam duas semanas desde a viagem. Era como se devagar elas estivessem achando um ritmo de levar a vida daquele jeito, não sem muito baterem de frente, é claro. Mas qualquer discordância entre elas sempre acabava na cama, confirmando que não conseguiriam mais viver afastadas.

Rosamaria e Caroline jogavam no Minas enquanto Ariele jogava a temporada pelo Praia. Os dois times eram rivais declarados e se já não era fácil conciliar um relacionamento comum com a rotina de jogadoras, imagine agora.

Rosa relutava todo dia em assumir que algo sério poderia acontecer ali. Se esquivava a todo custo, mesmo que sua vontade mais íntima agora fosse estacionar de mala e tudo naquele apartamento. Ela sempre foi uma alma livre, acostumada com amores que duravam no máximo uma semana.

Amores rasos, em que o único frio na barriga que ela sentia era o da adrenalina da conquista... Ela nem conseguia mais chamar aquilo de amor. Era ela quem estava sendo conquistada agora e aquilo era irônico e assustador, além de diferente de tudo que ela havia vivido.

Via as coisas se estreitando entre as três a cada dia e cada vez mais beirava o desespero. Ela já tinha uma gaveta com roupas no armário das duas, sabia os horários de dar comida pra cachorra e até o jeito certo de apertar o botão do controle com defeito pra TV ligar. Tudo isso só lhe dizia que precisava correr imediatamente, mas ela não conseguia.

— Eu não sei por que você não vem logo morar com a gente. - Caroline reclamou. 

Era uma sexta-feira e no sábado, Rosa deu logo jeito de dizer que ia para a casa de Naiane. Obviamente, as duas não gostaram nem um pouco. A fuga de Rosa estava lhes tirando do sério.

— Caroline, tem só duas semanas. Você jura que eu vou largar tudo e vir morar aqui? Deus me defenderay. É pedir pra dar tudo errado. - Respondeu, enquanto fazia a mochila com as roupas que ainda estavam ali.

— A gente começou a morar juntas com uma semana e estamos ótimas. - Argumentou Ariele, mas Rosa lhe fitou como quem dizia "pra cima de mim?".

— Quantas vezes vocês já terminaram e voltaram desde que começaram a namorar, mesmo? - Perguntou, deixando-a sem fala. – Perdeu a conta, né?

— Então vai, Rosamaria. Vai pra puta que pariu, vai pra onde você quiser, tô nem aí. - Ariele disparou, saindo do quarto batendo os pés. Seu temperamento era sempre explosivo.

— Viu o que você fez? - Disse Carol, em tom de bronca.

— Eu?! Eu só falei a verdade, você sabe que eu sou sincera. - Rosa se defendeu, mas o desespero de talvez ter magoado Ariele já começava a bater.

— Vamos logo atrás dela, depois você pode ir pra onde quiser. Mas primeiro, conserte a merda que fez. - A mais velha falou, tirando a mochila de suas mãos.

Ao chegarem na sala, se depararam com uma Ariele de cara fechada, sentada no sofá tentando ligar a TV, sem sucesso.

— Merda de controle! Caroline, porque caralho você ainda não mandou arrumar essa porcaria?! - Disse, visivelmente irritada. E não era com o controle.

— Vai sobrar pra mim? - Disse a mais velha, recebendo um olhar mortal. - Eu vou levar amanhã pra arrumar, prometo.

— Me dá que eu ligo pra você. - Pediu Rosa, estendendo a mão, mas recebeu apenas um olhar de desdém em resposta.

— Ainda não foi? - Perguntou Ariele, fria como gelo.

— Pra puta que pariu? Não. - Respondeu, em tom de riso, mas a outra nem se abalou, agora fitando a TV e tentando ligá-la.

— Amor, vem cá. As duas. - Chamou, sentando ao lado da mais nova e batendo ao seu lado para que Gattaz se aproximasse. Ainda tentou puxá-la para o seu colo, mas Ariele se esquivou de pura birra. Ela riu.

Love is an odd number [Rosattariele]Onde histórias criam vida. Descubra agora