O maldito pudim de natal - parte um

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Eu estou muito feliz

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Eu estou muito feliz. Acho que sou a pessoa mais feliz dentro desse carro quando chegamos na charmosa casa de praia, toda decorada com cascatas feitas de festão verde e várias bolas de natal coloridas. Para mim, esse lugar parece o paraíso.

Desde muito nova eu já era obcecada com o natal, tipo o Jack de O estranho mundo de jack. Sério, eu sei todas as músicas de natal possíveis e começo a comprar minhas decorações em setembro. Apesar das falas da minha mãe, todo mundo sabe que as árvores de natal ficam muito mais baratas alguns meses antes. É senso comum.

Herdei isso do meu pai, que sempre me levava para ver as luzes na praça em frente a nossa casa na noite de natal, sempre dizendo: "Alana, as estrelas no céu são as luzinhas pisca-pisca dos alienígenas, mas muito maiores e mais brilhantes." E eu nunca entendia o que ele queria dizer.

Mas passei a entender quando fui fazer intercâmbio no Canadá. Longe de casa, de tudo, passei quatro natais completamente sozinha encarando uma arvorezinha daquelas de plástico brilhante e desejando estar em casa, com a barriga cheia de panetone de frutas secas e sentindo cheiro de churrasco, ouvindo a risada do meu pai. Foi um tempo mágico passar esses anos fora do Brasil, mas é muito mais mágico estar aqui, agora, suando no banco de trás do carro dos meus pais animada feito criança em loja de doces.

Mais fatos sobre mim? Nunca me dei bem com países gelados, pessoas resmungonas e desorganização. Amo muito organizar meus sapatos boneca por cor, me dá paz. O que me dá mais paz ainda é pintar o cabelo. Sério, o pobre coitado anda pedindo socorro com um megafone, não tem um minuto de paz. Nos últimos vinte e quatro anos ele já foi rosa, azul, preto, platinado, laranja (por um descuido meu, deixei o descolorido sem matizar uma semana e acordei na segunda parecendo o curupira), verde e agora está parado no vermelho berrante. Provavelmente vou sair do cabeleireiro da próxima vez com o cabelo em arco-íris. Uma ótima idéia, inclusive.

Meu pai para o carro perto da entrada, onde outros dois carros estão parados.

— Chegamos, docinhos. — Nós três tiramos nossos cintos de segurança ao mesmo tempo. Me enfio entre os dois bancos da frente para infernizar minha mãe.

— Espero que a Bisa tenha feito o pudim de natal. Estou esperando a três anos para comer aquele pudim — digo, imaginando uma fatia bem grande de creme branco consistente com frutas secas, morangos e pêssego em calda com um fio de caramelo deslizando pelo garfo até chegar na minha boca.

A receita de pudim de natal da Bisa Carmem é a coisa mais antiga na família junto com ela. Foi ensinada a ela pela mãe do meu bisavô, e desde então ela fazia várias formas enormes e redondas e várias canecas de caramelo amarelo feito ouro. Quando ela encarava a ceia de natal da família, sempre ria e dizia "Mesmo sob sete palmos de terra aquele cuglione me faz fazer esse pudim maldito" com o maior afeto do mundo.

— Ah, e eu te avisei, Alana? — Pergunta minha mãe, tirando a bolsa do chão. Estou ocupada desconectando meu celular do suporte para o GPS, mas me viro para ela.

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