— Desculpa, o quê? — Demoro a assimilar o que ele disse. — Por que diabos você ia me dar um presente tão significativo?
— Eu estou esperando a malditos quatro anos para te contar isso, Alana, pode deixar as perguntas para depois. — Matteo está visivelmente abalado, e eu não entendo o motivo. Espera, eu não era a louca apaixonada aqui? Quando esses papéis se inverteram? E, pior ainda, por que ele me contou isso justo na fila do supermercado?
— Quatro anos? Vem cá, você não conhece uma coisa chamada "whatsapp" não? Ou, sei lá, a dm do instagram? Que coisa, precisar falar tudo pessoalmente... — Estou resmungando enquanto olho em volta. É claro que esse tipo de coisa ia acontecer justamente comigo.
Sempre fui uma romântica incorrigível. Toda essa coisa de amor platônico, a primeira vista, eu sempre amei a idéia de me apaixonar. E é por isso que eu sempre me prendi atrás das páginas dos livros e das telas do cinema... o amor sempre machuca um dos lados. Pior ainda, o amor platônico sempre deixa você em destroços, caquinhos de vidro que não grudam juntos sem te cortar.
Sou apaixonada pelo Matteo desde que nossos dentes de leite caíram. E eu falei alguma coisa quando chegamos na adolescência? óbvio que não. Nunca tive coragem ou atitude suficientes para espantar o medo da rejeição.
Consigo ouvir a voz no fundo da minha cabeça. Ela está dizendo uma frase que eu sempre escuto quando assisto Ritmo quente.
Viver com medo é viver pela metade.
— No que você está pensando? — Matteo me tira dos meus devaneios.
— Oi? — Pergunto.
Sua testa se franze novamente.
— Não ouviu nada do que eu disse?
— E você disse alguma coisa? — Tá bom, eu fiquei mais perdida do que eu achei que estava.
— Deixa para lá. O importante é que o presente foi útil, afinal. — Ele leva os dedos ao colar que nunca sai do meu pescoço. Olho para baixo e solto um sorriso aliviado.
— É, foi mesmo. Muito obrigada, aliás — Digo, tentando fazer o clima terrível passar. — Desculpa pelo surto.
Sem aviso, Matteo passa um braço pela minha cintura e me aperta contra si, presa entre seus braços fortes e o carrinho de compras. Sinto seus lábios passando na minha têmpora e solto um suspiro. Se algum dia eu sonhei com isso, se parece com uma sombra do que realmente está acontecendo. Não consigo controlar o tremor em meu coração.
— Por que não me contou na manhã de natal? — Pergunto quando ele encosta o queixo em meu ombro.
Eu sempre tive uma ligação esquisita com esse colar. Ele é simples, uma rosa prateada pendendo de um cordão de prata. Em alguns dias, os piores dos piores, eu segurava esse colar e imaginava que eu estava em casa, confortavelmente passando calor no meu quarto com ar condicionado ferrado.
— Fiquei com medo de ser rejeitado, não sei. — Ele diz, mais baixo ainda. Me viro em seus braços para o encarar.
— Medo de ser rejeitado? Bem, temos um impasse aqui, então. — Preciso falar sobre isso. Se eu não falar para ele agora, posso perder toda a minha coragem (spoiler: minha coragem é bem pouca).
Ele me olha, confuso.
— Impasse? Por que?
Começo a traçar o padrão de folhas de sua camisa com a ponta do dedo, já ficando com vergonha.
— Pelo que eu me lembre, eu era a que tinha medo de rejeição. — Do nada, as palavras parecem virar fumaça na minha cabeça. Mas ainda consigo ouvir, no fundo da minha cabeça, aquela frase ridícula.
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Em outro natal
RomanceOBRA REGISTRADA - PLÁGIO É CRIME (LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.:Art. 1º Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos.) (Conto do livro em andamento "Mais uma vez"...