Destilado de amargura

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Ishtar, reino de Vênus

Desmond poderia dizer muitas coisas daquele reino, poderia xingar aquelas pessoas de muitas nomes por todas as suas frustrações ao longo dos anos por nunca ter tido uma chance satisfatória de expandir seus negócios, mas jamais diria estar impressionado de maneira positiva sobre ninguém naquele lugar. E ali estava ele, olhando para Arim, e surpreso positivamente com o conselheiro enquanto ambos caminhavam para longe da prisão de Vênus.

Havia planejado pelo menos quatro opções para sair da cela, duas delas de maneira mais discreta, outras duas chamativas o suficiente para fazer a ocasião ser memorável. Não que fosse o mais extravagante, mas Desmond apreciava boas entradas e saídas. E ver Arim simplesmente o empurrando para fora da cela não fazia parte de nenhuma das opções possíveis.

— O que? — Arim resmungou, parou de caminhar e virou o rosto para Desmond.

Pela localização dos dois, estavam a uma distância curta da cidade. Até onde os guardas sabiam, Desmond deveria estar dentro da cela, e se alguém da cidade perguntasse, Arim estava apenas movendo o prisioneiro para o local de execução. Felizmente não adentrariam a cidade, precisariam dar a volta, e Arim fazia questão de levá-lo pessoalmente até a área menos vigiada da fronteira. Em algum ponto daquele caminho, o espírito de Arim havia pulado para o ombro de Desmond, e o homem parecia bem entretido ao fazer carinho na criaturinha.

— Você me tira de lá sem dizer uma palavra além daquele "anda" e ainda pergunta isso? — Desmond ergueu uma sobrancelha.

— Você sairia de lá de qualquer jeito — Arim retrucou, franzindo a testa e movendo os ombros.

— E você seria o último a facilitar qualquer coisa pra mim. — Desmond ergueu o queixo e cruzou os braços, encarando Arim, e pode notar do conselheiro trincar os dentes em resposta.

— Não ache que estou feliz em fazer isso, eu odeio você — Arim comentou, apontou um dedo na direção de Desmond e deu um passo na direção do jupiteriano. Arim encostou o dedo no peito de Desmond para dar ênfase na própria fala, encarando-o de volta e também mantendo o queixo erguido. — Mas já vamos ter despesas demais reconstruindo a cidade, não quero acrescentar a prisão como mais um gasto.

A diferença de altura entre eles tornou a reação de Arim ainda mais adorável na visão de Desmond, este que abriu um sorriso sutil e sugestivo. O espírito esverdeado pulou de volta para os ombros do dono como se estivesse apenas passando o tempo ao alternar entre os dois.

— Aprecio a preocupação. Alguém já te falou que é atraente quando está puto com alguma coisa? — Desmond perguntou, calmamente.

Arim ergueu as sobrancelhas, surpreso. Não pelo elogio, mas pela audácia. Abriu a boca para falar algo, mas logo a fechou, dando lugar para uma careta confusa de quem estava prestes a bater em Desmond.

— Alguém já te falou como você é insuportável?

— Você, várias vezes.

— Ótimo. — Arim ergueu as sobrancelhas por uma fração de segundo, ironicamente, e manteve o olhar erguido como se houvesse uma competição interna de quem sustentaria por mais tempo. O tom sério de sua voz apenas reafirmava sua fala.

O silêncio entre eles de forma alguma foi vazio. Arim ainda queria muito estapear Desmond, e este apreciou bastante a proximidade física entre eles. Inúmeras formas de como esganar Desmond passavam pela mente do conselheiro, e ele não conseguia eleger alguma mais aceitável ou digna, todas soavam simples demais.

O espírito voltou a pular nos ombros de Desmond, entretido consigo mesmo.

— Como eu disse, atraente — Desmond concluiu, falando baixo e firme o suficiente para Arim escutar.

Depois da AlvoradaOnde histórias criam vida. Descubra agora