É HOJE! O dia mais esperado da minha vida chegou, 8 de fevereiro, hoje eu completo 18 anos. Eu espero esse momento desde que cheguei nesse lugar, há quatorze anos, quando me deixaram em uma biblioteca apenas com um bilhete escrito meu nome, Flora.
Eu acordei com o lindo céu de Brasília e nossa como o dia estava quente, hoje é dia de café da manhã surpresa e a Isabela, pera cadê a Isa? Eu esperava que ela aparecesse com um grito e me lembrando que o grande dia chegou, não que eu me importe, mas é melhor checar se ela está bem.
- Isa, Isa, ISA? Ah! Que susto - grito mais fino do que esperava, mas tudo bem.
- Você achou que eu tinha esquecido né? - Lá estava ela com um
uma embalagem na mão e um sorriso.- Achei que tinha ido para o refeitório sem mim- digo fazendo um bico exagerado.
-Para sua boba, você sabe que eu sempre te espero. Abre seu presente, porque eu quero tomar café da manhã logo porque hoje é surpresa, lembra?- Diz a Iza super eufórica.
-É claro, a nossa querida monitora não deixa ninguém esquecer- a Érica é um tanto irritante às vezes.
A Isa está me olhando com aquela cara de impaciente, que na verdade é muito fofo e eu acabo soltando um sorriso de canto. Enquanto abro o presente lembro de como ela foi importante para mim desde que cheguei no orfanato, ela é um ano mais nova, mas com certeza é mais madura e estável e se não fosse ela eu não teria conseguido chegar até aqui, ela é minha pessoa favorita.
-Uou, isso é uma bússola? Pera o que tem aqui embaixo, AHHHHHHH isso é oque eu estou pensando?
- É sim, abre logo- diz Isa visivelmente ansiosa.
- O moletom da grifinória, eu amei - Corro e dou um abraço nela e não quero mais soltar porque não é só sobre o presente, mas é porque ela é a minha família e nunca me abandonou, diferentemente dos meus pais que me largaram, mas agora eu vou poder ir atrás da verdade.
-Que bom que você que você gostou, eu sabia que iria gostar ainda mais depois que você maratonou Harry Potter pela décima vez final de semana passado.
-É verdade, Harry Potter é um estilo de vida e eu ainda vou fazer você assistir.
-Um dia talvez - diz ela enquanto caminhamos até o refeitório.
Eu conheço todo mundo do orfanato e a maioria gosta de mim, tirando algumas crianças que posso ter irritado e pregado algumas peças, mas em minha defesa elas que começaram eu só revidei. Eu não lembro de muita coisa de antes de me levarem para o orfanato, eu tinha 4 anos, mas parece que minha memória foi apagada ou bloqueada, o máximo que eu lembro é de um homem esquisito e a polícia me levando até a diretora do orfanato. Eu venho pensando nisso há anos e mesmo assim não faz sentido, tipo porque me deixaram com um bilhete escrito meu nome e qual é o motivo da minha amnésia dos únicos 4 anos que deveriam ser minhas únicas lembranças dos meus pais... Bom, acho que vaguei em meus pensamentos de novo e agora já chegamos no refeitório.
-PARABÉNS!!!!! -Um grito em harmonia de todos os que estavam no refeitório
-Obrigada pessoal.- Digo antes que comecem os discursos, esse dia é confuso porque foi o dia que eu cheguei aqui, então só tem esse registro sobre mim.
- Qual a primeira coisa que você vai fazer agora que você é maior de idade, querida Flora? - Fala a monitora Érica com sua voz levemente rouca e seus cabelos pretos enrolados.
-Você já sabe, já te falei isso algumas várias vezes, vou sair no fim da tarde e ir até o centro onde eu aluguei um apartamento com o salário da lanchonete da Sheila, o lugar que passei incontáveis horas nos últimos 4 anos
.-Você sabe que pode ficar aqui por quanto tempo quiser, né? -Fala ela com aquele tom maternal que eu confesso que sentirei falta.
-Eu falei isso para ela, mas você sabe como essa menina é cabeça dura. -Diz Isa brincando mas eu sei que ela está triste por eu estar indo embora e não quer falar nada porque ela sabe que eu preciso ir.
-Gente assim parece que eu vou morrer, eu sempre vou vir visitar vocês estamos na era da tecnologia é só me ligar- digo tentando cortar o clima.
-Está bom, eu sei disso, mas você sabe como é meu instinto materno... - Diz antes de ser interrompida pela Dona Ana.
-Agora sem mais delongas eu apresento a vocês o café da manhã especial semanal é cuscuz com recheios especiais - Chega à dona Ana com a comida e no momento certo. Uou eu estou realmente surpresa e feliz de aquele ser o meu último café da manhã com as pessoas que foram minha família por todos esses anos.
-Oba! -Isso foi uma reação coletiva antes de todos atacarem o cuscuz até porque quem não ama cuscuz.
Depois que terminamos de comer eu e a Isa fomos para nosso lugar secreto, uma cabana que fizemos embaixo de uma árvore.
-Lembra de quando construímos esse lugar. -Ela fala com uma voz de choro que me deixa triste.
-É claro, como esquecer as 10 horas que levamos para conseguir lonas, madeira e construir nossa fortaleza - Ela chega mais perto e coloca a testa junto à minha.
-Ei não fica assim por favor, você sempre será minha pessoa e eu sempre estarei com você e é por isso que quero te dar esse colar com minha foto, eu sei que é brega, mas é de... -Ela não me deixa terminar e me abraça forte - Ela foi se desvencilhando devagar e parou bem perto do meu rosto.
-Me atualiza de tudo ok, sempre. -Ela me beija suavemente na testa depois de colocar o colar e ela só faz isso quando está com medo, porque só nós duas sabemos que essa não é uma despedida normal e nem uma jornada muito "comum".
No final nos deitamos uma do lado da outra em nossa humilde barraca. Infelizmente como diz o ditado tudo que é bom dura pouco e a gente precisa conversar sobre umas coisas sérias, porque meio que eu não falei toda a verdade.
-Você entendeu sua última visão, aquela que você caia na água e andava sobre ela. -A Isa fala com um tom de deboche- Há e o fato de você fazer uma onda com as mãos.
-Tirando a parte que eu fiquei andando na água, eu não tenho ideia do que significa e muito menos porque eu controlei a água, mas pode ser influência do Último mestre do ar, aquele filme que o menino tem uma seta na cabeça - instantaneamente ela solta uma risada escandalosa que me faz rir também.
- Não é sério, se concentra a gente não sabe de muito, mas eu tenho quase certeza de que seus pais não são normais, muito menos suas visões e ainda tem aquela lenda de um universo paralelo onde as pessoas controlam os elementos.
- Eu sei, mas eu só quero aproveitar essas últimas horas com você - eu digo, mas sei que ela tem razão, eu tenho essas visões desde que cheguei aqui e a maioria é bem parecida e muito estranha- eu só quero ficar aqui conversando um pouco, tá bom? -ela concorda com a cabeça.
Nós passamos o resto da tarde conversando sobre coisas aleatórias, esperando o tempo passar.
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DE VOLTA AO LAR
FantasyFlora, uma menina de cabelos brancos e ondulados com olhos azuis tão claros que hipnotizam, diante do lindo contraste da sua pele negra. Ela foi deixada em uma biblioteca com 4 anos, apenas com seu nome em um bilhete, mas nada naquela noite e os so...