capitulo 1

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As minhas pernas estremeciam por baixo da mesa, assim como as minhas mãos. A minha caneta parecia ganhar vida com as vezes incontáveis em que já a havia deixado cair. Podia sentir o sangue escaldante a querer escapar das minhas bochechas.

-Faltam cinco minutos para a aula terminar. – O professor Martins alertou.

Cinco minutos para acabar o teste, quinze minutos para chegar a casa e vinte minutos para arrumar e fazer o jantar.

-Pssst! Ei, tu! – Ouvi alguém chamar. Não olhei.

- Ei, tu! – Ouvi mais uma vez. Olhei discretamente para o meu lado esquerdo.

- O que é que tu queres? – Respondi friamente após ter percebido que o rapaz me chamava a mim.

- Empresta-me uma caneta. – Olhou para mim com um ar aflito. – Por favor, a minha acabou. – Prosseguiu ele. Vasculhei o meu estojo e estendi-lhe a última caneta que me restava.

Tinha menos de cinco minutos para me voltar a concentrar e terminar o teste. Cada segundo era importante, não podia desperdiçar tempo.

- Obrigado. – Agradeceu. Continuei a escrever, mas o som dos ponteiros do relógio causava-me cada vez mais ansiedade.

-Acabou o tempo. – Anunciou o Senhor Martins. Respirei fundo, aliviada por ter conseguido concluir todas as respostas. Peguei na mochila colocando-a apenas por uma alça ao ombro e sai apressadamente da sala.

- Melody! – Ashley chamou por mim quando eu já me encontrava a meio do corredor da escola.

-Agora não posso. Depois falamos. – Dirijo-lhe o meu melhor sorriso apesar deste não ter saído como esperava.

-Não vens conosco ao bar?- Gritou April de mão dada com Steve.

-Hoje não. Desculpem-me mais uma vez.- Pedi.

-Oh, vem lá!- As minhas melhores amigas correm até mim implorando com abraços ofegantes.

-Não posso mesmo. – Tento continuar com o passo apressado.

-Nunca podes. Tens que arranjar uma nova desculpa, essa já cansa de ouvir. – Steve intervém.

-Outro dia vou, prometo. Agora tenho mesmo que ir. Adoro-vos!

Abri a porta de casa e o meu pai levantou-se do sofá vindo em minha direção.

- Onde estiveste? – A voz dele era calma.

-Na escola. – Imobilizei à sua frente.

-E a seguir?

-Vim logo para casa.

-Então porque demoraste?

-A Ashley e a April queriam falar comigo e empataram-me, elas…- A mão carnuda marcou imediatamente o meu rosto.

-Por apenas um minuto. Um! – A minha voz demonstrava sofrimento.

-Um minuto dá para fazer muita coisa. Quando eu digo quinze minutos são quinze. Nem mais nem menos minuto.- A sua mão alcançou o meu braço fazendo com que eu me aproxima-se dele. – Com quem estiveste? – O hálito cheirava excessivamente a álcool.

-Já disse que foi com a Ashley e a April. – Murmurei.

- Mentirosa! – Senti as suas unhas cravarem o meu braço ainda pisado.

- Estás a magoar-me. – Queixei-me já com as lágrimas a quererem escapar-me dos olhos.

-Com quem estiveste? – Gritou.

-Foi só um minuto.- Quase soletrei.- Juro que foi com elas. Por favor pai.- Fechei os olhos tentando fazer com que a dor atenuasse.

-Vai arrumar. Tens quinze minutos para ter a casa limpa e o jantar pronto. –Disse com os dentes cerrados. – Ouviste bem? – Gritou e largou-me bruscamente.

-A mãe? – Tive coragem de lhe perguntar mas arrependo-me assim que vejo a sua expressão enfurecida e mais uma vez sinto a sua mão bofetear-me. – Que disse de mal agora? – Quase perguntei, mas não lhe dirigi mais uma palavra naquela noite.

‘’ Ele só bebeu um pouco a mais. Ele só teve um mau dia. Ele não me voltará a bater. ‘’ Pensava todos os dias.

A culpa era minha, na verdade. Se eu tivesse chegado em quinze minutos, isto não acontecia. Se eu fizesse tudo corretamente, ele não me batia.

-És uma estupida Mel. – Sussurrei para mim própria enquanto começava a preparar o jantar.

***

Levantei-me às seis da manhã. Não tinha sono apesar dos meus olhos mostrarem o contrário. Andava cerca de uma semana sem conseguir dormir.

Fiz a cama, vesti-me e preparei o pequeno almoço. Quando me preparava para dar um gole do meu chá, vejo a porta da entrada a abrir-se.

- Bom dia filha. – A minha mãe cumprimenta-me depois de fechar a porta.

- Bom dia mãe.

- Só agora é que chegaste a casa? – Ouço a voz do meu pai.

- Sim. Troquei o turno com uma colega, ela precisava.

- Não podias ter avisado? – Pega calmamente numa caneca e coloca duas colheres de café em pó diluindo com água fervida.

-Não me lembrei.

-Deves achar que sou parvo.

-O que queres dizer com isso?

-Nada. Vou trabalhar. – Saiu sem se despedir.

In The Middle Of DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora