Eram sete da manhã. A escola estava praticamente vazia. Viam-se apenas duas ou três pessoas sentadas nos bancos lá fora, e as funcionárias a correrem de um lado para o outro stressadas com a limpeza das salas. Não era costume chegar tão cedo, mas quando o ambiente em casa se torna pesado, até a escola serve como zona de conforto.
O ar estava fresco e já se viam algumas nuvens quererem cobrir o céu azul. Agradeci-me mentalmente por ter trazido um casaco.
- Mel! – Olhei para trás e avistei April aproximar-se de mim.
- Bom dia. – Cumprimentei quando ela se sentou ao meu lado.
- Bom dia. – Sorriu.
- Onde está o Steve? – Estranhei a sua ausência. Ele, habitualmente, costuma ir buscar a April de manhã para irem juntos para a escola.
- Ele hoje vem mais tarde.
- Mas passa-se alguma coisa? – A minha voz soou preocupada.
- Não. O pai precisou dele na loja, mas ele ainda chega a tempo da primeira aula. – Esboçou um sorriso.
- Ainda bem. – Um sorriso aliviado apareceu no meu rosto.
- Mel… eu preciso de falar contigo sobre uma coisa que me anda a incomodar há algum tempo. – Ela estava nervosa. Consegui perceber pela sua mudança de expressão.
- Sobre quê? – Perguntei calmamente.
- Tu…gostas do Steve?
- O quê? – Fui apanhada de surpresa. – April, eu só vejo o Steve como um grande amigo, além disso como um irmão. Não o consigo ver de outra forma. – Respondi após uns segundos de choque. Não estava mesmo nada há espera daquela pergunta. – Mas o que te levou a pensar isso?
- Porque vocês falam imenso, já se conhecem, sei lá, há anos, e às vezes sinto que existe uma certa química entre vocês os dois. Melody, tu és uma das minhas melhores amigas e eu precisava de esclarecer isto.
- Tudo bem, eu entendo. Espero que te tenha esclarecido e que não restem quaisquer dúvidas em relação a isto. Eu não to roubo, sim? – Sorri ainda que um pouco desconfortável com a situação.
Reparei no rapaz que acabara de entrar na escola e logo presumi que fosse o novo aluno da minha turma.
- Estás a olhar para onde? – April perguntou.
- Estava distraída, desculpa. – Voltei o olhar para ela.
- Espera, aquele não é o Mike? O novo rapaz que entrou para a nossa turma?
- Hm, hm. – Afirmei assentindo com a cabeça.
- Estavas a olhar para ele Mel?
- Não. – Neguei rapidamente.
- Estavas mesmo! – Ela riu-se. – Bem, ele até é girinho, mas parece um pouco solitário. Não sei se será uma boa companhia para ti. Esses são os que dão sempre mais problemas.
- April! Não comeces. Eu não estou interessada nele, olhei por mero acaso.
- Se o dizes. – Encolheu os ombros. – Então, é hoje que sais conosco? – Mudou o rumo da conversa.
- Não. Lamento, mas não posso. – Recusei mais uma vez.
- Porquê? O que se passa? Só me lembro de teres saído conosco uma única vez.
- A verdade é que… não gosto muito de sair. – Menti. - Prefiro ficar em casa a fazer as minhas coisas habituais.
- Pois, mas vais-te deixar disso. Este fim-de-semana vens conosco.
- Depois vejo.
- Não sei se percebeste, mas foi uma ordem. Nós vamos-te buscar.
- Pronto, está bem. – Disse num suspiro de derrota. Na verdade eu queria dizer ‘’ Estou feita, estou mesmo feita. ‘’
- Bom dia meus amores. – Apareceu Ashley sorridente à nossa frente.
- Bom dia. – Cumprimentamos em uníssono.
- Vocês vão ficar aí sentadas ou vão-se levantar para se irem equipar?
- Equipar? – Levantei a sobrancelha.
- Oh, pois é! – April levantou-se saltando rapidamente do banco. – Hoje temos educação física na primeira hora da manhã!
- O quê? Como assim?
- Mel? A troca? – Ashley olhou-me como se aparecessem inúmeros pontos de interrogação à sua volta e eu levantei a segunda sobrancelha para que elas percebessem que eu não sabia do que estavam a falar.
- Não ouviste a stora na última aula? Ai Mel, às vezes pergunto-me onde andas com a cabeça! – April lamentou-se.
- O que aconteceu foi que a stora de educação física trocou a aula com o stor gorila. Ou seja, hoje temos educação física em vez de Filosofia, e amanhã temos Filosofia em vez de…
- Educação física, já percebi. – Interrompi-a.
- Tens que começar a estar mais atenta. – Ashley avisou.
- Ela agora tem o olhinhos cinza na turma, é normal que se distraia. – April riu-se.
- O quem? – Ashley olhou para mim à espera de uma explicação.
- Ninguém, ela é que já está a fazer filmes. – Revirei os olhos.
***
Merda, merda, merda, merda! Não posso chegar atrasada outra vez!- Pensei enquanto esperava frustradamente na fila para sair da escola.
Quando consegui, finalmente, sair do meio daquela confusão olhei para o relógio. Tinha apenas oito minutos para estar em casa.
Oito minutos, oito minutos, oito minutos… - Ouvia na minha mente à medida que corria o melhor que conseguia.
Ouvi uma buzina tocar e segundos depois um carro preto para dois metros à minha frente. Tentei não olhar, mas uma voz alertou-me.
- Pssst, ei, tu! – Gritou e eu parei. Era ele. O Mike ou seja lá qual for o nome dele. Mais uma vez interrompeu algo que eu estava a fazer. Será que ele é sempre assim, mal educado?
- Eu tenho nome. – Cruzei os braços. – E estou com pressa.
- Eu reparei. Queres boleia? – A cara dele não parecia muito simpática. Mas será que ele nunca sorri ou coisa do género? Tem que estar sempre com aquela cara de… mauzão? Olhei para o relógio e tinha duas escolhas: ir o resto do caminho a correr, chegar atrasada e ser espancada, ou aceitar a boleia, chegar a tempo e ter probabilidades de ser violada.
Espreitei para dentro da janela para poder encara-lo melhor. Examinei-o por uns segundos e ele suspirou impaciente.
- Eu não te vou violar, não te preocupes. Só estou a tentar ser simpático. – Ri-me sarcasticamente com a última frase dele.
Simpático era se me chamasses pelo nome, se não interrompesses ninguém a meio de algo importante, e se devolvesses as coisas que te emprestam. – Pensei.
- Está bem. – Abri a porta e sentei-me no banco ao seu lado.
- Onde moras? – Perguntou sem tirar os olhos da estrada.
- É só seguires em frente e virares na próxima rua à direita. – Informei. – Podes parar ali mesmo. – Apontei para o passeio em frente à minha casa depois de um minuto em silêncio.
- Estás entregue. – Encostou o carro.
- Obrigada. – Olhei para ele. – Bem…- Desviei o olhar para o relógio. Faltava apenas um minuto. – tenho que ir. Até amanhã. – Sai apressadamente correndo até à porta de entrada.
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In The Middle Of Darkness
Teen Fiction‘’A luz é especialmente apreciada após a escuridão’’, mas e se não a encontrarmos? E se ficarmos presos na escuridão? E se mesmo que queiramos encontra-la, não conseguirmos? ''A escuridão apenas pode ser expulsa pela luz e não pela escuridão, e ao ó...