3. Rapper meia-boca

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Quando era criança, a coisa que Jimin mais odiava era ficar sozinho em casa.

Ele nunca esteve exatamente sozinho, sempre tinha uma babá para ficar de olho nele ou tutores para dar aulas. Mas quando eles iam embora, sobrava só ele e a casa parecia muito grande. Cômodos demais, vazios demais para a vontade pura de explorar as possibilidades da infância. As únicas vezes que ele se sentia como uma criança como todas as outras era quando era levado para o parque nos fins de semana ou nas viagens de férias para visitar os avós fora do país.

Quando Chae nasceu, ele tinha apenas quatro anos, mas já sabia que seria o irmão mais velho e que seu dever seria cuidar e protegê-la de qualquer coisa ruim. Aos oito, enquanto passava por todas as aulas intensivas de balé, a caçula podia ir para a escola, ter amigos e ser normal. Era isso que a mãe deles iria querer e ele tinha prometido. E é o que ele tem feito, ou tentado fazer nos dias de hoje.

Apesar disso, Jimin aprendeu a apreciar o tempo que passava só em casa e desejava mais que tudo poder ficar em paz na manhã de domingo, depois do desastre que foi a primeira semana na academia. Ele acordou cedo, preparou um banho com ervas na banheira da sua suíte e fez uso de máscara facial ao som calmo da música clássica instrumental que saía pelos altos falantes.

Depois do banho, se vestiu com roupas leves e confortáveis e levou sua esteira de Yoga para o centro da sala de estar. A claridade do dia servia a iluminação perfeita, os raios de sol da manhã adentrando o ambiente pelas grandes janelas de vidro e mantendo o ambiente na temperatura ideal.

Jimin se sentia relaxado após o banho, fazendo os alongamentos iniciais sem dificuldade, se permitindo apreciar a melodia calma. Na primeira posição do exercício, ele inspirou fundo e buscou não pensar em nada além da atividade. Após alguns minutos e duas posições depois, sua mente estava completamente vazia. Sem academia, ensaios, solos ou rappers intrometidos.

No entanto, é claro que sua paz durou pouco. Nada durava muito para ele naquela casa. Começando pela movimentação no andar de cima, ele sabia que Chae estava acordada pelos passos pesados demais para alguém tão leve no corredor. Jimin tentou não se distrair do objetivo e mudou de posição mais uma vez, se equilibrando em uma perna só e esticando o tronco e os braços para a frente e o pé no ar para trás, no formato de uma mesa.

O barulho que irrompeu dos altos falantes o pegou totalmente de surpresa e o fez desequilibrar. Só teve tempo de colocar a mão na frente para não cair com o rosto direto na esteira. Era aquela voz. Maldito Agust D!

— PORRA, CHAEWON! — Jimin ficou de pé em um pulo e marchou até a escada soltando fumaça pelos ouvidos.

A música continuava batucando no ponto mais profundo do seu cérebro, Agust D estava até mesmo rindo dele na gravação. Como se estivesse ali, à espreita, esperando apenas apenas o momento certo para dar a rasteira e estragar tudo.

Jimin abriu a porta do quarto da irmã sem se preocupar em bater e encontrou a caçula deitada de cabeça para baixo na cama com o celular nas mãos.

— Dá pra você diminuir esse caralho? — Jimin cruzou os braços.

— Não, não dá, irmãozinho. Estou estudando as músicas do nosso diretor. — Ela mostrou os dentes em um sorriso debochado.

Jimin respirou fundo, procurando a paciência que ele não tinha. — Eu estava no meio da minha Yoga na mais perfeita paz, não preciso ficar ouvindo essa pouca bosta. Deixe só pra você, chata!

— As músicas do Agust D-ssi são ótimas, você não sabe apreciar a genialidade das letras.

— E que porra ele tá dizendo afinal? — O gi-give it to me insistente era de dar nos nervos. — Desliga essa merda que vou voltar pra minha Yoga.

NEVERMIND | yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora