4. Boatos

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*Alerta de conteúdo sensível*

Mais uma noite sem dormir para a interminável lista de noites sem dormir de Park Jimin.

Não tinha pregado o olho nem por cinco minutos, mas também não tinha feito nada para tentar. Apenas ficou deitado na cama grande e confortável com o cobertor puxado até o pescoço, seu corpo apoiado pelos travesseiros macios. Nos ouvidos, os fones berravam uma música qualquer.

Berravam, sim, sem qualquer sentido figurado da palavra. O volume no máximo era o que impedia os pensamentos de ficarem altos demais na mente do bailarino.

Bem, na verdade era isso que Jimin queria que acontecesse. O que não significa que realmente aconteceu.

Depois de ter discutido com Yoongi na Academia, todas as lembranças que constantemente jogava no fundo de seu cérebro viram a luz do dia novamente. Mais fortes como nunca, inundando sua mente com as palavras dolorosas, mas conhecidas: farsa, não merecedor, coitado, substituto.

Jimin não era o melhor, ele se esforçava e sempre praticava muito para tentar ser o melhor. Tinha noção o suficiente e ficou ainda mais claro quando não conseguiu o papel principal no espetáculo do ano anterior. Se distraiu, perdeu a contagem dos passos, tropeçou e deu adeus ao seu momento de estrelato.

Ser o filho do diretor não dava pra ele o papel principal logo de cara, tinha que batalhar e praticar muito para conseguir competir e ganhar o lugar pelo seu próprio merecimento. A única coisa ruim era que um passo em falso e tudo iria para os ares. Jimin odiava errar e sentir o gosto amargo do fracasso não era nem um pouco agradável.

Odiava sentir tudo que sentiu no dia em que foi anunciado qual bailarino tinha ganhado o papel principal, e mesmo quando foi Jimin que pisou no palco no dia do espetáculo em sua cabeça a palavra substituto brilhava como neon.

Se pudesse, apagaria todas as matérias que foram feitas na época. Os tabloides não deram sossego e aparentemente eram assuntos fáceis demais de pesquisar e encontrar. Gostaria de enterrar a memória no fundo de seu cérebro, para que ela nunca mais emergisse.

O despertador com som de pássaros tirou o olhar do bailarino do teto para que pudesse desligar o barulho irritante. Costumava gostar do som em seus dias comuns, mas que Deus ajudasse quem quer que se aventurasse em dizer um "oi" atravessado para Jimin hoje. Levantou da cama confortável na maior lentidão, estava cansado pela noite sem dormir e seus olhos ardiam, implorando por algum descanso. Mas como descansar quando sua mente não desliga?

Calçou os chinelos felpudos e afastou as cortinas, decidindo abrir só um pouco a porta da varanda para entrar uma brisa de vento fresco do outono. Não demorou dois segundos para fechar novamente, irritado pelo barulho das folhas nas árvores. Pediu que a assistente virtual colocasse um som ambiente de sua playlist no volume 3, e quando o som calmante de ondas quebrando na praia começou a preencher o quarto, Jimin se encaminhou para o banheiro.

Esperou que durante a ducha fria sua mente parasse por alguns segundos, mas tudo que conseguia pensar era que era uma farsa escondida atrás de uma máscara de alguém que sempre fazia de tudo para manter o sorriso no rosto. Conquistou tudo que tinha com muito esforço, e mesmo assim nada parecia ser o suficiente.

As ondas ainda quebravam quando o bailarino deixou o cômodo, vestido em uma calça preta e um moletom da Adidas, combinando com a blusa que tinha por dentro. Nas costas a mochila e na mão as chaves de seu carro. Saiu de casa sem esperar por Chae e sem pegar nada para comer.

O celular largado no banco do passageiro vibrava a cada segundo, possivelmente era Taehyung pedindo uma carona. Mas não, dessa vez não, Jimin não iria passar para buscar o melhor amigo. Tinha outros planos em mente.

NEVERMIND | yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora