Ele se foi. Estava torcendo que entrasse no café, mas... Ele sequer olhou para cá. Acho que nunca mais o verei e acho que foi o homem mais lindo que já vi... De qualquer forma, não é como se tivesse coragem de aproximar-me ou algo assim. De repente, um estranho aparece e pede seu número? É, não soa-me bem.
Voltei ao balcão um pouco aéreo, Kazuha estava discutindo com dois clientes, aproximei-me para entender a situação.
- Você é um inútil! Eu só pedi duas coisas e você não foi capaz de trazer os pedidos certos? Bom saber o tipo de pessoa que trabalha aqui. - Um garoto, que aparentava a mesma idade de Kazuha, quase gritava enquanto uma mulher mais velha parecida com o mesmo apenas o observava.
- Senhor, você está gritando, vou ter que pedir para se retirarem se continuar. - O garoto de cabelos roxos fecha ainda mais a cara, batendo a mão no balcão fazendo Kazuha recuar um pouco.
- Quem você pensa que é...? - Interrompi antes que piorasse.
- Senhor, já estão preparando os pedidos certos desta vez, foi apenas um erro, acontece. Terão um desconto como compensação da espera, o que acham? Por favor, se dirijam á alguma mesa. Caso não se sintam satisfeitos, a saída é por ali. - A mulher se dirigiu á saída, sem nem olhar para trás, e o garoto, não nos poupou.
- Não precisamos disto. - Ele sai e nos lança um olhar de nojo. Algumas pessoas que olhavam voltam sua atenção a outras coisas.
- Estudamos juntos... Aparentemente, ele não pretende me tratar mal só na escola. O tipo de coisa que temos que ouvir... - Kazuha limpa alguns copos, cabisbaixo enquanto fala.
- Não temos, você só cometeu um pequeno erro, já aconteceu com a maioria aqui. Não deixe ninguém te humilhar, este tipo de situação diz mais sobre eles do que sobre você. - Pouso a mão em sua cabeça.
- Obrigado, Childe... Vou lembrar-me disto. - Ele sorriu, e então, voltou à suas tarefas habituais e a fazer anotações em seu caderno. Kazuha ainda está no colégio, começou a trabalhar aqui há algumas semanas em meio período. O pessoal tenta o ajudar de todas as formas, já que, aparentemente, houve um acidente com seus pais e agora vive com a vice-reitora da UL (Universidade de Liyue). Espero que ele se adapte bem em sua vida nova e logo mais no café.
Fico um pouco além do meu turno, uma hora depois, despeço-me do pessoal e arrumo minhas coisas. Saio do café, pego um ônibus e chego em casa. Estão todos dormindo, aparentemente. Há uma marmita no micro-ondas, minha mãe, provavelmente, a deixou para mim. Esquento a comida e me dirijo á sala. Reparo a TV ligada e os pés de meu pai para o alto no sofá. Eu realmente tento evitar ele agora, todos os nossos encontros são no mínimo desconfortáveis. Ele se senta e me olha, não estava dormindo.
- Onde estava até este horário? Seu turno termina mais cedo. - Ele me olha interrogativo, como vêm fazendo ultimamente.
- Passei um pouco do horário, só isso... - Como olhando fixamente para o jogo passando na TV. Não poderia o encarar agora, ou sentiria-me mal de novo...
- Sei. Não chegue tarde, sua mãe enche-me o saco perguntando por você. Pelo seu próprio bem, espero que esteja realmente trabalhando, e não fazendo "gracinhas"... - Ele para e desliga a TV. - Limpe o que sujar. - Ele sobe as escadas e fecha a porta do quarto. Todas às vezes que converso com ele, sinto como se estivesse sendo julgado, ou como se estivesse escondendo um crime, sinto um nó na garganta e vontade de gritar. É assim todos os dias.
Tomo um banho e vou ao meu quarto, escuto um pouco de música sobre o colchão, tentando distrair-me, mas, quando fecho os olhos, as palavras do meu pai me martelam de novo.
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Lágrima de Pedra
FanfictionChilde, um jovem adulto de vinte e dois anos que trabalhava em um café próximo à uma das maiores e mais difíceis universidades de Teyvat... Seus meses no café Star Dust pareciam tediosos, ao menos, até a volta às aulas dos universitários. A cafeteri...