As pessoas costumam dizer que o tempo é o melhor remédio. "O tempo cura todas as feridas." Durante muitos anos de sua miserável vida, frases como essas eram a angústia e o consolo de Philip Pirrup. Veja bem, sempre dizem que o tempo cura tudo, mas nunca estipularam um tempo para a cura acontecer. A dor que acompanhava Phillip, para os que o odeiam: pip, desde os tempos áureos de sua conturbada infância iria embora em que conjuntura? Quando as lágrimas tão salgadas do britânico parariam de escorrer? Algum dia o gosto amargo da injustiça, que estava em sua boca desde que podia se lembrar, seria substituído pelo doce gosto da aceitação e do amor? Suas feridas abertas e sangrentas cicatrizariam? Ou seriam elas os tais amigos que Pip pedia todos os dias antes de dormir?
Uma data exata não é necessária. Um simplório sim já seria capaz de fazer o calejado coração do loiro voltar a pulsar alegremente perante as mazelas de sua vida amaldiçoada. Podia ser hoje, amanhã, daqui a vinte anos. Não importava. Desde que uma bondosa alma finalmente lhe respondesse tal pergunta, que era, para Pip, mais dolorosa do que qualquer machucado já feito em seu corpo frágil e doente. Um simples sim devolveria a Pip todas as forças, sonhos e esperanças que a vida tão cruelmente cismou em roubar-lhe.
Quando tentava buscar em sua memória algo que pudesse ter feito para justificar tamanho sofrimento, não encontrava nada além de espaços em branco. Se fosse honesto consigo mesmo, Pip assumiria que nunca fez nada em todos os dezoito anos de sua vida que justificasse as atrocidades que seus colegas corriqueiramente faziam para com ele. Mas Philip era bom demais, gentil demais, tolo demais. O mundo não parecia ser digno o suficiente de uma alma como a de Pip. Por não encontrar um motivo, o britânico inventava algum. Talvez eu tenha ofendido alguém sem perceber? Tive tantas dificuldades de me acostumar com o linguajar deles. O loiro não conseguia compreender em sua ingênua cabecinha que neste mundo, podre e maldito, não precisava haver ensejos para machucar alguém mais fraco. O fato de ser mais fraco que os outros já era uma causa justificada por si só. E havia no mundo pessoa mais xoxa, capenga, manca, anemica, frágil e inconsistente que não o britânico Philip Pirrup?
O uso de "brincadeiras" um tanto quanto violentas com o loiro era bem constante. De tanto estar coberto por manchas roxas e vermelhas pelo corpo, Pip acabou por decidir que ele ficava muito bem de cores escuras. Seus agressores não mostravam sinais de arrependimento, nem mesmo de satisfação, quando as agressões chegavam ao fim. Parecia que era apenas uma parte obrigatória da rotina, não havia um prazer em fazer aquilo. Havia apenas a obrigação . O Pirrup era facilmente a definição daquilo que chamavam de "imã de soco". Parecia realmente inevitável odiá-lo.
Quando estavam de bom humor, ou ocupados demais para gastarem tempo com ele, seus agressores se contentavam em roubar seu dinheiro e humilhá-lo publicamente. Estavam especialmente sem tempo com a chegada iminente da competição escolar mais importante de South Park, "A cidade do Diabo" , e esse apelido era muito mais honesto do que Pip gostaria. Literalmente o diabo morava lá. Ele e seu filho, da mesma idade do Pirrup, Damien Thorn, o anticristo. Um ex... amigo? Que Pip teve ainda na infância. E Jesus tinha um programa de tevê lá também. Parece insanidade? Não, isso é apenas South Park. A opção de humilhá-lo era a mais frequente. Pelo menos entre os seus. Ia de um simples derrubar de livros até pontos mais extremos que, Deus o livre, poderiam até levá-lo à morte se durasse muito tempo. Seus valentões, aliás, pareciam bem empolgados em vê-lo tremer de frio e quase congelar até a morte.
Ficar despido na escola pode ser algo bem comum e normal se você fizesse parte de alguma atividade extracurricular como esporte ou líder de torcida, mas uma vez que Philip Pirrup não fazia nenhuma atividade nesse sentido a situação não era mais tão comum assim. Ao mesmo tempo que era. Se você for o Pip, é claro.
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No zombies in the biblical apocalypse
FanficMais insano que o insano é o são que anda junto ao insano e conhece toda a extensão de sua insanidade. Do insano nao se espera nada além de insanidade, mas do são que anda junto ao insano não há nada que você possa esperar ou prever. Bom ou ruim. Se...