{Flora}
Olho para minha mochila e respiro fundo antes de pegá-la e levantar de minha carteira.
Essas últimas semanas têm sido difíceis para mim. Todos ficaram sabendo da morte de Marco e sempre que me encontram fazem milhares de perguntas desconfortáveis sobre minha relação com ele, sendo algo completamente doloroso para mim, por ter que ficar lembrando dessas coisas toda hora.
Sem contar que não tenho conseguido dormir, fico me remexendo na cama e nada de sono, me causando profundas olheiras.
- Ei, você me escutou?
Pisco fortemente saindo de meus devaneios.
- Oi... me desculpe, acabei me perdendo em meus pensamentos - rio sem graça e foco nos olhos castanhos do menino a minha frente.
- Sem problemas! - abre um grande sorriso - Você é Flora certo? - aceno positivamente com minha cabeça - Ótimo, eu sou Jonathan - ele estendeu sua mão para mim.
- Olá! - disse sem jeito apertando sua mão.
O vento gelado de sexta-feira tocava minha pele enquanto eu observava o pôr do sol pela minha janela, seria uma bela cena, se eu não estivesse com meu foco em outro lugar.
Meus pensamentos eram dominados por Jonathan, que em pouco tempo mostrou ser um menino perfeito, tão perfeito ao ponto de não parecer real.
Ele é lindo, com seus cabelos castanhos que chegam na metade de suas costas, um brinco de pena laranja e uma alegria contagiante. Sua personalidade então, é maravilhosa.
Perco meu foco ao ouvir barulhos vindo da janela.
Me levanto de minha cama e abro a janela procurando o causador do barulho.
- Aqui! Desce aí, vamos dar uma volta! - Jonathan dizia com um enorme sorriso no rosto.
- É sério? Jogando pedrinhas na minha janela? Não parece coisa de filme de romance?
- Acho que sim... mas normalmente romances têm finais felizes, então tá tudo bem! - ele faz um sinal de positivo com as duas mãos - agora desde logo.
Solto um sorriso sincero e desço a parede com agilidade, me pendurando em algumas telhas, rachaduras e finalmente o chão.
- Não pensei que você fosse conseguir descer tão rápido - ele diz levemente espantado.
- Eu já fiz isso outras vezes, você não é o único bad boy por aqui. - sorrio convencida - Agora me diz, onde iremos?
- Você vai descobrir. - ele pega minha mão e começamos a correr para longe.
Esse tempo de ida foi divertido, eu sentia o vento gelado contra minha pele quente, me causando arrepios. A lua iluminava o caminho de uma forma extremamente mágica.
E então, finalmente paramos de correr. Eu respiro fundo, procurando pelo meu fôlego e observo a paisagem.
- Que lindo, Jon! - digo maravilhada com a beleza do lugar. O chão era forrado de pequenas flores azuis, haviam árvores que pareciam buquês de tão coloridas. E as estrelas, brilhavam demais... mas nunca mais que a Lua.
- Eu ou o lugar? - ele disse com um sorriso soltando minha mão.
- Os dois! - falei sem jeito com um leve rubor nas bochechas.
- Você também é extremamente bela. - ele se afastou e se sentou no chão, me chamando com a cabeça. - Me diz, como você está? - perguntou com seus olhos focados céu escuro.
- Como assim? - falei me sentando no chão.
- Ora, eu quero saber como você está depois... de tudo que aconteceu - ele disse ainda sem me olhar.
- Bom... - fiquei em dúvida, era a primeira vez que alguém me perguntava aquilo e eu queria ser 100% verdadeira com ele - sinceramente eu não sei como te responder, parece que nada aconteceu e logo Marco vai aparecer gritando meu nome... ele sempre foi meio desesperado. - meus olhos lacrimejaram e minha voz fraquejou - O que aconteceu ainda está reverberando dentro de mim, eu não quero acreditar na verdade, quero que tudo seja um maldito sonho fudido. - digo afundando meu rosto nas minhas mãos.
- Talvez você não queira acreditar no que supostamente é a verdade por que não é verdade - Jonathan suspira e puxa meu rosto para eu olhá-lo - Você me acha tão chato ao ponto de querer que eu não exista? - perguntou sorrindo.
- Não, claro que não! - eu limpo minhas lágrimas meio desesperada - acho que me expressei mal, eu queria que o que aconteceu com Marco não... - comecei a falar rapidamente me atrapalhando nas palavras.
- Eu estou brincando - ele deu uma alta risada e soltou meu rosto para se deitar na grama ainda rindo.
- Ah... - respirei fundo e pensei um pouco - Espera, o que você tinha falando sobre a verdade?
- como assim? - se fez de desentendido.
- É, você tinha falado da verdade não ser verdade, você sabe alguma coisa? O Marco já tinha falado com você? - me empolguei e subi em cima de Jonathan, na posição de quatro apoios, ficando cara a cara com ele.
- Calma - ele disse arregalando os olhos me olhando de cima a baixo e depois relaxou a expressão - se você sair de cima de mim, eu prometo te explicar tudo.
- Tem certeza? - falei em dúvida.
- Promessa de escoteiro.
- Você sabe que promessa de escoteiro não vale nada se você nunca foi um escoteiro, né? - disse sentando ao lado de Jonathan.
- Eu sei - ele se sentou também - o que exatamente você quer saber? - disse com um sorriso de canto.
- Essa coisa da verdade não ser verdade.
- Ok - ele soltou um logo suspiro e começou - tanto você quando eu sabemos que a morte de Marco foi muito suspeita, como você mesma já disse em milhares de entrevistas, ele não dava indícios de nada e mesmo se ele realmente não estivesse bem, por que na escola? Por que bem no momento que ele sabia que deixaria alguém esperando por ele? Esse e vários outros ponto não fazem sentido se formos falar de suicídio... mas faz sentido se formos falar de homicídio, só imagina. O Marco sozinho no banheiro seria um momento perfeito para atacar, pensando que ele quase não vive sozinho, por ter muito amigos. E claro, seria muito mais fácil desovar no local que ele matou, no caso, a escola. Ok, mas por que colocar o Cadáver pendurado como se fosse suicídio? Se na hora de matar o assassino tomou todos os cuidados, seria fácil insinuar tal coisa. Entende?
Era como se uma luz tivesse ascendido no meu cérebro, de repente tudo fez sentido. Fiquei em silêncio por alguns segundos, apenas raciocinando.
- Você acha que fiquei louco? - Jonathan perguntou aparentemente nervoso.
- Você está certíssimo, Jon! Como eu não pensei nisso antes? - dei um longo abraço no meu amigo.
- Obrigado? - ele soltou uma risada sem graça e eu o soltei do abraço - Bom, eu tenho uma proposta a você.
- Diga.
- O que acha de me ajudar a desvendar esse caso?
- Conte comigo! - disse sem pensar 2 vezes.
E agora, o que será que o destino guarda para mim? Conhecer esse menino virou minha vida de cabeça para baixo.
18/05/23
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A Alma Perdida
ParanormalNo ano de 1877 um suposto suicídio acontece com um menino do fundamental, que assusta toda a cidade. Porém havia muitas dúvidas sobre o que tiverá acontecido, o menino sempre foi muito alegre e cercado de amigos. Depois de algum tempo as investigaçõ...