Se aos 26 anos, noiva apaixonada e grávida alguém me dissesse que eu terminaria sozinha com uma filha de cinco anos, um ex-marido que me traiu com a babá e minha secretária de confiança, eu nunca acreditaria. O homem que escolhi para passar o minha vida, ser pai dos meus filhos, quase não consigo lidar com a dor da decepção, a única coisa que me mantem de pé é minha filha Olivia, minha pequena estrela, olhando para a foto dela, linda e sorridente, vejo que mesmo com todo sofrimento valeu a pena, nunca vou amaldiçoar ou renegar o tempo que estivesse ao lado de Henrique, afinal, foi ele quem me deu minha joia mais preciosa. Olivia nasceu com um problema respiratório que atrasou sua saída do hospital, ficamos ao lado dela por duas semanas enquanto esteve na incubadora, aprendendo a respirar sozinha, não sabemos como ou porquê, mas descobrimos que Olivia sofria de asma infantil, retiramos tudo que poderia prejudicar nossa bebê e finalmente a levamos para casa. Durante os primeiros meses de Olivia, percebi que um bebê era um sonho mais meu que dele, eu ficava atenta as necessidades de minha filha, tentava evitar ao máximo que chorava por muito tempo, isso sempre desencadeava as crises e visitas ao hospital e todo meu cuidado gerava ciúmes em meu marido, que sempre se queixava que minha atenção era toda de nossa filha. Quando Olivia completou um ano contratei a melhor babá que encontrei, com curso técnico em enfermagem, saberia agir em alguma situação de risco, muito atenciosa com minha filha e voltei ao trabalho na minha editora, que sempre foi a vida do meu falecido pai, me lembro de tantas tardes e férias que passei sentada ao lado dele no escritório fingindo que trabalhava, enquanto ele lia e relia manuscritos em busca de novos talentos. Mesmo me desdobrando para fazer suas vontade, me fazer presente em sua vida, Henrique continuava reclamando se queixava quando eu precisa ir até São Paulo, mesmo que eu sempre voltasse no mesmo dia, se queixava de falar mais com minha secretária do que comigo. Foram esses os motivos que ele deu para justificar suas traições, o caso com minha secretária e com a babá de nossa filha, duas pessoas que eu confiava, jamais passaria pela minha cabeça que elas fossem suas amantes, eu nunca foi boba, desconfiava já tinha um tempo que ele me traia, mas nunca imaginei que fosse dentro de minha casa, com minha filha brincando no quarto ao lado, só de lembrar disso meu sangue ferve, como eles foram capazes de fazer uma coisa dessas.
No melhor estilo Scarlett O'Hara, decidi que amanhã eu penso sobre isso, e principalmente sobre o divórcio, hoje vou para enfiar minha cabeça no trabalho como tenho feito nos últimos dias levando minha pequena comigo, até que eu encontre alguém que fique com ela depois do horário da escola, vai ser muito difícil encontrar uma pessoa de confiança, na verdade, acho que nunca mais confiarei em ninguém novamente.
Patrícia remanejou uma menina para que fosse minha secretária, disse se tratar de uma excelente profissional, discreta, atenta e ágil, vamos ver se ela é tudo isso mesmo.
- Dona Gabriela pode vir até minha sala?
- Claro D. Maria Luiza.
- Entre e sente-se por favor, Patrícia lhe passou quais seriam suas reponsabilidades como minha assistente pessoal?
- D. Maria Luiza? D. Maria Luiza?
- Sim, desculpe, não ouvi o que disse...
Essa menina tem olhos tão lindos, negros e intensos, uma olhar que parece prender o meu, muito tempo que eu não me perdia em um olhar, tinha tempo que não me perdia em um olhar...
- Eu disse que D. Patrícia me deixou a par da situação e de minhas atribuições como sua secretária.
- Entendo, por enquanto é só, por favor, D. Gabriela, quando for 11:45 me avise? Preciso buscar minha filha na escola.
- Claro D. Maria Luiza, pode me chamar apenas de Gabriela, é assim que todos no escritório me chamam, senhora.
- Tudo bem Gabriela, obrigada.
Eu nunca tinha reparado nessa menina aqui, Patrícia disse que ela já trabalha conosco há pelos menos dois anos, aqueles olhos, tão intensos, tão negros... Passo tanto tempo pensando nisso que só acordo dos meus devaneios com Gabriela me chamando pelo telefone interno, hora de buscar minha princesinha, espero que ela goste tanto de passar suas tardes aqui como eu gostava quando tinha a idade dela.
Gabriela
A semana passou voando, finalmente sexta feira chegou, consegui colocar tudo em ordem, estava exausta eu não entendia o que aquela mulher fazia para ter tanta coisa acumulada nesse escritório. Mas finalmente as coisas iriam normalizar, consegui organizar as reuniões que estavam pendentes, como D. Maria Luiza preferia, sempre no horário da manhã quando Olivia não estava aqui. A menina mais encantadora que já conheci, me faz pensar que se tudo não tivesse acontecido, enfim, não gosto de lembrar...
Criei o hábito de sair para almoçar no horário que D. Maria Luiza vai buscar Olivia na escola, quando voltei para o escritório o telefone tocava desesperadamente, a ligação caiu antes que pudesse atender, olhei no identificador de chamadas 32 ligações perdidas, antes que eu pudesse olhar os números ele voltou a tocar, D. Maria Luiza tinha uma reunião por web chamada, importantíssima, às 14h e absolutamente ninguém sabia disso, eu não conseguia contata-la através do celular, então consegui adiar a reunião para as 16h alegando problemas gravíssimos na rede de internet do escritório, solicitei que me enviassem a pauta da reunião através do meu e-mail pessoal e comecei a torcer para que ela chegasse o mais rápido possível.
Assim que minha chefe ficou ciente da situação comecei uma correia para preparar tudo que ela precisaria, passei boa parte da tarde entrando e saindo daquela sala carregando pastas com documentos assinados pela editora, o autor, procurando a equipe de designer para saber o motivo do atraso do livro, enquanto D. Maria Luiza buscava uma forma de não perder o autor que estava para lançar o último livro de uma franquia de grande sucesso no estilo 50 tons.
- Acho que isso é tudo, eu adiei o máximo que pude, o agente dele exigiu que a reunião fosse hoje, alegou que já havia sido desmarcada vezes demais.
- Eu entendo Gabriela, agradeço pela forma como lidou com a situação, eu quero lhe pedir um favor pessoal, sinta-se à vontade para me dizer não, entende?
-Claro.
- Você pode ficar de olho em Olivia, apenas durante a reunião, normalmente ela ficaria na sala comigo, mas como o conteúdo do livro é inapropriado para a idade dela, agradeceria se pudesse me fazer esse favor. Ela promete se comportar de forma exemplar, e ficar bem quietinha desenhando, não promete Olivia?
- Mamãe, eu sempre me comporto de forma exemplar. Vamos tia Gabi, temos muito o que conversar.
Depois de aproximadamente duas horas de reunião Olivia começou a ficar entediada, e começou a falar.. falar.. falar.. ela realmente tinha muita coisa a contar, me falou da escola, do amiguinhos, da professora e de muitas outras coisas...
- Tia Gabi, nós podemos ver Ladybug nesse computar aí que você está trabalhando? É meu desenho favorito, posso até te mostrar a meus bonecos, tenho a Ladybug, o Cat Noir, a Rena Rouge, estão na minha mochila, lá na sala da mamãe.
- Olivia, minha linda, eu sou funcionária da sua mamãe, acho que ela não gostaria que você me chamasse de tia, mas nós podemos assistir seu desenho e depois você me mostra todos os bonecos e podemos brincar.
- Você não gosta quando te chamo de tia?
Claro que ela só ouviu essa parte.
- Não é isso princesa, mas eu trabalho para sua mãe, acho que ela prefere que você me chame de Gabriela.
Tentei explicar a sentando em minha mesa, sentindo o carinho tão gostoso que ela fazia em meu rosto.
- Tia Gabi, o que é uma funcionária?
- Funcionária é uma pessoa que trabalha para a outra, que é a chefe, a funcionária faz o que a chefe pede, entendeu?
- Ahh, eu entendi, você é que nem uma escrava da mamãe?
Não tive como não rir daquele comentário.
- Sim, Olivia, quase isso..
- Não se preocupa, quando eu crescer vou libertar você.
- Você é mesmo uma princesa Olivia.
- Quer dizer que a senhorita se considera uma escrava, D. Gabriela
Meu coração acelerou, minhas mãos gelaram, dessa vez era o fim, estou demitida.
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Recomeço
Romance- Ahh, eu entendi, você é que nem uma escrava da mamãe? Não tive como não rir daquele comentário. - Sim, Olivia, quase isso.. - Não se preocupa, quando eu crescer vou libertar você. O que acontece quando se encanta pela filha de sua chefe, pior aind...