Capítulo 17

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Gabriela

Uma semana em São Paulo e conseguimos resolver tudo, só precisei voltar a editora um dia antes de voltarmos, aquele carro continuava parado na frente do hotel, avisei a Malu e chamamos a polícia, quando a viatura chegou o carro partiu antes que pudessem abordar o motorista, o detetive tinha dado noticias todos os dias que estivemos aqui. Relatou uma movimentação estranha, mas nada que justificasse uma chamada para a polícia.

A viagem foi tranquila e seguimos direto para casa, manter Olivia no hotel foi mais fácil do que imaginei, ela simplesmente adora trabalhar comigo, acho que ela vai ser uma editora incrível no futuro, se assim escolher, a verdade é que a acho a menina mais inteligente do mundo e ela vai ser incrível no que escolher fazer.

- Tia Gabiii, tia Gabiiii.

Os gritos de Liv indicavam que ela havia terminado o banho, fui ajuda-la a vestir o pijama, cada vez mais ela me pedia ajuda ao invés de Malu, no começo pensei que ela fosse ficar com ciúmes, mas parecia bem feliz com isso e as coisas podiam ficar bem divididas entre nós duas.

A levávamos juntas a escola de manhã e no fim da aula quem estivesse mais livre a buscava, ela ficava comigo até a hora de voltarmos para casa, eu passava no meu apartamento uma vez na semana para buscar roupas de trabalho e a correspondência. Nesses dias Malu tentava me convencer a mudar de vez, a maior parte das minhas roupas já estavam na casa dela e eu nem lembrava a última vez que dormi lá, não sentia falta de dormir sozinha, acho que sentiria falta de acordar nos braços da minha namorada, de fazer amor pela manhã e ir acordar Liv para a escola, eu amava nossa rotina.

- Prontinho amorzinho, cabelos escovados para uma boa noite de sono.

- Obrigada madrasta tia Gabi.

- De nada, vamos nos deitar agora. Vou ler uma história para você, tá bom?

- Tia Gabi, a mamãe vai chegar tarde?

- Não minha princesa, daqui a pouco ela está em casa, só ficou presa em uma reunião. Se você preferir pode esperar por ela, sei que você quando ela te coloca na cama.

- Não, eu só queria saber mesmo, eu não gostava quando meu pai me colocava na cama, ele me mandava deitar e dormir e apagava as luzes. Tia Gabi, você acha errado eu não sentir falta dele?

Eu queria responder que não, que ela não deveria nem lembrar da existência daquele crápula, mas eu não poderia fazer isso, não faria isso com ela.

- Amorzinho, você precisa ouvir seu coração, ele é seu pai, se sentir falta dele tudo bem.

- Não, sinto falta de você e da mamãe quando estou na escola. Quando você vai se mudar?

- Me mudar?

- Sim, para cá, pra sempre.

- Você quer isso?

- Quero sim, quero você morando com a gente para sempre, para a gente sermos uma família.

- Para sermos uma família.

- Isso mesmo.

- Você sabe que as férias está chegando?

- Sim, estão chegando e sabia que eu vou tirar férias com você?

- Uhum, nós podemos passear muito?

- Podemos fazer tudo que você quiser...

Me deitei ao lado dela passando a mão em seus cabelos, sentindo aquele cheirinho de criança.

- Vou querer ver o filme da Moana, ir ver o Papai Noel, eu preciso entregar minha carta, sabia?

- Claro que sei e sabe do que mais?

- O que?

- Estou pensando e podemos ir na casa do Papai Noel e deixar nos correios direto dele.

- A gente vai para o Polo Norte?

- Não amorzinho, primeiro eu preciso conversar com a mamãe, mas estou pensando em Penedo. A cidade fica linda essa época do ano, tudo bem enfeitadinho para o Natal.

- Eu quero, pede pra mamãe, se você pedir ela deixa.

- Vou pedir, já sabe o que quer nessa cartinha?

- Sei sim, eu vou escrever sozinha, esse ano eu já sei, ano passado a mamãe ajudou, vou contar pra ele que fiz sozinha, até publiquei um livro. Só não dei autografo, porque autografo só quem escreve pode dar.

- Mas você assinou três livros que ela deixou...

- Sim, porque você é a melhor mamãe do mundo todinho e pediu pra ela.

- Fui trocada mesmo...

Maria Luiza falou entrando no quarto de banho tomado e pijamas, nem ouvimos quando ela chegou.

- Quer dizer que perdi o posto de melhor mamãe do mundo?

Eu não conseguia mais segurar as lágrimas, elas desciam silenciosas pelo meu rosto.

- Mamãe, você era a melhor quando só tinha você, mas a tia Gabi é muito boa. Tem hora que você é a melhor, outra é ela e as vezes vocês empatam.

Olhei bem para o rosto de Olivia antes de falar, queria ter certeza de que ela entenderia bem.

- Você é a melhor filhinha do mundo todo e eu te amo muito.

Depois de um tempo Liv pegou no sono, com nós duas em sua cama, Malu e eu nos deitamos na nossa, com a babá eletrônica na mesa de cabeceira.

- Eu sempre sonhei que ter uma família seria assim, fazendo as coisas como fizemos hoje, não da forma como eu tinha antes, era essa família que eu sonhava dar a minha filha e graças aos céus, ao universo e a tudo de bom no mundo eu encontrei você.

- Eu que agradeço pode dividir comigo essa família. E por falar nisso, Olivia quer entregar a carta ao Papai Noel, pensei em passarmos um fim de semana em Penedo, podemos passear com ela na vila, ela vai conhecer a casa, entregar a carta nos correios e pode tirar foto com ele. Se formos esse fim de semana ainda não estará tão lotado é o último antes das férias.

- Sim, podemos! Iremos na sexta e voltamos no domingo, você consegue fazer as reservas? Sou péssima com essas coisas.

- Faço amanhã mesmo, o que me lembra outro assunto que precisamos conversar. – O olhar confuso de Malu me fez sorrir e selar nossos lábios em um beijo delicado.

- Liv me convidou para morar aqui pra sempre.

- Eu convido sempre.

- Eu sei, mas prometi a ela que iria pensar e acho que não faz tanto sentido manter meu apartamento, tem tanto tempo que não durmo lá., a maioria das minhas roupas estão aqui, meu contrato vence em dois meses e estou pensando em não renovar.

- Acho maravilhoso, decisão tomada.

- Sim, mas quero conversar sobre as despesas.

- Que despesas?

- Como que despesas?! As da casa, ué, não pensa que vou ser sustentada por você, não sou esse tipo de mulher..

- Eu sei que não, você é o meu tipo de mulher...

- Maravilhosa

- Deliciosa

- Incrível

Ela falava e beijava o meu pescoço ao mesmo tempo, eu já perdia o raciocínio e esquecia pelo que precisava falar e do que precisava convence-la, só queria continuar sentindo aquilo tudo..

RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora