Desde a primeira vez que conversamos você a mencionava. Disse-me "seu cabelo é igual ao dela".
Provavelmente, acreditou que eu havia caído do céu, por ter sido eu a ter dado o primeiro passo. Não é à toa que concluí, que me envolver com você, seria um caminho perigoso. Eu já havia sido machucada o bastante para aguentar estar num lugar de substituição. Mesmo assim dei um passo de fé e resolvi te ouvir. Decidi que te daria meu coração, porque você me prometeu que nunca o machucaria.
Embora eu soubesse que não era exclusiva para você, via isso quando olhava em seu rosto. Você dizia "esse é o meu jeito". Eu tentava acreditar, mas suas atitudes sempre me diziam o contrário.
Sabe, é uma coisa de alma. Quando a gente é querido e amado plenamente, a gente sabe... Normalmente, ficamos felizes com as nossas condições atuais. Se por acaso o passado bate a porta, ele não nos causa dor, pois o presente o supera mil vezes.
Eu sei que cometi alguns erros, porém, eu não estava em uma boa posição. Eu era aquela cuja implicitamente tinha a obrigação de reparar os danos do seu passado. Contudo, nunca conseguia, embora acreditasse que fosse possível.
Seus monstros internos sempre vinham à tona, e eu me sentia cada vez mais impotente por não ser capaz de combatê-los. No fim, passei a me culpar, passei a tentar ser melhor, superar todas as outras que já haviam passado pela sua vida.
No entanto, as vezes a pergunta me ocorria: era certo tentar me colocar numa posição, em que você deveria me colocar?
Noites de choro mal dormidas, meu coração palpitava, o medo me dominava. Por que nunca queria sair comigo? Por que sempre distante, embora eu sempre estivesse perto?
No fim, você admitiu: "Eu não quero, eu estou confuso" – e a promessa havia sido esquecida.
Em seguida, algo o fez querer reatar novamente. Talvez culpa? Não sei.
Outra promessa foi feita, desta vez, daríamos um jeito para que tudo desse certo.
E assim começou a minha confusão, de repente, nosso relacionamento ficou ainda mais incoerente. Eu não sabia o que fazer ou sentir. Tinha a impressão de que, quanto mais eu tentava me enxergar em seu coração, mais motivos eu tinha para acreditar que estava bem longe dele.
Os dias se passavam, e mais eu notava que tudo o que você queria, era não se preocupar comigo, não se colocar na minha posição.
Tentei dizer... uma... duas... três vezes.. sem te atacar, mas você sempre estava na defensiva e eu nunca conseguia entender o porquê.
Talvez, porque minhas questões fossem todas verdadeiras, e você, revestido por mentiras, não as entendia.
E quando, pela primeira vez, concluí que tínhamos de dar um basta nessa situação, quando vi provas de que a minha posição não era plenamente de uma mulher amada. Não tive coragem de concluir o que eu queria. Não tive coragem de romper esse vínculo co-dependente que criamos.
O ponto final era assustadoramente doloroso, não tinha forças para usá-lo. Tantos pontos finais haviam sido postos em minha vida, e contra a minha vontade. Mais um? Mais um fracasso? O que havia de errado comigo? Porque nunca dava certo? Entreguei-o em suas mãos, dizendo: "vá, use-o", coloque este ponto final de uma vez por todas em nossas feridas inflamadas.
Dei todo o poder para decidir nosso destino, e você tomou a atitude que eu tanto queria/temia. Ela era um "mal" necessário. E então, a tomou sem hesitação, sem piedade, sem medo de fazer com que eu me sentisse o pior ser humano da Terra durante o processo.
Outra promessa havia sido descumprida. Afinal, para mim elas importavam, mas para você, elas não significavam nada!
E eu, confusa, tomei toda a culpa para mim.
Mais noites em claro. A culpa me corroía. Me transformava nas poças podres, geradas pelas chuvas tempestuosas ao fim das tardes de verão, em que as pessoas evitavam pisar, para não se sujar. Quando pisavam, cuspiam maldições.
Desejos suicidas me envolviam em pensamentos, enquanto a lua os observava.
Eu era um monstro e precisava acabar. Porém, como um humano do pior tipo, não reuni coragem o bastante!
Acabar? Eu? Será que eu não tinha salvação?
Procurei ajuda, engoli o orgulho e fui até uma terapeuta.
Não, ela não concordou com absolutamente nada do que eu disse.
Eu não era um monstro.
Eu não merecia acabar.
A culpa não era minha, por não ter conseguido superar o seu passado. Quem precisava ter feito isso era você, antes de ter me colocado na sua vida.
Isso tinha um nome, ela me disse, "responsabilidade afetiva".
E o meu erro, meu principal erro, foi ter te amado mais do que me amei
Foi ter me dedicado mais a você do que a mim mesma
Você provavelmente não enxerga nada disso, a culpa é totalmente minha
Para você, eu sou a vilã... mas não sei se importa agora
O que percebo é que todos nós erramos, tentando acertar.
Logo quando vi que havia sido bloqueada por você, usei meu outro perfil, e vi você marcando outra.
Notei que como as anteriores, eu já estava sendo rapidamente substituída
Um traço genético, eu diria.
Embora eu não fosse capaz disso, de lhe substituir assim, como se não fosse nada
Mais uma vez, isso era uma prova dos seus grandes sentimentos por mim, aqueles que duvidei, e você me acusou de estar enganada.
Amor são atitudes.
Bom... agora não importa mais. Agora já acabou.
Você disse: "eu preciso aprender a ser feliz sozinho" – isso você já sabe.
Nunca vi alguém tão cheio de si e convicto de tudo o que faz
A questão não é aprender a ser feliz sozinho, mas sim, você é capaz de fazer alguém feliz?
Você é capaz de escutar, parar e refletir, quando não estiver de acordo com o que o outro estiver falando?
Provavelmente, a maior questão seja, você sabe o que é empatia?
Não sei porque estou escrevendo isso, provavelmente não te enviarei nada disso, mas deixa pra lá... tudo já passou e eu sei que você já superou.
E essa carta... não vai resolver nada.