2 - Tilintante

4.5K 688 565
                                    

Oliveira abaixou a espingarda lentamente, encarando a moça encolhida no chão do beco

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Oliveira abaixou a espingarda lentamente, encarando a moça encolhida no chão do beco.

O que diabos ela estava fazendo ali, no meio de um tornado noticiado em todos os rádios, nas horas mais escuras da madrugada?

E por que tinha roubado a lona da sua caminhonete?!

Segurando uma respiração confusa, pasmada, ele se moveu para mais perto dela.

Um raio luminoso rasgou o céu.

A garota piscou, erguendo a mão para proteger os olhos.

Oliveira a observou; ela não deveria ter mais do que vinte e quatro ou vinte e cinco anos. Os cabelos longos e molhados se grudavam no rosto, e o par de olhos castanhos o encaravam cheio de temor. Suas roupas estavam encharcadas e, mesmo a iluminação da rua não sendo das melhores, ele conseguia ver o corte em seu lábio; uma marca dissonante nas feições delicadas.

Aquilo fez uma agitação sem precedentes tomá-lo.

— Desculpa... Eu só peguei a lona porque não...

Ele deu um passo cauteloso para perto dela, quase instintivo, querendo ver se havia mais ferimentos que seus olhos não conseguiam captar.

— Por favor... — ela sussurrou, grudando as costas na parede. — Não me machuque.

Perplexo, Oliveira abriu a boca para dizer que jamais cometeria uma atrocidade daquelas, mas foi cortado por um choro fraco e infantil.

O quê?!

Os ombros da moça se retesaram, e ela pareceu ficar ainda mais assustada enquanto se virava para o lado, puxando...

Puta merda!

Oliveira uma mão à cabeça, em choque.

A moça se virou, puxando a lona roubada. Havia um menino pequeno ali. A moça o pegou no colo; um rapazinho que Oliveira chutou ter cerca de três anos, e o apertou contra o peito. Ele não soube dizer qual dos dois tremia mais de frio e de medo.

— Por favor... — ela pediu de novo, apertando a criança contra si. — Não temos onde ir, toda a cidade está fechada por causa do tornado. Me deixe ficar com a lona. É para proteger meu filho da chuva. Eu a devolvo amanhã para você.

Oliveira piscou, assimilando as palavras dela.

Ficar ali? Em um beco?

Durante um tornado, sob a temperatura baixa da madrugada? Com uma criança pequena? Usando uma lona para se abrigar da chuva?

Ah, mas não mesmo.

Não se dependesse dele.

— De jeito nenhum.

A moça lutou para conter um soluço e abraçou a criança com mais força, os olhos lampejando de desespero.

Perdição Sublime | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora