Oliveira abaixou a espingarda lentamente, encarando a moça encolhida no chão do beco.
O que diabos ela estava fazendo ali, no meio de um tornado noticiado em todos os rádios, nas horas mais escuras da madrugada?
E por que tinha roubado a lona da sua caminhonete?!
Segurando uma respiração confusa, pasmada, ele se moveu para mais perto dela.
Um raio luminoso rasgou o céu.
A garota piscou, erguendo a mão para proteger os olhos.
Oliveira a observou; ela não deveria ter mais do que vinte e quatro ou vinte e cinco anos. Os cabelos longos e molhados se grudavam no rosto, e o par de olhos castanhos o encaravam cheio de temor. Suas roupas estavam encharcadas e, mesmo a iluminação da rua não sendo das melhores, ele conseguia ver o corte em seu lábio; uma marca dissonante nas feições delicadas.
Aquilo fez uma agitação sem precedentes tomá-lo.
— Desculpa... Eu só peguei a lona porque não...
Ele deu um passo cauteloso para perto dela, quase instintivo, querendo ver se havia mais ferimentos que seus olhos não conseguiam captar.
— Por favor... — ela sussurrou, grudando as costas na parede. — Não me machuque.
Perplexo, Oliveira abriu a boca para dizer que jamais cometeria uma atrocidade daquelas, mas foi cortado por um choro fraco e infantil.
O quê?!
Os ombros da moça se retesaram, e ela pareceu ficar ainda mais assustada enquanto se virava para o lado, puxando...
Puta merda!
Oliveira uma mão à cabeça, em choque.
A moça se virou, puxando a lona roubada. Havia um menino pequeno ali. A moça o pegou no colo; um rapazinho que Oliveira chutou ter cerca de três anos, e o apertou contra o peito. Ele não soube dizer qual dos dois tremia mais de frio e de medo.
— Por favor... — ela pediu de novo, apertando a criança contra si. — Não temos onde ir, toda a cidade está fechada por causa do tornado. Me deixe ficar com a lona. É para proteger meu filho da chuva. Eu a devolvo amanhã para você.
Oliveira piscou, assimilando as palavras dela.
Ficar ali? Em um beco?
Durante um tornado, sob a temperatura baixa da madrugada? Com uma criança pequena? Usando uma lona para se abrigar da chuva?
Ah, mas não mesmo.
Não se dependesse dele.
— De jeito nenhum.
A moça lutou para conter um soluço e abraçou a criança com mais força, os olhos lampejando de desespero.
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Perdição Sublime | DEGUSTAÇÃO
RomanceLIVRO EM DEGUSTAÇÃO. DISPONÍVEL COMPLETO E REVISADO NA AMAZON. Apaixonado pela terra, o subtenente Álvaro Oliveira fechou o coração e se mudou para sua fazenda, no interior de Minas Gerais, após a morte da esposa. Seus dias são marcados por uma roti...