Introversão

Introversão (Capítulo Único)

Essa é uma história de grande potencial, certo? Todas as histórias são, o problema é quem e como colocar essa história em palavras. Mas essa história é muito simples, é uma história sobre a minha casa, ah sim, sobre a minha casa e sobre casas em geral.

Veja bem a minha casa é bem organizada a sua maneira, talvez isso se deva ao fato de eu não receber visitas tão frequentemente, talvez pelo fato de eu passar a maior parte do tempo aqui dentro e não lá fora, onde estão a maioria das pessoas. Claro que saio de vez em quando, é preciso sair da casa eventualmente. O jardim sempre precisa de cuidados.

Mas eu não saio dos limites da minha casa, não, isso não, não consigo e não posso, alguém poderia entrar nela e sabe-se lá que tipo de bagunça fariam lá? Podem até quebrar ou roubar algo dela, não mesmo, não posso sair de perto dela, eu demorei arrumando-a.

Na verdade fui eu que construí minha casa. Para ser verdadeiramente honesto, na rua em que moro, todos construíram suas casas. Belíssimas casas, de vários tamanhos e de vários formatos, cores também, não sabia que existiam cores como aquelas, são bonitas e ousadas. Imagino o quão bonitas essas casas podem ser por dentro. Gostaria de falar com meus vizinhos, quem sabe eles não me convidassem pra entrar? Mas não posso sair de casa, então eu apenas observo das duas únicas janelas que existem no andar de cima.

As pessoas saem na rua, elas são meio estranhas também, não sei de que casa elas vieram, mas elas parecem alegres e se aventuram bastante. Elas não têm medo de pessoas entrando em suas casas, já vi muitas pessoas entrando nessas casas, as coisas não parecem terminar bem nunca, sempre alguém vai embora, ou outra pessoa volta, às vezes as coisas só se acalmam mesmo, mas quando é assim eles reformam a casa. Será que doeria muito trazer alguém para a minha? Talvez essas pessoas não baguncem tanto assim. Talvez...?

Hoje eu saí de casa, andei um pouco pela cidade, existem muitas pessoas e muitas outras casas, eu vi casas novas e muito bonitas, mas fiquei preocupado com a minha casa, será que alguém tinha entrado nela e bagunçado tudo? Eu podia jurar que não quando cheguei, mas os quadros não pareciam mais os mesmos, nem a arrumação, tudo parecia meio estranho pra ser sincero. Arrumei tudo de novo, eu precisava que tudo voltasse ao normal na minha casa pra que eu me sentisse bem de novo. Eu me sentei na janela novamente pra ver as pessoas e casas que passavam. As pessoas mudaram também? Ou foram as casas da rua? Quem sabe? É sempre bom observar.

Uma das casas abriu, é a casa mais bonita da rua, eu queria morar naquela casa, uma pessoa saiu de lá, estranha. Bonita. Selvagem? Talvez. A pessoa passou por diversas casas sempre com um sorriso no rosto, ou era uma risada? Eu fico no meio termo. Sua casa é realmente bonita. Ela veio na direção da minha casa. Como seria dentro da casa dela? A campainha tocou. Pausa.

Atender?

Eu poderia saber o que ela fez pra sua casa ser tão bonita, talvez essa pessoa me convide pra ir lá.

Campainha.

Ainda estou na janela, a pessoa me viu aqui dentro, eu deveria descer as incontáveis escadas e atravessar os inúmeros labirintos que a casa se transformou pra atender a pessoa? Ela sequer tocaria a campainha uma vez mais? Eu quero esperar?

Campainha.

Corri.

A porta se escancarou alguns segundos depois. Ou foram minutos? Talvez até mesmo horas/dias/semanas/meses/anos? Eu não sei. A pessoa sabe. Mas esperou demais e foi embora. Talvez seja minha culpa. Mas a casa dela era muito bonita.

Outra pessoa apareceu na minha casa hoje, dessa vez eu atendi mais rápido, juro. Eu não sei como é a casa dessa pessoa. Não quero que ela entre na minha casa. Mas ela parece gostar da minha casa, apesar de não ser tão bonita por fora, essa pessoa gostou da minha casa e quer conhecê-la. Essa pessoa parece animada. Minha casa está meio triste, vou deixar a pessoa entrar, talvez ela anime um pouco as coisas.