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"Tá, agora me diz as origens do teu músculo preferido."

Já estava ficando tarde. O sol estava se pondo, mas ainda tinha tanto para revisar. A prova de anatomia seria em menos de 18 horas e estava apavorada. Odeio o fato do nosso professor nunca passar um conteúdo completo, mas agradeço ao universo por colocar o David na minha vida. Sem ele, eu não lembraria de nem um terço do conteúdo. Estamos estudando na casa dele há quase seis horas, exaustos. Ele está sentado na cadeira da escrivaninha, com o macbook no colo, enquanto eu caminho na frente do seu roupeiro, tentando lembrar a resposta completa.

"Ok, o deltoide tem origem em três diferentes lugares: terço lateral da clavícula, acrômio e espinha da escápula. Tô certa?"

Ele sorriu, levantando o olhar para mim.

"Certíssima."

Soltei um ar que nem sabia estar prendendo, relaxando os ombros. Ele levantou a mão e demos um tapinha da vitória.

Ele tem sido meu melhor amigo na faculdade. Nos conhecemos por acaso, num dia em que estava perdida no campus. Por conta da pandemia, precisamos dividir a turma em dois grupos, tendo aula em conjunto apenas dois dias na semana. Num desses dias, acabei perdendo o ônibus de volta para casa. Estava doida atrás de ônibus ou até mesmo uber, já que não conhecia praticamente ninguém lá. Caminhava em direção ao ponto de ônibus, ao lado da biblioteca, quando esbarrei em David. Ele me perguntou por quê estava ainda na faculdade, já que nossa aula havia acabado há uma hora. Expliquei a situação e, com os olhos surpresos, me contou que morava há poucos metros da minha casa.

Vizinhos, colegas, amigos.

"Ok, próxima. Qual é o movimento antagonista comum entre os fibulares longo, curto e terceiro?"

Merda.

Merda.

Qual movimento que o fibular terceiro faz mesmo? Inversão e eversão? Dorsiflexão? Meu olhos começaram a se encher de lágrimas. Estou realmente precisando de uma nota boa nessa prova, então o desespero me afetou. 

"Não sei. Não lembro o movimento do fibular terceiro."

Me joguei na cama e sequei os olhos, soltando um soluço.

"Ei, ei. Não chora. Calma. Ele faz dorsiflexão. Você só não tava lembrando, mas agora vai lembrar."

David se deitou ao meu lado. Meu cérebro não aguentava mais estudar. Preciso de um tempo pra relaxar, descansar.

Fine line, do Harry Styles, tocava na alexa.

"Vamos, só mais essa. Se eles fazem dorsiflexão, o antagonista será qual?"

Ele realmente é um anjo, me olhando com aqueles olhos verdes e esperançosos. Conseguia sentir o calor do seu corpo chegando em mim. Respirei fundo e respondi:

"Plantiflexão."

Sorrimos juntos, sabendo que a resposta estava correta. Ele consegue me animar até nos piores momentos. Me assusta pensar que posso perdê-lo.

"Certíssima."

Ele levantou a mão para fazer o tapinha da vitória. Entrelaçamos nossas mãos no ar. Quando me dei por conta, estava segurando seus punhos contra a cama enquanto nos beijávamos. Um beijo calmo e caloroso, seguindo nosso ritmo. Os lábios macios de David pareciam feitos de seda. Esse garoto deve usar um hidratante labial poderoso. Suas mãos deslizaram pela minha cintura, torso, ombros, pescoço e bochechas, puxando consigo minha camisa.

Deus sabe como eu queria que aquilo fosse real.

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