tastes like strawberries.

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Eu superei.

O que nós tivemos foi intenso, apaixonante. Feliz e passageiro. Turbulento. Ele me fez chorar tantas vezes quanto me fez sorrir. Ele foi meu primeiro amor real, meu primeiro relacionamento duradouro, meu primeiro segredo. Ele foi o primeiro a me tocar e sentir como se nada mais importasse. Ele foi o primeiro a me fazer dar valor e amadurecer. Ele foi o primeiro a me fazer sentir ciúmes e desejo de posse. Queria-o para mim.

Como nada nesse mundo vem com facilidade, dessa vez não foi diferente. Nós terminamos – na verdade, ele terminou comigo – e decidimos continuar amigos. Esse é o problema: antes disso, éramos melhores amigos. A melhor dupla da faculdade. Numa conversa boba, aceitamos que algum dia acabaríamos juntos, ou que ao menos ficaríamos, e isso não afetaria nossa amizade.

Afetou.

Se tem uma coisa que posso afirmar com esse relacionamento, e deixo de dica para você, é que ficar com o melhor amigo vai, sim, afetar a relação. Não conversamos com a mesma frequência. Não saímos. Mal conseguimos nos olhar. O olhar de duas pessoas – ainda mais melhores amigos – que já tiveram algum envolvimento afetivo é muito diferente. Uma mistura de desejo com a excitação de lembrar de um momento. De saber que o que sentiam um pelo outro era tão forte que extravasou.

Mas ele escolheu outra. É claro que ele escolheu outra. Eu chorei, chorei muito. No dia que descobri, chorei até meus olhos incharem e minhas pálpebras arroxearem. Ele não me quis? Depois de todo esse tempo, depois de todos os nossos momentos, ainda assim eu não fui suficiente.

Meses se passaram. Fiz amizade com a namorada dele. Nos tornamos amigas e até voltei a conversar com ele, mas não do jeito que conversávamos. Dois anos depois, eles se mudaram juntos para um apartamento, muito grande e bonito. Ela me convidou para jantar, a fim de conhecer o lugar, criar intimidade. Perguntei se poderia levar um "casinho" meu (claro que chamei de 'meu namorado') e ela aceitou, muito feliz por mim.

Ela faria um macarrão chique que viu num programa culinário. Chegamos lá, eu e meu 'namorado', cumprimentamos os dois. Bebemos, conversamos, torcemos por um carinha da Fórmula 1. Jantamos, mas ele reclamou que faltava sobremesa.

"Vou ao mercado, pegar uns morangos e chocolate. Vamos fazer crepes."

Olhou para mim.

"Você vem comigo, não sei escolher morangos."

Mentira.

Descemos o elevador em silêncio. Entramos no carro em silêncio. Ele deu partida e saímos da garagem. Estacionou em uma rua lateral, algumas quadras de distância. Ficamos em silêncio por mais alguns instantes, até que perguntei:

"O que foi?"

Ele finalmente olhou pra mim. Sua expressão estava alterada, como se estivesse prestes a chorar e gritar ao mesmo tempo.

"O que foi? Por que você levou ele pra minha casa? Como você pode beijar ele na minha casa?"

Sua voz, ríspida e baixa, me atingiu de surpresa.

"Eu perguntei se podia levá-lo. Ela aceitou com felicidade."

"Você perguntou pra ela. Eu não esperava que você chegasse acompanhada."

Abaixou o olhar, com certa culpa.

Não conseguia acreditar no que falava. Depois de todo esse tempo. Depois de tudo.

"Foi VOCÊ quem terminou, lembra? Foi VOCÊ que gritou sobre não querer mais tocar no assunto. EU estava disposta. Por que você se importa com quem eu saio ou namoro?"

Percebi que estava chorando. Estavamos chorando. Pelo passado, pela nossa amizada, pelo nosso quase algo. Por uma história não completa, que não voltaria.

"Porque você ainda é minha. Você sempre foi minha pessoa. E eu sempre serei sua pessoa."

E não adianta negar.

Eu não superei.

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⏰ Última atualização: Jan 16, 2023 ⏰

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