Era inverno, o vagão lotado chacoalhava. O cheiro forte de urina pairava no ar, o choro de uma criança ecoava juntamente com o barulho do trem em alta velocidade. Não sabia quantos dias haviam passado ou quanto tempo mais demoraria para chegar naquele inferno. Estavam sendo transferido para outro campo de concentração, Auschwitz II em Oświęcim, Polônia.
Dentro daquela lugar apertado tinham cerca de oitenta pessoas, incluindo crianças de três meses e velhos de noventa anos, dentre eles estava Jakub. O garoto vestido com uma bela roupa que agora não passava de um maltrapilho, sujo e quase morto devido a fome, sentiu seu corpo ir bruscamente para frente devido ao trem que parou subitamente. Haviam chegado, um guarda bateu na porta de um dos vagão assustando as pessoas que nele estavam.
A porta foi aberta e a luz de um fim de tarde entrou naquele ambiente antes escuro, juntamente com o ar gélido que faziam seus pulmões queimarem. Após tantos dias naquela escuridão os olhos que ardiam e lacrimejavam demoraram a se acostumar com a claridade. A temperatura estando menos de 27° não causou nada aos corpos meio-mortos que desciam do trem tombando. Após uma longa caminhada chegaram aos portões de Auschwitz, havia uma frase na entrada escrita:
"Arbeit Macht Frei"
O seu significado era claro: "O trabalho liberta", não passava de uma grande mentira. Foram levados em fila, passando pelas estradas e corredores de cercas elétricas, as pessoas que já estavam ali a um tempo encaravam o chão sem esperanças, sem força, sem vida.
Ao levantar a cabeça viu um cenário de puro ódio, pessoas tão magras que poderiam quebrar com o mínimo toque estavam em todos os lugares, muitas pareciam estar mortas no chão. As roupas tão desgastadas como se tivessem sido usadas por dezenas de pessoas durante anos. O inverno violento da Polônia congelava os ossos daquelas pessoas, encaravam a cerca e as pessoas que passavam através dela. Um olhar inexpressivo, não havia ódio, tristeza, dor, muito menos esperança. Aquilo era angustiante.
Eram como cascas ocas que caminhavam sem rumo, vivendo da forma mais miserável possível. Indagou em pensamentos: "Como é possível existirem pessoas tão ruins quanto essas?". Apesar de ser apenas uma criança, ele sabia muito bem qual era a sua situação. Após ter sido separado de seus parentes quando fora deportado para o principal campo de extermínio. Pensou no quão tolo seu pai foi por acreditar que poderiam viver bem mesmo escondidos do mundo. Foram traídos pelas pessoas que diziam ser "amigos"e "família". No fim isso não passava de uma tolisse.
Quando finalmente adentraram em um dos prédios, mais alguns guardas entraram. Muitos deles pareciam ser muito jovens, em seus rostos destaca-se uma expressão de arrogância, alguns deles apontavam as armas para os prisioneiros.
- Tirem sua roupas e qualquer outro pertence! - Um dos guardas gritou.
Imediatamente as pessoas tiraram, a dor, a fome, a sede, o cansaço, tudo era grande demais pra se importar com a vergonha de estar desnudo diante de tantas pessoas. O som das vestes e objetos pessoais caindo no chão ecoou no cômodo um pouco escuro.
- Façam fila!- todos obedeceram - Menores de 12 anos e maiores de 55 me sigam. - Ordenou um homem saindo do recinto.
Não haviam muitas crianças e sim muitos velhos e mulheres grávidas, as pessoas os seguiram amedrontadas. Jakub sentiu algo ser passado em suas costas, virou e viu um dos guardas o pintando com algo que fazia sua pela doer e arder. Era creolina. Ao terminar foi-lhe entregue um conjunto de roupas sujas listradas de um tamanho maior que o seu corpo magro. Após vestir foi empurrado com agressividade para outro cômodo juntamente com as demais pessoas ali. Outros senhores um pouco mais velhos e pareciam estar na mesma situação que os recém-chegados com roupas sujas, muito magros e cabeça raspada.
Essas pessoas rasparam sua cabeça, e os cachos escuros que sua mãe tanto amava caiam naquele piso imundo, estava atônito, seu corpo era apenas puxado de um lado para o outro. Após uma dor fina e intensa ser causada em seu braço, uma série de números foi cravado no local com uma caligrafia terrível. 3845. Sua pele não sangrava, mas queimava e formigava dolorosamente, iria chorar mas fora interrompido por um grito.
Uma das poucas crianças ali chorava desesperadamente no chão em posição fetal. Gritava implorando por socorro enquanto lágrimas pesadas escorriam incessantemente pelo seu rosto manchado de terra. O sangue que secou rapidamente devido ao frio era um vermelho intenso. Um dos jovens guardas que disse se chamar Bruno D. apontou um baioneta em direção ao garoto o mandado levantar.
O menino atônito levantou-se, suas pernas tremendo e as lágrimas ainda rolando sobre seu rosto só que agora silenciosamente, com a cabeça baixa ele pediu perdão e o guarda simplesmente o ignorou chamando-o de "verme" e saindo da sala. Os demais caminharam para fora, o frio mais agressivo que nunca. Cortando a pele com feridas abertas e causando dormência aos corpos que tombavam a cada passo.
Era quase noite, o lugar onde dormiriam era totalmente fechado, com janelas emperradas e tão sujas que nada se podia ver do outro lado. O espaço que era iluminado por duas lamparinas dava a visão de "beliches", mas no lugar de colchões eram tábuas. Três tábuas, uma no chão, outra no meio e última em cima. Todos foram empurrados para dentro e a porta trancada logo em seguida.
As pessoas começaram a se deitar e eu decide ficar o mais perto possível das iluminarias. Não haviam camas para todos então alguns tiveram que dormir em dupla. O garoto de mais cedo ainda parado na porta tremendo teve sua atenção roubada por Jakub que o convidou a deitar com sigo na cama do meio. Ele se aproximou ainda hesitante lhe me encarou, deitou a cabeça sobre seu braço dobrado e fechou os olhos.
— P-posso deitar perto da parede? Estou com muito frio — Sussurrou em norueguês, apesar da pronuncia ser um pouco ruim e ele ter o sotaque alemão Jakub mesmo assim conseguiu entender. Afastou-se ainda de olhos fechados e sentiu a madeira ranger quando o garoto deitou ao seu lado. Não percebeu quando dormiu, mesmo com o outro tremendo muito, o que lhe incomodou bastante, ele dormiu.
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Holocausto
Fiksi SejarahJakub é um garoto norueguês de uma família rica de judeus. Após uma mudança inesperada de casa uma notícia chocante faz com que a sua família se esconda. A segunda guerra mundial que trouxe com ela inúmeras mortes. Jakub foi uma das vítimas do nazis...