Prólogo

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Frio. É a primeira coisa que sinto. Não era para eu estar com frio, era para eu estar morto. Mas será que eu estou morto? Será que esse é o pós vida que todos falam?  Não acho que seja, mas, bem, ninguém que morreu realmente pode descrever como foi porque isso é meio impossível, mas essa não é a questão no momento. Eu só sei que estou com frio, mas não um frio intenso, mas sim como se tivessem deixado a janela aberta em uma tarde de outono. E isso é a única coisa que sinto, frio.

Logo, outra sensação me atinge, dor. Muita dor, como se uma manada de hipogrifos tivessem passado por cima de mim. Todo meu corpo dói. A sensação de como se meus ossos tivessem sido triturados. Sinto que mesmo se eu tivesse força, que no momento está em falta, eu não conseguiria me mexer, por conta da dor.

A terceira sensação que me alcança, é o escuro. O breu. Só o que eu vejo, ou o que não vejo, é a escuridão, talvez seja por eu estar de olhos fechados, ou eu acredito que esteja, não tenho muita certeza das minhas condições físicas no momento.

O conjunto dessas três coisas me traz, novamente, o pensamento de que estou morto. Mas se estivesse morto, não sentiria dor, melhor dizendo, não sentiria nada. Então, chego a conclusão que eu, por algum milagre de Salazar, sobrevivi. Por mais que a ideia da morte me parecesse bem mais atrativa e tentadora. Seria muito mais fácil se eu tivesse morrido naquele lago. Seria muito melhor se eu tivesse morrido em qualquer outra situação. Seria tão mais fácil, todos esses sentimentos e dor iriam simplesmente sumir, e o problema estaria resolvido.

Imediatamente, me afasto dessa ideia. Não poderia, não agora. Eu tinha que resolver isso primeiro. E também, não poderia deixar ele sozinho, nós temos que resolver essa situação entre a gente. Tinha muitas coisas para serem feitas, problemas para serem resolvidos e pessoas que tinham que destruir, tinha que matar ele. Não poderia morrer, pelo menos, não agora.

Sou afastado dos meus pensamentos meio mórbidos ao ser atingido por uma quarta sensação. Os sons a minha volta. O primeiro, mais alto e persistente, é um bipe que sinto que está muito próximo a mim. É um barulho irritante e é reproduzido repetidamente. Bipe. Bipe. Bipe. Bipe. Logo, ouço vozes meio distantes, sons de passos, ouço alguns outros bipes só que mais distantes, além de as vezes ouvir sons de rodas, mas que passa rapidamente.

"Aconteceu alguma coisa?" pergunta uma voz masculina.

"Achava que tinha... mas acho que não" responde uma outra voz, mais delicada, feminina.

"Ele está assim há muito tempo, não acho que vai acordar agora. Eu ainda fico surpreso por ele ainda estar... você sabe." ele diz com uma certa melancolia, mas ainda sim há surpresa em sua voz.

"Ainda não entendo como ele não envelheceu nada durante todo esse tempo, se não soubesse que isso é impossível, diria até que está mais novo." a mulher diz pensativa.

"Bom, sabemos que é impossível, mas também me surpreende. Mas você pensou na minha proposta? Você sabe que é..." responde o homem, e sinto que eles se afastarem, não consegui terminar de ouvir o que falavam.

Sinto todos essas sensações, sons, frio, dor, tudo se esvair novamente, ao perceber que estou perdendo minha consciência, novamente. A última coisa que sinto antes de me perder no vazio da minha mente, é a dor.

...

Acordo novamente, ou eu acredito que estou acordando e o frio, que antes eu sentia, eu não sinto mais. Sinto um cobertor quente e fofinho sobre mim, talvez seja por isso que não estou mais com frio.

Só o que eu quero fazer agora, é me aconchegar mais nesse cobertor, ficar quente e voltar a dormir, para que eu tenha força, já que sinto minhas energias esgotadas.

My little starOnde histórias criam vida. Descubra agora