Viktor Orlov é tudo o que eu jamais serei: rico, exuberante, poderoso e inesquecível. Ele também é meu vizinho há mais de dois anos, mas nem por isso sabe da minha existência.
Eu, no entanto, alimento uma paixão platônica por ele desde o dia em que...
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Nunca uma corrida de carro foi tão angustiante quanto essa. Andrei não desviou o olhar de mim um único instante. Não posso imaginar como ele é capaz de dirigir e ainda me escrutinar pelo retrovisor, mas é o que tem feito nos últimos minutos.
Minha mãe costumava dizer que as mentiras fedem. Dizia isso quando confrontava o meu pai, algo que acontecia com frequência, principalmente nos últimos anos de vida dele.
Mas, se as mentiras realmente fedem, imagino que somente Andrei possa sentir o cheiro das minhas agora.
Poderes especiais de assassinos de aluguel, eu deduzo.
Viktor ocupa o banco do passageiro e desde que saímos do nosso prédio, não parou de digitar em seu celular, alheio aos olhares que o seu motorista me dirige.
Sentei-me no banco de trás, onde o assento de bebê de Mika está, e agora estou segurando a sua mamadeira enquanto ele a suga avidamente. Alimentá-lo tem sido uma boa distração, mesmo assim meus nervos estão à flor da pele.
Onde está a outra babá? A verdadeira? Aquela que conquistou o direito de estar aqui?
Ela não pode simplesmente ter desaparecido feito fumaça, ou será que pode? E se ela aparecer no aeroporto?
O barulho de Mika sugando o ar em sua mamadeira — porque o leite já terminou e sequer me dei conta — traz-me à realidade. Sorrio para ele, afastando a mamadeira com cuidado, mas um inevitável som de "Ploft" se faz audível quando ele finalmente a solta e logo em seguida arrota. Contudo, esse arroto não significa que está bem alimentado, porque ele começa a chorar.
Como ele ainda pode sentir fome após beber tanto leite assim? Ele é faminto demais para a sua tenra idade.
Debruçando-me sobre o seu bebê conforto, cubro-o e tento acalmá-lo com palavras suaves. Acontece que tudo o que consigo é fazê-lo chorar ainda mais. Além de um bom apetite, ele também tem pulmões potentes para o seu tamanho.
— Está tudo bem — sussurro, afagando o seu rosto. — Está tudo bem, bebê.
— Há uma chupeta no bolso externo em sua bolsa — Viktor diz, tão calmo que sequer se digna a dirigir o olhar. — Ele não a usa sempre, mas o ajuda a dormir.
— Tudo bem. — Meneio, buscando rapidamente a chupeta na bolsa que está ao meu lado.
Mal encosto o bico arredondado na boquinha de Mika e ele o puxa de mim, chupando a chupeta com a mesma ansiedade que destinou ao bico da mamadeira. E agarrando o seu cobertor com uma das mãos, ele gradativamente se acalma e dorme.
Tenho ciúmes da sua calma agora, já que sinto o oposto dela neste momento.
Você mesma se colocou nesta confusão, Aurora. A minha consciência me acusa. Pergunto-me se é tarde demais para abrir a porta e saltar do carro. Quem sabe quando pararmos em um sinal vermelho eu possa fazer isso. Acontece que, para o meu azar ou sorte, nós não paramos em nenhum.