Eles moram na cidade de Guarás, no interior do Estado de São Paulo, com um pouco mais de 200 mil habitantes. Ao saírem do prédio, se direciona ao seu local de trabalho. Ela é uma professora de História. A escola fica localizada uns 300 metros do seu apartamento, na frente do portão o zelador lhe cumprimenta com um 'bom dia' transmitindo boas energias. Os alunos se encontram em vários pontos do pátio, conversando, rindo na sua normalidade habitual. Na sala dos professores, todos ficam conversando sobre os vários assuntos. E quando Knarig entra se instala um breve silêncio deixando-a constrangida.
— Senhores, a nossa ilustre professora e seu marido irão viajar à Armênia no final do mês, ele é um compositor. Ele irá apresentar uma nova composição para os conterrâneos.
Todos os colegas batem palmas, ao soar sinal para iniciar a primeira aula ela escuta junto disparos. Antes de ir para a sala de aula, coloca o seu material sobre a mesa na tentativa de se recompor a diretora pergunta.
— Professora, está tudo bem?
Knarig não responde somente consente com sua cabeça indicando positivo. Depois de alguns instantes ela sai da sala dos professores. Em sala começa a sua aula falando sobre a história do Brasil, ao ser interrompida por dois homens fardados na porta da sua sala. Assustada pergunta.
— Senhores, em que posso ajudar?
Um deles responde.
— Me perdoe, pela intromissão, nós temos algumas perguntas a serem feitas.
Sem conseguir entender o que está acontecendo se direciona ao corredor e olhando diretamente aos dois soldados pergunta.
— Aconteceu algo com meu marido?
— Não.
Ela recebe em suas mãos duas fotos, com seu semblante pálido volta a perguntar.
— O que está acontecendo aqui? – devolve a foto.
— Pelo que vi, a senhora recebeu a visita desses dois homens? Nós estamos procurando por eles. Recebemos informações que esses dois são agentes comunistas...
Knarig sem conseguir compreender a complexidade da pergunta responde.
— Senhores, não os conheço...
Um dos soldados consente com sua cabeça e volta a comentar.
— Se os virem ligue à polícia...
Assustada permanece no corredor observando os dois soldados direcionando à escadaria. E antes de voltar à sala ela é surpreendida por uma colega.
— O que eles queriam?
— Saber se vi duas pessoas... perguntar a mim foi muito estranho...
A colega exibe olhar de desconfiança ao observar Knarig voltar para sala.
Faltando alguns minutos para terminar a terceira aula da manhã, quando a diretora se aproxima da sala da turma do oitavo ano B.
— Professora, podemos conversar?! – apresenta um tom sério – e traga seu material já.
Rapidamente Knarig sente frio na sua barriga, durante o caminho para o gabinete da direção diz para si mesma "o dia de hoje está tenso". Ao entrarem as duas sente—se à mesa.
— Professora, eu fiquei sabendo da conversa com os dois militares. Não quero ter problemas com eles. Os militares nunca foram de brincar, para poder te ajudar, é preciso ouvir de ti que não teremos eventos como esse...
— Senhora, eles me perguntaram se tinha visto dois homens recentemente. Eu disse que não os conhecia... – nesse momento soa o sinal para o intervalo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lockfsthen
TerrorKnarig e Vahagn Gasparyan são dois armênios descendentes dos sobreviventes do genocídio armênio (1915-1923), como muitos outros vieram para Brasil na tentativa de reconstruir as suas vidas. Ele é um compositor renomado, e quando recebe uma encomenda...