Capítulo dois; Rubinho nunca tem paz

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E assim seguimos.  A viagem seria longa, cerca de oito horas até que saíssemos de Carpazinha até a praia mais próxima.  Eu me encontrava na porta direita do fusca azul-marinho.

Lembrei-me de uma velha brincadeira; fusca azul.

Soquei sem muita força o braço de Joui, ele me olhou sem entender, ate que eu apontei para o teto do carro e ele caiu na gargalhada, acordando Erin, que sem entender o porquê do asiático estar tão vermelho, deu uma risadinha sútil da cara dele e se encostou na janela, que estava fechada, da porta do carro.

— Cesa! — Joui limpou as lagrimas dos cantos dos olhos, como se estivesse sofrendo um ataque de cócegas, ele me olhou, e, com uma enorme cara de idiota, eu ri também.

Erin, que talvez tenha lido minha mente, levou as mãos até a barriga de Joui e realmente iniciou uma série de cócegas no garoto. 

— Toma essa! — Ela riu enquanto o Jouki se contorcia em leve agonia. 

Algumas, poucas, horas antes, Joui havia espirrado coca-cola pelo nariz em cima de Erin por uma piada idiota de Thiago.

Olhei para os dois, Joui ria, já não se importando tanto com as cócegas, Erin gargalhava meio jogada por cima do japonês. Desfiz o sorriso gradualmente, talvez eles se gostassem, e não admitiria, mas eles formariam um casal maneiro.  Não entendia ao certo o motivo exato para que u me sentisse tão... acabado? É, essa era a palavra. 

Era normal sentir ciumes do seu melhor amigo, certo? Quer dizer, suponho que sim.

Desviei o olhar para a estrada, que passava em 'flashes' rápidos pelo vidro da janela. As cores da estrada seca e pouco vegetativa, assemelhava-se a um ambiente de Caatinga ou algo parecido, podendo ser notadas poucas arvores, mas em sua grande maioria com galhos secos e tortos, outras, em muito menor quantia, apresentavam folhas, quase, mortas e caules judiados pelo sol quente e calor daquela região da estrada. 

Se não estava animado antes, agora estava menos ainda, e não entendia bem o motivo, mas agora o tédio e a sensação de vazio haviam me consumido internamente. 

Optei por pegar meu celular e os fones de ouvido no bolso do moletom, os conectando em um ato rápido, não demorei para abrir uma 'playlist' que havia baixado no spotify para poder me desligar do mundo com mais facilidade.

— Cesinha? — Liz me deu um leve tapinha enquanto fazia um contorcionismo esquisito para poder olhar para trás. Ela me ofereceu algo embrulhado em papel alumínio, com um iogurte de saquinho, daqueles de criança mesmo.

 Aceitei, estava com fome, pois só havia comido aquele pedaço de 'pizza' por volta das 8:00 da manhã, e agora se passava pouco do meio-dia, estávamos na estrada já faziam três horas, ainda faltavam quatro ou cinco para chegarmos em nosso destino, então era provável que  fizéssemos uma breve parada em alguns minutos.

O celular de Thiago tocou, Liz deu uma olhadinha e viu o nome de Ivete brilhando no ecrã da tela.

— Mor', é a Ivete. — Disse a mulher antes de atender a chamada. — Alô, Ivete? — Elizabeth colocou no viva-voz

— Tem como a gente dar uma paradinha? O Arthur vomitou em cima do Rubens. — Ela disse e Liz deu vários tapas no braço do namorado.

— Ai, ai! Elizabeth! — O Fritz parou o carro no acostamento ao avistarem um posto de gasolina.

Liz desceu do carro assim que Balu estacionou atrás do fusca. Ela correu até a porta e ajudou Arthur a sair da caminhonete prateada. Quem dirigia era Ivete, que também não demorou muito para sair do banco do motorista para ajudar o filho a terminar de vomitar todas as porcarias que comera no carro durante, menos, da metade da viagem.

— Eu disse que não era uma boa misturar refrigerante, iogurte,  resto de  pizza de calabresa, dois cacetinhos e um pedaço de mortadela. — Carina saiu do carro com uma garrafa d'água, uma roupa que pegara na mochila de Arthur e uma sacola plástica para colocar as roupas vomitadas.

E por último, saiu Rubens, que possuía a feição em uma mistura de nojo e confusão interna.

— Roupa, nova. —  O rapaz olhou para Balu, como se procurasse algum tipo de solução para o seu problema.

Sai do fusca para estirar as pernas, Joui abraçou-me pelos ombros e bocejou ao se espreguiçar. 

— Vou lá pegar uma roupa pro Arthur. — O asiático disse, deu três tapinhas leves e mim e se distanciou.

Joui pegou uma muda de roupas para Arthur, como havia dito, mas não eram as roupas do próprio Arthur, e isso me fez rir.

— Ele tá com a minha saia?!? — Liz disse indignada vendo Arthur usando uma saia longa preta e uma blusa de surfista. — Que porra?!?

— Não achei a mala do Arthur-san, então peguei roupas na mala da Senhorita Liz e do Thiago-sensei. — Jouki disse em um tom inocente e leve.

— Aí senhor, vem Arthur eu sei onde tá tua mala. — Ri e abri o porta-malas do carro, pegando assim uma nova muda de roupas para Arthur, esse que correu para o banheiro do posto de gasolina para se trocar.

Enquanto isso, Balu terminava de limpar sua caminhonete, resmungando vez ou outra que aquilo estava difícil de sair.

Em mais ou menos meia hora, todos já estavam de volta aos carros, Daniel havia ligado pouco antes do fatídico acidente do vômito, dizendo que iria na frente para poder pegar a chave da casa de praia e colocar a cerveja pra gelar.

Entramos no carro novamente e eu dei um soco em Erin, agora me encontrava entre ela e Joui.

— Fusca azul, porra! — "Gritei" e dei uma risadinha, recebendo uma série de cascudos da garota.  Não gostava muito de contato físico, muito menos de muitas pessoas, mas eles eram praticamente minha família, e perto deles eu me sentia em casa. Eles eram minha casa.

— Fusca azul minha rola! Me dá uma mamada, nerdola! — A ruiva disse me dando um mata leão sem machucar muito, eu ria e ela também, mas Joui parecia meio disperso da situação, e notando isso, eu e Erin nos jogamos em cima dele em uma série de cascudos e cócegas nos três.

— Antes da gente ir, Erin, a Ivete pediu pra você trocar com o Arthur, ele tem alergia aquele pinho verde, aí o BALU não sabia e tacou no carro com desinfetante, tá legal pra você ir? — Thiago disse colocando o cinto.

— Eita, que tá na minha hora de parar de sentir essa catinga de peixe morto vindo do moletom do Césa. — Erin zombou, pegou seu travesseiro e bolsinha com comida e saiu do carro, dando espaço para Arthur que entrou animado. E mesmo tendo vomitado todo o seu café da manhã minutos antes, ele não parecia enjoado.

— Eu já disse que meu moletom não fede! — Cruzei os braços e vi senti Arthur farejar meu ombro, torcendo uma careta em seguida.

— Caralho ela tá certa, fede mesmo. — O garoto disse e colocou o cinto, antes jogando uma bolsa com comida em seus pés.

Joui também deu uma leve farejada em um dos meus ombros e tossiu leve.

— Tem o mesmo cheiro do jaleco da Senhorita Liz. — Ele disse em um tom suave.

— Ih, te chamou de fedorenta. — Disse Thiago dando partida no carro.

— Não é bem fedorenta, mas é uma mistura de odores. Já pensaram em lavar isso com água sanitária? — Jouki deu uma risadinha e Luz revirou os olhos.

Pelo resto do caminho, Arthur e Joui foram cantando as músicas da lady gaga que tocavam no rádio, vez ou outra sendo acompanhados por Thiago, enquanto eu só tentava dormir um pouco, mas era sempre chacoalhado pelos outros dois em meus lados.

Eu os amava, e sabia que eles me amavam também, afinal, éramos uma família.

"É nois pra sempre. Até em outras vidas" Pensei com um sorriso de canto suave antes de adormecer.


Aquela viagem de fim de ano.Onde histórias criam vida. Descubra agora