Capítulo três; enfim, praia.

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Lembro-me bem de ter acordado com Arthur gritando em meu ouvido que eu era um "virjola" e que não pegaria ninguém se continuasse daquele jeito. Não que ele estivesse erado, na real eu nunca tinha  sequer sentido atração por alguém antes, e se senti, provavelmente ignorei. 

Eu nunca fui muito disso, sabe? Só... ficar sem comprometimento, aquilo até me assustava um pouco. 

Após acordar um pouco mais, saí do carro e peguei minha mala, entrando na casa de praia alugada. Passaríamos o fim do ano ali. Natal e ano novo, como era nossa tradição.

A casa em si não era muito grande, mas era confortável o suficiente para todos nós.  Escutei alguns barulhos vindo da parte de trás da casa, que aparentemente ficava à beira-mar. Pude ouvir risadas altas e logo um cheiro forte de carne na brasa se espalhou por todo o ambiente. Presumi serem Daniel, Agatha, Alex e Dante, já que eles haviam chegado antes de nós. 

— Ei, Césa vamo' ficar no mesmo quarto com o Dante! — Disse Arthur jogando a mala no sofá da simples sala e tirando as roupas ali mesmo, exibindo sua roupa de banho estampada de abacaxis de óculos de sol. 

— Seu sem vergonha! — Gritou Ivete para o filho, mas até mesmo riu ao (constatar) os trajes do menor. 

— Vamo' bambina, quanta coisa pra' duas semanas. — Balu carregava as malas de Carina para um dos quartos livres enquanto a garota se livrara da jaqueta e prendera o cabelo pelo calor.

Ri baixo, gostava bastante da atmosfera caótica da minha "pequena" família, e por mais que não admitisse isso, amava cada momento que passava com eles. Por isso, peguei a câmera polaroide na minha bolsa e fotografei a visão que tinha dos fundos da casa; O momento exato em que Arthur pulava na piscina, Agatha e Beatrice brincando com pistolas d'água, Dante embaixo de um guarda-sol lendo, Daniel na churrasqueira e Alex tomando sol calmamente quase dormindo. 

Peguei a mala de Arthur e fui levando até um quarto, esse qual deduzi ser o que Dante estava, talvez sozinho. Tinham três camas, uma mais ao centro, de solteiro, outra no canto da parede, também de solteiro e, incrivelmente, uma de casal perto da enorme janela. Será que Arthur estava querendo me dizer algo? 

Cloquei minhas coisas em cima da cama que ficava no canto da parede, vendo que a cama de casal estava ocupada  com uma pilha de livros, uma mala pequena, e agora com as coisas de Arthur. 

Rolei os olhos novamente antes de sair do quarto, era incrível como Arthur fazia de tudo para ficar perto do engomadinho do Dante, o que ele tinha de especial, afinal? O cara só era míope e tinha cabelo longo. 

Eu também tenho cabelo longo. O meu ainda é mais hidratado. 

— César-kun? — Virei, e não sabia á quanto tempo Joui já havia posto sua roupa de banho, mas provavelmente fiquei divagando sobre Arthur e Dante por uns bons minutos. 

Ele abriu seu sorriso fino com tranquilidade, o que fez seus olhos ficarem miúdos e, quase, desaparecerem no rosto do asiático.

— César-kun? — Joui repetiu, e só então sai de meu transe mental.

— Ah, sim? Eu? — Envergonhado, desviei os olhos para a parede e cocei a nuca sem jeito.

— Vem, falta só você. — Ele segurou minha mão e praticamente me guiou ate o quintal da casa. E realmente, estavam todos ali, ou pelo menos boa parte.

Thiago e Balu cuidavam da churrasqueira e riam sobre alguma coisa. Provável que fosse alguma piada sem graça de Antônio, mas não fiz tanta questão assim de ouvir. Liz tomava sol e folheava alguma revista com moda de praia, Rubens estava na praia com Arthur, faziam  um castelo de areia na sombra e  enfeitavam com conchas e pedras, Dante se encontrava sentado em cima da mureta que era o único limite da casa com a esbelta praia, Beatrice estava ao seu lado e ela olhava para algumas jogando vôlei, os vizinhos da casa ao lado. 

Apenas escutei Dante resmungando e então Bea desceu da mureta e fora jogar com os vizinhos.

Chegava a ser engraçado o quão ciumento Dante era em relação à irmã caçula, por mais que essa já beirasse os 18 anos.

Ainda não usava roupa de banho, mas não faria questão de pôr ela. Vi o prato carno recém-assada em cima da mesa redonda de madeira polida e esguio como um gato, pego alguns pedaços, saindo despercebido pelos demais, distraídos o suficiente para não me notarem ali. Meu plano seria perfeito, senão fosse por Ivete ter me agarrado pela gola da camisa, como uma mãe leoa agarra seus filhotes, era uma comparação estranha, porém muito realista.

— Menino! O que tá fazendo? — Ela me disse  com um sorriso ladino. 

— Nada tia! — Disse atochando os pedaços de carne de uma  vez na boca, o que era para parecer menos suspeito, mas obviamente não havia dado certo. 

Me sentia uma criança sendo pega no flagra. Então, como  se me refendesse, ri um pouco encolhendo os ombros e engolindo a carne.

— Toma vergonha na cara, Cesar! — Disse Ivete me soltando e indo buscar uma cerveja.

Ela usava um maiô azul-marinho, com uma blusa de botoes com estampa de praia, claramente aquilo não era seu pelo tamanho maior que deveria. 

Escutei Balu reclamar com ela pela camisa roubada e arregalei os olhos, não tão, surpreso, então era literalmente por isso que haviam chamado o tio da cantina? 

Arthur pulou a muretinha de volta para a casa e pulou em cima de mim, me sujando de areia inteiro.  não liguei tanto, até ele jogar um bolinho de terra no meu cabelo e sair correndo. Às vezes me pergunto se Arthur tem realmente 17 anos, ou se é só uma criança grande demais pra idade.

— Porra, Arthur! — Xinguei batendo à terra do cabelo obviamente sem sucesso. 

— Cesar! Palavão! — Joui surgiu atrás de mim e me deu um tapa no braço.  

Olhei-o indignado e abri a boca parta resmungar. 

— Na moral, o cara tá pegando minha mãe?!? — Me distrai ao olhar e ver Arthur com um olhar levemente ofendido na direção de Balu. — Quero que minha velha seja feliz, ela já passou por muita merda, mas... Precisa ficar pegando ela na minha frente não! — Ele disse pegando uma latinha de refrigerante no 'cooler' para beber. 

— Calma, campeão! — Balu deu uma risada suave e bagunçou os fios rebeldes do cabelo de Arthur.

Ri e peguei mina câmera analógica no bolso do moletom e fotografei aquilo. Eram momentos como esse que queria eternizar, momentos em casa, momentos com as pessoas eram minha casa, minha família. 






Aquela viagem de fim de ano.Onde histórias criam vida. Descubra agora