O Voo da Borboleta

Capítulo 02 - Apenas Um Lembrete

E aqui estamos com mais um capítulo! Espero que gostem! <3

OOO

Capítulo 02 – Apenas Um Lembrete

Aquela era a sua visão do inferno. Ao menos um inferno pessoal: manhã, muita claridade, um grande quadro branco, calor, pessoas ao redor tagarelando baixinho – ou nem tanto – sons de mensagem de WhatsApp chegando... Já havia citado claridade? Isso era o que mais a incomodava e o fato de não poder usar seus óculos escuros dentro da sala de aula só deixava seu humor mais azedo.

— Dá pra colocar essa merda no silencioso? – rosnou para a garota ao lado... Juliana ou Laura, não se lembrava, e pouco se importava com qual era o nome dela também. Viu que ela resmungou alguma coisa ininteligível e aparentemente silenciou seus grupos no aplicativo.

Uma coisa a menos.

Respirou fundo e olhou para frente, ouvindo o que o professor falava, mas eram meramente palavras, que embora estivessem organizadas em sentenças limpas e compreensíveis, seu cérebro fazia questão de não processá-las àquela hora da manhã. Por Deus! Ela não era nada antes da uma hora da tarde. Por que foi escolher logo aquele curso da faculdade? Ou melhor, por que não podia ter um turno da noite? Tudo seria muito mais fácil e agradável: menos calor, nenhuma claridade natural, grandes oportunidades de caça após as aulas e quando o sol estivesse quase surgindo no horizonte, ela se recolheria à sua casa tal qual um vampiro, que se esconde da luz solar.

O barulho de mesas sendo arrastadas a tirou de seu devaneio e Vanessa olhou para o lado mais uma vez, vendo os colegas juntando as mesas para fazer alguma coisa em dupla. O que era? Não fazia a mínima ideia e nem estava com ânimo pra perguntar e ouvir o professor perder a paciência consigo mais uma vez por não ter prestado atenção como deveria.

— Prova em dupla – o rapaz que se sentou ao seu lado sorriu, após juntar suas mesas.

— Merda! – praguejou. Guilherme era praticamente o único que conversava com ela na sala, ou em todo o campus, já que todos os outros meio que desistiram de tentar depois de serem repelidos diversas vezes. Sua cara de poucos amigos e mau-humor matinal também não ajudava, mas parecia que nada disso fazia diferença para ele.

— Pois é – riu.

— Você sabe que eu não tenho condições psicológicas para fazer essa prova, né? – decidiu que era melhor, e mais honesto, avisá-lo de que não estava em condições de fazer prova nenhuma ou mesmo escrever o próprio nome sem erros de português. Sim, a coisa estava feia para o lado dela.

— Sei sim – Guilherme foi guardando o material desnecessário de Vanessa debaixo da mesa dela, enquanto era observado como se fosse um alienígena.

— Então por que quer fazer comigo? – ergueu uma sobrancelha, sem conseguir pensar sobre as motivações dele — Talvez seja melhor fazer com a Juliana... Aliás, ela gosta de você.

— Laura – riu, achando engraçado o fato dela nunca guardar os nomes dos colegas. Ao menos o seu, Vanessa nunca esqueceu ou trocou — O nome dela é Laura. Não temos nenhuma Juliana na sala.

— Que seja! – revirou os olhos.

— E alguém precisa salvar suas notas – disse divertido, vendo-a estreitar os olhos — Sei que não me pediu, Vanessa, mas farei essa caridade pra você!

— Engraçadinho! – socou-lhe o braço.

— Ai! Sem violência. Eu só falo verdades!

Antes que pudesse resmungar mais uma vez, o professor pediu silêncio à turma e passou distribuindo as provas. Como sempre, teve que parar por alguns instantes para olhá-la em reprovação, quase como se ressaltasse com seus orbes negros que estaria de olho para ver se ela estaria mesmo fazendo a prova ou se tudo ficaria nas mãos de Guilherme. Assim que ele se afastou, Vanessa resistiu à vontade de fazer uma careta e minutos depois deram início às resoluções das questões. Ou melhor, Guilherme o fez, ela apenas se achegou e apoiou a cabeça na mão esquerda, de modo que seus cabelos cobriam parte de seu rosto. Assim poderia fingir que estava dando alguma opinião referente às perguntas. Fingir fazer isso não era tão difícil assim.