Aqui, a primeira e mais importante regra é o silêncio. Ninguém pode saber da existência da organização ou das nossas atividades. Quem abrir a boca, morre. A sensação de poder e controle é palpável no ar pesado. Com cada passo que dou, o eco do meu movimento no piso de mármore é um lembrete da seriedade desse lugar. Cada um dos dezoito homens ao meu redor está usando sua máscara veneziana, ocultando não apenas seus rostos, mas suas verdadeiras intenções. Isso faz parte da regra número 2: identidade oculta. As verdadeiras identidades permanecem enterradas sob camadas de anonimato.
À medida que as portas se abrem, uma onda de opulência invade o ambiente. O teto, pintado com cenas renascentistas, e as cortinas de veludo escarlate criam uma atmosfera de luxo, enquanto a brisa do mar flui suavemente pelas janelas. Mas eu sei que, por trás desse esplendor, negócios sórdidos ocorrem. Aqui, a hierarquia é rigorosa. Ordens vêm de cima e não se discutem. Meu olhar se detém em Kaito, que está ao meu lado, seu olhar vigilante como sempre. Ele é a única conexão que tenho com o que desejo.
A mesa central brilha sob a luz, com uma tela de LED gigante que aguarda o leilão. Todos os outros recebem seus tablets, instrumentos para a transação que se aproxima. Mas eu permaneço sem o meu, e a frustração começa a borbulhar.
— Por que não me deram o tablet? — pergunto, ajustando as luvas com uma irritação que não consigo conter.
Kaito responde, sua voz calma e firme: — Porque você saiu da Sociedade.
Sinto uma onda de eletricidade percorrer meu corpo. A minha saída teve consequências. Agora, dependo dele para alcançar o que desejo.
— Mas estou aqui agora, não é? — insisto, tentando manter a ansiedade em cheque.
— Você vai ficar de fora do leilão. No próximo, receberá o seu passe de volta. — Ele é direto, sem espaço para debate. Um aviso silencioso em seu olhar sugere que a decisão não é dele, mas de quem está por trás da cortina de veludo.
A tensão no ar se intensifica à medida que a primeira imagem das mulheres aparece na tela. O coração acelera ao reconhecê-la entre elas. Ela é a razão pela qual estou aqui. Um pensamento distante sobre a regra número 7 me atormenta: a seleção de alvos deve ser cuidadosa. Mas não há ninguém mais que eu queira.
Kaito permanece impassível, mas eu sinto a expectativa crescendo entre nós. O filho da puta sabe o quanto ela significa para mim. Não posso me dar ao luxo de deixar isso escapar.
— Não importa o valor, compre-a! — sussurro, desviando o olhar da tela para observar os outros homens. Sinto o sangue ferver nas minhas veias enquanto ouço o número dela sendo murmurado.
Kaito me lança um olhar significativo por trás da máscara, sua expressão revelando uma provocação sutil: — Ela é realmente muito bonita. Tem certeza de que não quer reconsiderar? Posso entregar qualquer uma das beldades que tenho na minha coleção...
— Porra, você está de sacanagem comigo? — meu tom se eleva, e eu desejo que minha mão alcance seu pescoço. — Eu arranco a sua garganta com as mãos se me fizer essa proposta de novo!
Ele balança a cabeça como se lidasse com uma criança e, em um momento, a fúria me consome. O dinheiro e os favores que ofereci para garantir minha presença aqui valem cada segundo. Saí da Sociedade há anos, e, com todos os meus esforços, Kaito deveria saber que não estou aqui para brincadeiras.
Do outro lado da sala, noto Ates me observando. Deveria ter pedido a ele um favor, mas esta noite, ele não está aqui para comprar uma mulher. Seus objetivos são outros, e, por um instante, me pergunto se ele também está ciente da tensão que sinto em relação a Kaito.
Quando o leilão avança, concentro minha atenção exclusivamente nela. As outras mulheres na tela se tornam irrelevantes. Cada lance só aumenta minha ansiedade, mas mantenho a expressão neutra. Qualquer sinal de fraqueza poderia ser usado contra mim, e eu não posso me dar a esse luxo.
Quando finalmente chega o momento decisivo e o leiloeiro anuncia o início das ofertas, a excitação percorre meu corpo como um choque. Os lances começam a subir, e cada segundo parece uma eternidade até que, finalmente, o martelo cai e ela é vendida para Kaito. Para mim.
Respiro fundo, o corpo arrepiado pela excitação. Kaito coloca uma mão em meu ombro, mas minha mente está focada nela.
— Vou mandar a conta em breve. — Sua voz ecoa, mas mal presto atenção. Levanto-me e o sigo até os fundos da sala para entregar o tablet, ansioso para garantir que ela seja minha e levá-la comigo.
Finalmente, porra!
Ao passar pelo homem que sei se tratar de Ates, percebo que ele também adquiriu uma das garotas, marcada com um X vermelho. Círculos azuis significam escravos sexuais; X vermelho, órgãos. Sei exatamente por que ele está aqui.
Passo por ele e aceno rapidamente, o gesto discreto o suficiente para que apenas ele perceba. Mas nada mais importa neste lugar. Tudo o que eu quero é ela.
— Quando você enjoar dela, vou gostar de brincar um pouco. Me deixe saber, okay? — Kaito diz, olhando para Ates como eu. Sua voz é um incômodo.
— Haverá chuva no inferno antes que isso aconteça. — Minha resposta é cortante, e me irrita mais do que eu gostaria de admitir.
Dou as costas para ele, seguindo para a saída do salão. O meu plano está em andamento, e a entrega das mercadorias não deve demorar mais de um ou dois dias.
Envio uma mensagem para Warrenvich, dando-lhe carta branca para encaminhar o dossiê. Retornarei para casa com o que é meu de direito, custe o que custar.
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Born to Bleed
Romance"Corra. Caçar é mais divertido assim." Minha vida deu um giro sombrio e tortuoso desde que fui arrancada do meu mundo cotidiano e jogada em um pesadelo, nas mãos de Dante. Desde que a minha vida se transformou em um horror surreal que me manteve cat...