"Corra. Caçar é mais divertido assim."
Minha vida deu um giro sombrio e tortuoso desde que fui arrancada do meu mundo cotidiano e jogada em um pesadelo, nas mãos de Dante. Desde que a minha vida se transformou em um horror surreal que me manteve cat...
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Não sei há quanto tempo não vejo o sol. Um pequeno furo no teto é tudo o que revela um feixe de luz que corta o galpão, iluminando um espaço sujo e claustrofóbico. Os sons das gaiolas metálicas se misturam aos soluços das outras meninas, criando uma sinfonia angustiante que ressoa em minha mente. O que mais me intriga, no entanto, não é o desespero delas, mas a minha própria insensibilidade. É quase um alívio saber que elas ainda têm emoções. Faz tempo demais que fui arrancada da minha vida e jogada aqui, e, embora a situação seja assustadora, sinto-me estranhamente distante.
Olho ao redor, forçando a vista na escuridão para ver as outras garotas, todas acorrentadas como eu. Elas vestem roupas que não servem para nada, um mero pedaço de pano que mal cobre o corpo. Uma voz grave ecoa pelo alto-falante, ordenando que nos vistamos. Minhas mãos percorrem o tecido, sentindo a suavidade do cetim. É risível como estão preocupadas em se cobrir, quando deveriam estar pensando em como escapar.
Então, ele entra. Um homem alto, que imediatamente se destaca. As luzes se acendem, revelando seu rosto esculpido, repleto de linhas firmes que transmitem autoridade. Ele se posiciona entre as gaiolas, coloca uma câmera em um tripé e um notebook sobre a mesa. Ao seu redor, o desespero das outras garotas cresce; elas choram e imploram por liberdade, mas ele parece não ouvir, imperturbável. Isso me faz rir por dentro. Para ele, somos apenas mercadorias. E isso é hilário.
— Silêncio! — a voz ecoa, mas não é dele. O homem aperta um botão e um telão desce do teto. A forma como tudo é montado me faz pensar em quantas já passaram por aqui. O que faz essas situações tão recorrentes?
Enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto das outras, uma parte de mim se pergunta o que estou fazendo aqui. Por que eu? Não sou nada de especial. As outras garotas, com suas expressões desesperadas, não significam nada para mim. De repente, percebo a verdade. Sou diferente. Sempre fui. A necessidade de controle que sentia antes desaparece, substituída por um curioso distanciamento. Não é apenas raiva ou frustração. É um fascínio estranho pelo jogo em que estamos inseridas.
Observo cada detalhe, como uma aranha que tece sua teia. Não me importo com as outras; elas são uma distração, e eu não tenho espaço para vulnerabilidade. Estou irritada por estar aqui, sem entender como cheguei a esse ponto. Sempre fui esperta, sempre dominando as situações. Mas agora? Agora tudo parece uma comédia de erros, e eu sou a única a perceber.
E há algo sobre essa cena caótica que me atrai. O medo e a incerteza têm um apelo mórbido. Não é o desespero das outras que me fascina, mas a complexidade do que está acontecendo. Uma pergunta persiste na minha mente: até onde vai a perversidade humana?
Depois de alguns minutos, os rostos de algumas garotas aparecem no telão, marcados com um X vermelho. O homem em preto se dirige à garota loira que ainda chora, e a luz acima de sua gaiola se apaga. Dois homens entram e a arrastam, seus gritos ecoando enquanto ela se debate.
A cena se desenrola, e compreendo que alguém está nos selecionando. O homem com a câmera observa e marca as meninas com um X. Por que não faz nada com os círculos azuis que aparecem?