Essa noite eu tive um sonho estranho, fui até a lanchonete que a Ester gosta, lá vendem um pastel e um refrigerante como antigamente, uma delícia, a dona me ofereceu créditos para caçar um porco selvagem que corria pela cidade, ela também me daria pastéis feitos com sua carne, mas recusei porque o porco tinha o nome da minha família, então a dona chamou seu guarda, grande como um armário, e ele quebrou minhas pernas. Acordei em um susto, estava suado, mas esse não foi o pior sonho que já tive. Tenho que parar com os jogos, as coisas se misturam facilmente em minha cabeça.
Molly ficou preocupada, acordou com meu susto e com um comando de voz ligou a luz fraca para ver se eu estava bem, mas logo voltou a dormir sem apagar as luzes, como se aquilo ainda fosse um sonho para ela, eu me demorei pensando sobre meus sonhos e o que os causavam, até cair no sono novamente.
Cedo comemos o café da manhã juntos, eu, minha mulher e minhas filhas. Todas se preparando para sair para o trabalho e escola. Se não fosse Colinus, nosso SmartAssistant, que arruma toda a casa, acorda todos e lembra de nossas agendas, estaríamos perdidos. Ele só não cozinhava, mas já tinham outros assistants que cozinhavam ou até mesmo especializados nisso.
Molly estava agitada, mesmo tendo tempo para se acalmar, pois acordava mais cedo que todos, Ester era a mais nova e não se preocupava em atrasar, mesmo ansiosa para ver os amigos na escola, e a Laura passava como um vento que puxava o que ela precisava para sair, enquanto se vestia, com um pão na chapa entre os dentes e café com leite na mão.
- Vamos jantar juntos hoje? - perguntei, fazia tempo que era só eu e Ester.
- Eu vou, papai - respondeu ela.
- Provavelmente terminarei meu projeto esta tarde e nos próximos dias estarei livre - Molly programava e estava terminando algum aplicativo.
- Não contem comigo, vou estar no escritório o dia inteiro - tinham poucos dias que Laura foi contratada e estava empolgada com seu emprego.
- Farei a janta mesmo assim, estou afim de purê de batata - eu disse.
- Quando não está!? - Molly tinha razão, sempre faço purê. - Espero que consiga continuar sua história, estou gostando do que escreveu - disse e me deu um beijo de despedida.
Todas se despediram e eu fiquei novamente sozinho em casa, como todo dia. Apenas eu e meu computador, e meu querido console também, meu mundinho de distração. Após uma meta diária de escrita, fui para meu console, viver minha segunda vida. Não percebo o tempo passar enquanto jogo, então peço para Colinus me chamar para fazer a janta.
Ester já estava em casa quando saí do jogo, mexendo no seu celular. Parou assim que me viu, sabe que gosto de conversar e que penso que o celular é a maior distração para tudo.
- Oi papai, não quis atrapalhar seu jogo, cheguei tem algumas horas.
- Tudo bem, querida. Vou fazer a janta para nós, quer algo especial?
- Quero suco de laranja e um bife à milanesa.
- Já imaginava - respondi e fui até a cozinha, deixando-a com seu celular.
Terminei a janta e Molly estava em casa como o prometido, jantamos eu, ela e Ester, mas Laura não chegou, como avisou antes de sair.
Conversamos sobre a escola da Ester, o trabalho da Molly e minhas histórias e como iam os lazeres de cada um. Minha pequena filha começou a sair com seus amigos, ir à shoppings, comer fast food, um almoço completo era um luxo que tínhamos em casa porque trabalhamos para isso, mas os restaurantes eram caros demais para bancarmos com frequência.
Fazendas eram escassas no meio de tantas cidades verticais com prédios enormes, arranha-céus por todos os quarteirões e poucas casas. Isso porque as grandes corporações ocuparam todos os espaços livres com suas fábricas e lojas. Esse era um assunto que desinteressava nossa filha, claro, era só uma adolescente querendo participar dos grupos sociais da escola e internet. Colinus também entrou no assunto, quando a pequenina citou seu nome, algumas coisas que falava dava a impressão de ser gente e Ester o tratava como tal.
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Vermelho e azul
Misterio / SuspensoUm escritor, viciado em jogos e com problemas nos sonhos, tenta passar mais tempo com sua família. Mas parece que nunca conseguirá e começará a duvidar de sua própria realidade.