Seis minutos

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Observo a vegetação ficando para trás rapidamente devido à velocidade do trem. Antes haviam várias árvores no meu campo de visão, mas agora há apenas vegetação rasteira. Algumas flores solitárias se fazem presente de vez em quando.

Desviando para a pessoa à minha frente, corro meus olhos por Seonghwa, que descansa as mãos no casaco dobrado em seu colo. O rosto adormecido transmite uma paz de espírito raramente vista, os músculos relaxados e lábios rubros formando um leve bico me fazem sorrir involuntariamente.

Ele se ofereceu pra vir comigo à minha cidade natal esse fim de semana, já que minha mãe estava preocupada sobre eu viajar sozinho. Mesmo que eu já tenha feito isso outras vezes.

O caminho de Incheon para Seul é menos de uma hora e nesse momento eu já fiz muitas coisas para me tirar do tédio. Depois de ouvir música, ler e fazer um lanche, tudo que me restou foi observar a estrada aguardando o sono chegar. Seonghwa não teve esse problema, dormiu minutos depois que nos acomodamos.

Suspiro percebendo que só vou conseguir descansar de verdade quando chegar no dormitório. Bato meus dedos no braço da poltrona correndo os olhos agora pelo resto do vagão, que nem de longe está deserto.

Nas cadeiras à minha lateral esquerda há uma menina adolescente ao lado de uma moça mais velha segurando um bebê aparentemente quase adormecido. A menina mais nova está imersa em um livro grosso de capa escura e brilhante, embora suas pálpebras pesem hora ou outra. Há alguém na frente dela, mas não consigo ver o rosto.

A porta do vagão se abre e um homem adulto de cabelo longo e expressão exausta entra, fechando a porta logo depois. Ele se apoia em algumas barras até chegar na poltrona atrás de mim, onde se senta soltando um suspiro audível. Pelos ruídos ele deu um beijo em outra pessoa, uma moça de voz fina. O homem a informa de que o pai dele estará na estação de Seul esperando pelos dois. A moça pergunta se ele se alimentou e começa a mexer em uma bolsa ou mochila procurando algo depois que ele negou. Um agradecimento é ouvido da parte dele e então os dois se calam.

A menina da poltrona na lateral guarda o livro na mochila de couro e pega seu celular, bloqueando-o rapidamente antes de acomodar sua cabeça no estofado e fechar os olhos. A mulher ao lado dela olha para a pessoa à sua frente e se inclina para falar alguma coisa em volume baixo antes de entregar o bebê cuidadosamente para a outra pessoa. Ela se levanta e sai do vagão, provavelmente procurando o banheiro.

Seonghwa pende a cabeça para o lado por causa do balanço do trem. Não parece uma posição que o deixará com dor mais tarde.

Tem dois homens sentados nas poltronas à minha esquerda, um jovem de, no mínimo, 17 anos e outro bem mais velho portador de fios brancos na cabeça. O primeiro tem um sorriso no rosto enquanto mostra algo no celular. Ele passa o polegar de um lado para o outro na tela enquanto fala suavemente com o mais velho, que ri baixo de vez em quando.

Me espanto levemente ao ver Seonghwa alongando seus braços, abrindo os olhos escuros e brilhosos e mirando-os na minha direção. Ele abafa um bocejo e passa a mão pelos cabelos pouco bagunçados.

— Quanto tempo eu dormi, Yeo? — A voz grave contrasta com o rosto amassado e o biquinho persistente nos lábios.

— Uns trinta minutos. Estamos quase chegando em Seul.

— Você descansou? — Ele estrala os ossos dos dedos e depois do pescoço, fazendo um barulho não muito alto.

— Não consegui dormir. Mas não fiquei entediado durante muito tempo.

— Você nunca fica entediado.

Sorrio com o comentário dele. Nesse momento, a moça de antes retorna ao vagão e pega novamente o bebê da pessoa à sua frente, abrindo o maior sorriso do mundo assim que se acomoda na poltrona com o aparentemente filho nos braços.

A paisagem familiar começa a aparecer e os passageiros se organizam para deixar o trem em breve. Eu olho rapidamente os meus pertences e de Seonghwa. Nada fora do lugar.

Sei que vou capotar na minha cama mais tarde, e, sinceramente, é tudo que eu quero fazer, depois de encontrar os outros meninos.

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