Capítulo 5

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Acordei sentindo cheiro de comida. Olhei para a janela e vi que era final de tarde. Então, graças a Deus ainda era domingo. Meu estômago reclamou e lembrei que só tinha tomado café. Olhei ao redor e vi minhas roupas em uma bancada ao lado. Esse tempo todo eu estava andando de camisa e cueca pra lá e pra cá. Isso até elas serem tiradas de mim. Senti o rosto queimar. Peguei minhas roupas, tomei um banho rápido e desci pra ver o que o moreno estava fazendo pra comer.

-Finalmente você acordou. Está com fome?

-Morrendo!

-Então senta. - Fiz o que ele disse. Enquanto Sasuke terminava de preparar os pratos, reparei na sua felicidade. Parecia mesmo que não estávamos em uma situação delicada.

-Não se preocupe. - Sasuke falava servindo o meu prato. - Vamos resolver tudo.

-Como pode ter tanta certeza?

-Tenho fé. - Sasuke me olhava diferente da época da escola, e diferente também da época da morte dos meus pais. É como se ele estivesse mesmo disposto a lutar. Comemos sem falar mais nada. Ouvi o meu telefone tocar em algum lugar e vi minha mochila em cima de uma mesa. Achei o telefone e vi o número da Sakura.

-Oi meu bem.

-E aí, como foram as coisas? Descobriu algum furo? Tá tudo bem? Você não me deu o sinal. - O sinal era uma ligação dizendo “transei com ele e consegui um furo”, mas só parte disso aconteceu.

-Não tinha como, fui atacado depois que saí do restaurante.

-Como assim?

-Eu te explico melhor amanhã no trabalho.

-Tudo bem, mas eu quero respostas. Te vejo amanhã.

-Tchau.

Desliguei o telefone e voltei a olhar o Uchiha na minha frente. Ele parecia cheio de perguntas que eu não estava disposto a responder. Suspirei e guardei o aparelho.

-Diga Uchiha. O que você tanto me olha? Estou gostoso? - Eu estava desconfiado dele.

-Não sempre foi? - Ele descansou a cabeça na mão que estava apoiada na mesa.

-Não brinque comigo Sasuke. Não tem graça. Depois de hoje aposto que você vai embora e me esquecer de novo.

-Eu não fui embora. Seu avô que te levou pra longe de mim. - Fiquei vermelho ao me lembrar daquele simples fato.

-Mas você nunca me procurou. Qual o motivo pra isso?

-Eu vim te ver uma vez Naruto, mas você estava fora de si e me expulsou da casa do seu avô sem mais nem menos e ainda disse que aquela foi sua pior noite.

-O que? Quando isso aconteceu? Eu não me lembro disso. - Eu estava boquiaberto. Por que ele inventaria uma mentira dessas?

-Bom. Seu avô disse que levou você a um médico e que às vezes isso acontece. Disseram que você tinha a síndrome do luto associada a amnésia dissociativa.

-Síndrome do luto? Amnésia?

-Seu avô não te explicou nada? - Baixei minha cabeça e resolvi desabafar.

-Meu avô morreu a algum tempo.

-Isso eu fiquei sabendo. A polícia ligou pros meus pais. - Ele respondeu depois de analisar minha cara de interrogação. - Olha Naruto. Seu avô sempre manteve contato com a gente. Sempre contou como as coisas estavam com você. E contou que o que você teve foi a Síndrome do Luto. É um trauma após a morte de alguém e aparentemente você esqueceu de muitas coisas que aconteceram depois daquilo, por isso a amnésia. No seu caso, você ficou em estado de choque por um longo tempo. Decidimos que só um de nós poderia ver você, e eu praticamente implorei pra todos lá em casa pra que eu fosse o eleito. Só consegui porque o Itachi concordou.

-Itachi?

-Ele sente a sua falta. Na verdade, todos sentimos.

Minha cabeça parecia que iria explodir. O rosto de todos os Uchihas vinham na minha mente borrados. Coloquei a mão na cabeça para tentar amenizar a dor e encostei no sofá, mas parece que ela só piorou.

-Naruto, você tá bem? - Ele se levantou da mesa e veio em minha direção.

-Minha cabeça dói.

-Vou te levar pro hospital.

-Não precisa. Eu só preciso descansar.

Levantei e fui para o quarto sendo seguido pelo moreno que aparentava muita preocupação, como se eu fosse cair a qualquer momento. Não posso culpá-lo depois do que aconteceu mais cedo.
Chegamos no quarto e Sasuke me colocou na cama como se eu fosse uma criança. Me cobriu e deitou do meu lado. Aparentemente me ninando. Eu até queria reclamar, mas o sono veio logo.

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Eu estava em meu apartamento regando as plantinhas que eu havia cultivado na janela quando meu interfone tocou.

-Alô. - Eu atendi, mas não sabia identificar a voz.

-Corre. Rápido! Ele está aqui para te pegar. - A voz disse ofegante.

-O que? Quem quer me pegar? - Perguntei sem entender nada.

-Ele tá subindo. Rápido. Se esconda do homem com olhos de cobra ou será o seu fim.

A ligação caiu. Eu coloquei o aparelho de volta no lugar e corri para a lateral do guarda-roupa. Empurrei a peça de madeira até que ela bloqueasse a porta. Abri a janela e tranquei a porta do banheiro. Olhei para todos os lados e me lembrei do basculante do banheiro. Era uma janelinha pequena, mas eu apostava que cabia ali.

Ouvi as batidas fortes na porta. Eu não podia demorar. Coloquei os pés no vaso sanitário e em seguida me apoiei na pia torcendo para que ela aguentasse meu peso. Abri a janelinha e passei a cabeça e os braços para dentro. Nesse momento um barulho estrondoso se fez presente no meu quarto. Meu coração disparou me fazendo ficar tonto e eufórico. Calma Naruto. Ele ainda não te pegou. Seja lá quem for, você não vai deixar ele te pegar.

Apoiei o outro pé na pia e empurrei para cima. Eu precisava de exercícios, mas estava dando certo. Alguém passou a bater forte na porta do banheiro e nesse momento eu estava com uns 70% do corpo para dentro do basculante. Segurei nas laterais das paredes e fiz força pra frente. Pude sentir meu corpo deslizar para dentro enquanto meu tênis era tirado do meu pé.

O desgraçado conseguiu entrar, mas não conseguiu me pegar. Comecei a engatinhar pelo ducto enquanto ouvia alguém gritando meu nome. Aquela voz não me era estranha e realmente parecia uma cobra, mas eu não podia parar. Não agora. Eu tinha que sair dali o mais rápido possível.

Um calor insuportável era a definição para aquele lugar. Fumaça começou a entrar no ducto e eu comecei a sufocar. Me arrastei mais rápido e de repente o chão se abriu embaixo de mim. Eu caí em um dos corredores do prédio. Demorei um pouco para me recuperar, mas logo tratei de andar. Os corredores começaram a pegar fogo e a dificuldade de respirar estava cada vez pior. O ambiente calmo do prédio se transformou em uma fornalha de uma hora para a outra.

Eu olhava para todos os lados na esperança de encontrar uma saída ou pelo menos alguém que pudesse me ajudar. Foi quando eu o vi. Sasuke Uchiha estava bem ali, na minha frente de pé no final do corredor e com os braços estendidos para me ajudar. Ele estava no meio do fogo com todo aquele equipamento de bombeiros. Eu corri em sua direção na esperança de sair daquele inferno com o moreno, mas essa esperança se esvaiu quando o chão embaixo de mim rachou e um buraco surgiu me levando para o meio do fogo.

Olhei para Sasuke e vi seus olhos cheios de lágrimas. As mãos continuaram estendidas para mim na esperança de tentar me segurar, mas já era tarde e apenas fechei meus olhos para esperar o meu fim.

Past in Flames - Passado em ChamasWhere stories live. Discover now