Capítulo XXIII: Quatro Caixas

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Nem reparei quando adormeci... Só me lembro da porta rangendo novamente e a luz se acendendo, como meus olhos são cor de rosa por não ter nenhum pigmento, mesmo com os olhos fechados a luz me incomodou muito e escondi meu rosto de baixo da coberta resmungando.
Momo falou:
—Sou eu Satsuki! Yama me pediu para acordá-la... Eu trouxe sua janta.
Me levantei e fiquei sentada coçando meus olhos. Momo encheu a colher de comida e tentou enfiar na minha boca. Imediatamente tapei minha boca com as mãos e perguntei:
—Momo! O que você está fazendo!?
Ela respondeu:
—Você não vai conseguir segurar a colher com as mãos enfaixadas deste jeito!
Já dei a solução:
—Minhas mãos não estão doendo. Kuro só as imobilizou para eu descansá-las. Pode desenfaixá-las para mim, por favor? Eu me viro!
Delicadamente, Momo as desenfaixou. Por mais que ela me conhecesse, ela se espantou ao ver minha pele avermelhada por baixo das faixas:
—Isso é normal!? Certeza que não está doendo!?
Tranquilizei ela:
—Fica tranquila! Minha pele é clara demais, qualquer pressãozinha já a deixa vermelha!
Enquanto comia Momo acariciou minha cabeça e então falei:
—Momo! Estamos na vida real! Aqui eu não sou sua mascote!
Ela se defendeu:
—Desculpa Satsuki, é que estou aliviada por você se sentir melhor! Só isso!
Não a culpo... minha doença nos tendões, é porque passei minha vida trancada em casa jogando vídeo game. O sol sempre foi o motivo da minha prisão. Aqui é muito quente, não só minha pele queima muito fácil como também a minha vista é bem afetada. Só saia de vez em quando, mas muito coberta, de óculos escuros e, mesmo assim, por causa da alta temperatura, desmaiava com a insolação...
Quando sai do quarto, junto com a Momo, já estava escuro... As outras duas já haviam jantado e estavam assistindo TV. Sentei ao lado delas sem falar nada e elas me abraçaram falando:
—Sua idiota!
Aconchegada neste abraço, lembrei que elas viraram Gamers por minha causa. Elas passaram a ficar em casa jogando junto comigo, apenas para me fazer companhia... Eu não queria aprisioná-las também... Eu não queria ser tão frágil...
No dia seguinte, pela manhã, minhas amigas foram para a faculdade e eu, fiquei estudando para o vestibular. Ainda chovia muito e estava frio, parei de escrever em meu caderno e olhei para a janela, pois estava quase na hora de chegarem... Vieram no carro da Momo. Yama foi a primeira a sair do carro segurando quatro caixas em seus braços e Kuro saiu logo em seguida para protegê-la com seu guarda-chuva.
Não pude ver o que era, pois, as caixas estavam embrulhadas com plástico... Debrucei em minha mesa e aguardei elas entrarem. Momo não era nada discreta, ouvi ela cochichando com as outras na entrada de nosso apartamento:
—Coloca no meu armário porque ele tem chave! Ela não vai achar lá!
Yama falou:
—Fala mais baixo, Momo! Se ela estiver acordada vai ouvir!
Ouvi a porta do quarto abrir e fingi estar dormindo. Kuro tocou em meu ombro para me acordar e falou:
—De novo você dormiu enquanto estudava!? Por favor não se esforce tanto!
Depois que elas tomaram banho, nos sentamos novamente na mesa e ligamos os nossos notebooks.
Ao entrar no jogo, percebi que estava na carroça, do lado da ponte, onde fica a mina abandonada. Depois disso, Haru apareceu:
—Jelly! Eu e Simo ficamos treinando para te alcançar enquanto você dormia! Ele ainda não entrou, mas eu já havia pego o contato dele e o avisei que já estamos jogando... Enquanto ele não chega, vamos atravessar a ponte!
Falei:
—Ok!
Já estávamos na montanha de ferro e níquel novamente. Haru não estava segurando em minha guia, apesar de ela estar pendurada em meu pescoço ainda. Perguntei:
—Se eu não estou mais de castigo, por que você ainda não tirou a guia de mim!?
Haru respondeu:
—Eu tenho uma ideia para treinarmos juntas e a guia vai ser muito útil nisso!
Eu estava muito confusa! Não tenho ideia de em que essa maldita guia pode ser útil no treinamento, mas decidi esperar para ver...
Estávamos nos aproximando do gigantesco pico em forma de parafuso, quando uma mensagem no chat nos chamou a atenção:
—EEEEEIIII!! ME ESPEREM!!
Olhamos para trás. Era o Simo, ele havia acabado de entrar no jogo. Haru brava falou:
—POR QUE DEMOROU TANTO!?
Ele respondeu:
—Eu estava no banheiro quando você me mandou a mensagem! Foi mal!
Depois ele perguntou:
—Você já explicou para a Jelly, como estávamos fazendo ontem?
Haru respondeu:
—Ainda não, quero mostrar na prática! Vamos começar!
Haru apontou seu dedo para outra rocha de cobre. Simo acertou ela com uma de suas flechas fazendo um barulho alto de gongo de mosteiro. Imediatamente, um Golem furioso saiu daquela rocha e veio correndo em nossa direção. Haru me posicionou um pouco a frente deles. Com medo perguntei:
—O-O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO!?
Haru falou enquanto pegava a minha guia:
—Só fica parada aí! Não se mexa!
O monstro já estava na minha cola com os punhos levantados para me acertar. Com muito medo falei:
—HARUUU!
Segundos antes de o monstro me acertar, Haru esticou a minha guia. O Golem de armadura acertou a barreira magica e toda a força que ele usou foi rebatida de volta para ele, o jogando de costas para o chão. Ele não conseguia levantar por causa das bobinas de tesla em suas costas e a região onde sua armadura não protegia estava exposta. Depois Haru falou, enquanto soltava a minha guia:
—Agora ele é todo seu, Jelly!
Estava de queixo caído! Foi muito fácil derrotar aquele brutamontes com esta estratégia! Se tivéssemos pensado nisso antes, já teríamos como enfrentar a Yama há muito tempo. Depois que devorei o Golem indefeso, perguntei:
—Quem foi o gênio que teve essa ideia!? Foi você Simo!?
Enquanto Simo respondia "não". Haru emburrada falou:
—FUI EU!!! ESSA IDEIA FOI MINHAAA!! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO TENHO CAPACIDADE PARA TER BOAS IDEIAS!?
Me defendi:
—Não é que eu duvide de sua capacidade intelectual... É que ideias como esta, são incomuns vindas de você!
Haru ficou em silêncio, pois não entendeu se eu a elogiei ou estava apenas zombando dela. Então completei:
—Em outras palavras, você me impressionou!
Inocente Haru falou:
—Obrigada Jelly!
Simo percebeu a zueira e falou:
—FALA SÉRIO! NÉ HARU!?
Sem entender nada Haru perguntou ao Simo:
—O que foi, Simo?
Para não se dar o trabalho de explicar para Haru, ele falou:
—Nada não, Haru...
Continuamos com o nosso treinamento. Como estávamos lutando em conjunto, os pontos de experiência eram acrescentados para nós três. Paramos quando nossa magia estava no fim, então estávamos retornando para a carroça.
Haru comentou:
—Precisamos comprar itens de recuperação... Já que minha mascote consumiu todos!
Me defendi:
—Mas aqueles itens fui eu mesma que consegui!
Simo me repreendeu:
—Jelly, nós somos uma equipe! Se você não ser mais cuidadosa, vai prejudicar nós dois também!
Contra isso não tinha argumentos, então fiquei quieta.

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