Despedida

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Meu pai não dirigiu uma palavra pra mim durante esses três dias, na verdade ele ao menos apareceu em casa nesses três dias. Ouvi seus passos uma vez durante a madrugada, mas não se repetiu.

Eu sai para andar de noite precisava pensar, precisava respirar e sentia as paredes daquela casa, nunca tão silenciosa, me sufocar cada vez mais que lembrava de que meu tempo estava esgotando e que seria no outro dia o encontro para "nos conhecermos". Andava um pouco sem rumo pelas ruas do pequeno bairro, vendo já várias luzes apagadas por já estar tarde e parei ao levar meu olhar a praça e encontrar uma pequena figura muito bem conhecida. Chiyo, ela é avó da cidade toda, quase tombada como patrimônio cultural por todos uma velha muito sem filtro que dava trabalho para alguns religiosos. 

Era doida.

Há lendas que correm atrás do nome da velha na cidade: dizem que os pais dela eram ricos e ela fugiu de casa, falam que ela era hippie quando adolescente, dizem que ela liderava protestos e revoluções; era uma jovem fora dos padrões que virou uma  velhinha fora dos padrões, vendia essências naturais e algumas ervas, e eu simplesmente sempre comprava  fumo com ela, já que era sem nenhuma merda no meio, era a única que sabia também que tinha o costume de fumar o que vendia. Ela estava lá sentad0,a em um banco olhando o céu noturno próximo ao deserto que ficava bem ao fundo de nossa cidade.

— Menina Temari, como vai? – diz olhando pra mim e sorrindo.

— Desculpa vó, não queria atrapalhar – respondo rápido ajeitando a roupa para parecer menos desolada que estava.

— Olha para minha cara de quem liga para suas desculpas. Senta aqui do lado — disse batendo as mãos no banquinho que dava uma linda visão para o deserto distante. Ela pega a seda na própria bolsa, puxando e logo algumas ervas e estende pra mim — Bole enquanto me conta o que te aflige, estou tão acostumada a ver uma Temari líder e mandona nesse condomínio que até ando estranhando não te ver circulando essa semana.

— Ah vó — falo ainda concentrando no trabalho que fazia com as mãos — meu pai me fez um casamento político — explico respirando fundo antes de lamber a seda e fechar o fumo — não suporto a ideia de não ter tido um relacionamento descente e cair nisso. E eu queria saber o que fazer, ele não me ouve, eu não faço ideia do porque ele fez isso, o quão desesperado deve estar;

— Realmente, conviver com alguém para alguém que você não gosta deve ser foda – olhei para ela e a velhinha sorriu divertida com a situação – Menina eu poderia dizer "Ouça seu coração" mas eu acabei de te pedir para bolar, acho que meu coração pode não dizer coisas com muito sentido, mas se quiser desabar eu estou aqui.

—Adoro você, vó – falo me sentindo acolhida por ela.

— Quem não adora, fala sério – fala rindo baixo. Bendito seja os leoninos (A//se falar mal de leonino nos comentários o pipote vai comer) – Como tá se sentindo?

– Agora? Eu estou sufocada — falo com a voz baixa — eu não entendo essa pressão pra decidir logo o que vai ser, a pressão de ouvir "você é uma mulher de vinte e três ano, já devia tá namorando visando noivado" ou "Depois que ficar pelancuda, homem nenhum vai te querer" — falo baixo acendendo o e levando a boca, tragando fundo e segurando no peito —isso não é a primeira proposta de casamento arranjado que aparece, em relação a filho de outras empresas tentarem algo comigo — solto a fumaça sentindo o vento fresco levá-la embora —é a primeira que ele cogita e aceita, ele sempre me protegeu disso.

— Menina, seu espírito é muito livre pra se contentar com algo assim — fala olhando pra mim com um sorriso —  você sempre foi diferente das pessoas daqui, sempre quis mais, saber mais, ir mais longe. Não é atoa que não é tão próxima dos jovens daqui — diz me puxando para perto e acabo deitando no ombro ossudo da velhinha miúda — sabe, Temari, eu tinha um espírito aventureiro. Era como você apenas que dez centímetros mais baixa — fala em meio um sorriso, e passa a fazer carinho na minha cabeça — Sua mãe era assim, mas você não deve se lembrar. Seu pai não deve falar muito sobre ela — fala enquanto continuava ouvindo ela e fumando — ele a amava muito, ela era intensa, mas não era como você em atitudes, nisso você é como o seu pai.  

Traçando Minha Própria HistóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora