Capítulo 8

1.4K 87 8
                                    

Marcella:

Minha avó costumava falar do meu pai sempre

Meu pai é diferente do pai de Mikaella. Ele teve um relacionamento com a minha mãe há muitos anos atrás. Ela engravidou de mim e depois de alguns anos ele sumiu como todo pai babaca faz

Então minha mãe teve que correr atrás do dinheiro dela caso não quisesse morrer de fome. E foi assim que ela conheceu Bento, pai de Mika

Ele foi um verdadeiro pai para mim, e é até hoje. E mesmo me acolhendo, eu sentia que o amor sempre era a mais para Mika. Antes eu não entendia, mas agora é nítido, eu não sou filha biológica dele

Quando eu tinha mais ou menos 9 anos de idade, minha mãe e Bento tiveram que fazer uma viagem que garantia um futuro promissor. Eles tinham que ir, mas não podia nos levar, então, ficamos um tempo morando com minha avó por parte de mãe, Dona Gê

Eu não sei como ela não me expulsou de casa nesse tempo em que minha mãe ficou longe. Eu era a pior criança de todo o bairro. Os vizinhos me odiava por riscar seus muros com canetinha e tocar as campainhas várias vezes durante a noite

Um dia um casal se mudou, dizendo que não aguentava mais minhas palhaçadas. Minha avó tentou se explicar dizendo que eu era só uma criança, mas quem disse que eles se importavam?

Toda vez que eu me machucava, corria para os braços da minha avó que cuidava dos meus machucados e sempre me dava xícaras de algum chá dizendo que iria ficar boa no outro dia, e eu sempre ficava

Mikaella já era mais quietinha. Ela não durava muito em brincadeiras de rua. Algum tipo de comentário ou quando não faziam o que ela pedia, era motivo dela chorar e se trancar dentro de casa

Nos fins de ano, a quantidade de crianças dobraram no bairro e a brincadeira mais divertida era polícia e ladrão. Eu amava ser a polícia e as crianças não se importava em ser os ladrões, muito pelo contrário, eles faziam questão que eu fosse a polícia porque tinham mais criatividade para se esconderem

Nos dias de frio, minha avó fazia biscoitos que perfumavam a casa inteira. Éramos sempre atraídas pelo cheirinho doce junto com o leite quente

Ela também nos contava história. Todos os tipos de historinhas de criança que possam imaginar. Mikaella sempre chorava com saudades dos pais e bastava uma história que ela esquecia rapidinho

Um dia eu voltei para casa muito mais cedo do que eu costumava voltar. Mikaella estava na escola e na minha era reunião de professores, por isso nesse dia eu não fui

-Chegou mais cedo, Ella

-Cansei de brincar na rua - me sentei em uma cadeira enquanto balançava os pés

-Que estranho. Você nunca me disse isso - ela ri experimentando o tempero do feijão

-Não tem mais graça

Depois que eu disse isso ela me olhou, seu olhar estava estranho, então ela desligou o fogão e se sentou ao meu lado

-Eu acho que você já está virando uma moça

-Uma moça?

-Sim. Você está amadurecendo Ella, e isso é normal - ela passa suas mãos em meus cabelos delicadamente, experimentando cada mecha em seus dedos

-Isso significa que eu vou ter que trabalhar? - ela riu me fazendo encara-la

-Bom, basicamente sim. Mas não agora, então não se preocupe

-Vó… Porque meu pai me deixou? Ele não me ama mais?

Eu era apenas uma criança tentando adivinhar o motivo do meu pai ter se afastado de mim. Eu criei idéias tão ruins dele de acordo com o que minha mãe dizia, que eu já não sentia tanta falta. Mas naquele dia eu senti

Dois em Um Onde histórias criam vida. Descubra agora