Parte Dois

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Claire:

Eu nem queria ter levantado da cama, mas infelizmente vergonha, arrependimento e desespero não eram desculpas suficientes pra perder o debate de Literatura que valiam boa parte da nota daquela matéria. Provavelmente a sra. Hemphrey não estava nem aí para o fato de eu ter sida beijada de surpresa em frente a todo mundo pelo garoto mais popular escola, inclusive diante da garota que ele namorava até dois dias atrás.

De todas as vezes que fantasiei beijar Ethan Walker nunca imaginei que me sentiria tão mal com isso, era pra eu estar nas nuvens, eu acho. Nas palavras da Suzi, o capitão do time correu até mim depois de ganhar um jogo difícil com um touchdown nos últimos minutos e me beijou, é o clichê perfeito. Perfeito exceto a parte em que isso magoa alguém.

Eu tentei dizer a ela que eu não queria, tentei me desculpar mesmo sabendo que a culpa não era minha, mas porque ela me ouviria? Porque a inalcançável Jeniffer Campbell pararia pra ouvir alguém como Claire Wilson? Se fosse um filme adolescente teríamos a nerd feliz por finalmente ter sido notada e a vilã popular tendo o desprezo que merece, só que ela não merecia.

Suzi me ouviu chorar e repetir isso por horas quando veio na minha casa depois do jogo enquanto garantia que tudo ficaria bem, que ela conhecia a Jeniffer e ela não iria me culpar. Eu torcia pra que isso fosse verdade, assim como torcia pra continuar invisível pros outros alunos hoje, a segunda parte eu descobri que não ia acontecer assim que apareci na escola e percebi os olhares e bochichos.

Como tudo o que é ruim sempre pode piorar, o Ethan me esperava encostado no meu armário, revisei mentalmente o que eu precisava pra aula do primeiro tempo e decidi que tinha o suficiente na minha mochila, então desviei no primeiro corredor à direita. A paz que eu procurava não me alcançou, já o capitão do time sim e fez questão de segurar a minha mão com os dedos entrelaçados.

– Qual o seu problema? – Falei livrando minha mão da dele.

– Como assim? Eu só achei que...

– Que eu ia cair nos teus braços depois de você me beijar sem nenhum aviso prévio? – Disparei.

– É – ele deu de ombros.

Impressionante como tudo parecia fácil pra ele. Enquanto eu me corroía pela culpa de ferir os sentimentos de outra garota, Ethan me olhava como se aquela fosse a resposta mais óbvia pra minha pergunta. Num conto de fadas talvez fosse e ele com certeza se achava o príncipe encantado, eu também achava até ontem, só que quando ele levou a mão até o meu queixo e deu aquele sorriso encantador dele eu só consegui sentir repulsa.

– Claire... – ele tentou um tom de voz sedutor, mas me soou ainda mais nojento.

– Me faz um favor, Ethan. Não pronuncia mais meu nome.

O sorriso morreu nos lábios dele e foi substituído por uma expressão de puro choque, aparentemente Walker não esperava levar um não de alguém como eu, ninguém seria capaz de acreditar nisso, nem mesmo eu conseguia assimilar o que tinha acabado de dizer. Ele até tentou falar alguma coisa, mas eu me adiantei:

– Volta a fingir que eu não existo, você é tão babaca quanto seus amigos.

Enquanto me afastava de volta pro meu armário ainda consegui ouvir ele resmungar algo sobre ser a segunda vez que ele ouvia isso essa semana, seja lá quem disse isso a ele é uma pessoa mais sensata do que eu era até ontem. Se eu não tivesse em cima da hora pra entrar na aula, iria atrás da Jenny pra tentar falar com ela, mas eu não podia me atrasar pro debate.

Depois de passar o debate todo ignorando os olhares de ódio do Ethan, finalmente era a hora do almoço. O refeitório era o último lugar que eu queria ir e dei graças a Deus quando percebi que Jenny não estava na mesa dos populares, pensei nos lugares óbvios onde poderia encontrar ela e pra minha sorte ela estava no primeiro que tentei, a lateral do campo onde as líderes de torcida costumavam treinar.

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