Capítulo I

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Meu nome é Stella e atualmente tenho 18 anos, a história que eu vou contar acontece mais ou menos em 2018, quando eu tinha uns 15 anos, mas na real, ela começou quando eu tinha 7.
A verdade é que as pessoas nunca sabem exatamente quando as histórias começam, mas devem começar no começo, né? Mas antes desse começo, teve o fim de algo? Ou será que tudo está terminando e começando? Pera, então o fim também é o início, e o início é também o fim? Nossa, que complicado. Droga, agora a história ficou confusa.
Enfim, tanto faz o começo ou o fim.
Desculpe, vamos tentar de novo.
Meu nome é Stella e tenho 18 anos, mas a história que vou contar acontece quando eu tinha 15 anos, mas na real, acho que ela começa quando eu tinha uns...7 anos.
Aos 15 anos, eu tinha entrado numa escola nova, e estava superanimada, porque eu odiava minha escola antiga, e mudar pra uma nova pareceu bem animador.
Eu lembro que a porta da escola era branca e azul, e lá não era obrigatório usar uniformes, era mais barato e maior, então quando entrei, abri um grande sorriso no rosto. Tinha tantos adolescentes conversando animados em volta de mim, aquilo pareceu uma grande oportunidade pra fazer amigos, tipo, eu sempre tive dificultade em fazer amizades (eu ainda tenho), mas as pessoas pareceram bem legais lá, talvez eu conseguisse dessa vez. Bom, eu não estava tão certa.
Entrei na minha sala e sentei na primeira fileira. Eu era bem estudiosa e prestava muita atenção nas aulas, queria deixar minha mãe orgulhosa, mas acho que ela não se importava muito com minha vida escolar e se eu estava me saindo bem ou não. Mas tudo que é bom dura pouco.
Estava esperando a aula começar e o resto da turma chegar quando uma menina entrou na classe, nossa, ela era linda, tinha um cabelo até os ombros bem cacheado e preto, sua pele era muito clara e seu rosto fino, seus olhos bem verdes pareciam duas azeitonas. Ela era tipo uma rainha comparada a mim, que só tinha um cabelo sem graça castanho e liso, preso a um rabo de cavalo desajeitado, com roupas largas e rasgadas, e um rosto rechonchudo. Ela chamava muito mais atenção, então fiquei meio intimidada quando vi ela.
A garota foi até mim e bateu na minha mesa e me encarou de frente.
Meus olhos se arregalaram e eu levantei a cabeça encarando ela, de maneira que eu ainda parecesse inferior.
–Esse é o meu lugar.– Ela disse, apontando pra si mesma com seu dedo indicador que tinha sua unha pintada de vermelho sangue.
–E-eu sinto muito, sou nova aqui, não fazia ideia de que alguém já estava sentado aqui, perdão, não vai se repetir, eu juro.– Eu disse, encolhendo a cabeça. Eu sabia que ela só queria ser a chefe de tudo, e se eu fizesse o que ela mandava e admitisse que ela era líder do bando, talvez eu saísse de lá sem maiores problemas. Sério, ela pareceu meio surpresa com minha gentileza e ingenuidade, por mais que eu tivesse desenvolvido já naquele momento, um leve ranço dela, porque já tinha passado por situações parecidas onde me senti bem mal. Ela deu um leve sorriso malicioso, com certeza estava se preparando pra me usar, afinal, eu parecia uma ingênua idiota.
–Hm, desde que isso não se repita, tudo bem.– Ela disse em tom imponente e ácido, eu dei um leve sorriso e peguei minhas coisas, me transferindo pra uma mesa na segunda fileira
–Ah, sinto muito, quem senta aí é a Mirela.– Ela disse, antes que eu pudesse tocar  na carteira.
–Ah, não tem problema.– Eu disse, rodeando meus olhos pela sala procurando por um lugar melhor. Me dirigi a uma carteira do outro lado da sala na primeira fileira.
–O Pablo senta aí.
–Ah
Novamente, procurei por um lugar e fui para o meio da segunda fileira.
–A Giovana senta aí.
–Ah
Mais uma vez, busquei um bom lugar e fui até a carteira ao lado.
–A Bárbara que senta aí.
–Ah...
Eu já estava me irritando, todos os lugares estavam ocupados. Me dirigi até a primeira fileira novamente e encontrei uma nova carteira
–Escuta, quem senta aí é o Arthur. Olha, se você quiser eu te ajudo a encontrar um lugar.– Ela disse em tom calmo, pareceu uma oferta amigável e ela me mostrou uma cadeira na última fileira, toda rabiscada, do lado da janela. Com certeza ninguém sentava lá porque era bem nojento.
–Ah...Er...Obrigada...?– Eu disse, muito em dúvida sobre essas palavras. Ela sorriu falsamente e sentou em seu lugar. Eca. Eu não ia ficar naquela mesa de jeito nenhum. Então, fingi gostar do lugar, e quando ela saiu da sala pra beber água troquei a mesa e a cadeira, agora não era mais nojento, e eu não tinha roubado o lugar de ninguém. A menina nem percebeu. Me senti tão inteligente. Alguns minutos depois o resto da sala entrou. Conversaram muito com a garota, principalmente aquela tal de Mirela, que sentava atrás dela. As duas eram inseparáveis. Confesso que elas eram muito bonitas, cheias de amigos, ricas e descoladas, senti muita inveja delas. Derrepente alguém veio falar comigo, ele tinha o cabelo loiro e cacheado, olhos azuis turquesa e pele aroseada, ele era muito fofo, usava um moletom preto e largo e não chamava o mínimo de atenção. Ele parecia envergonhado, então abaixou o capuz e disse com uma voz fina
–V-você é nova?
Sério, eu achei ele legal por perguntar, na real acho que ele queria fazer amizade.
–Sim!– Exclamei com minha voz esganiçada, enquanto abria um largo sorriso. Ele olhou pro meu sorriso e corou um pouco, ele pareceu surpreso mas voltou a si
–Legal...M-meu nome é Henrique, e o seu?
–Stella
–Que nome le-legal
–Valeu, o seu nome também é"lelegal"
A gente riu daquilo e fomos conversando, no final do dia já sabíamos quase tudo um do outro e estávamos bem próximos. Quer dizer, na real ele sabia bem pouco sobre mim, porque eu não falei nada sobre o meu passado e nem da escola antiga, por mais que ele tenha perguntado algumas vezes.
Eu teria de voltar pra casa, eu não queria, mas eu não tinha pra onde ir.
Eu fui andando pra casa e meus passos pesados eram a única coisa que cortava o silêncio da minha rua.
Eu toquei a maçaneta com cuidado pra não fazer barulho demais, abri a porta e a primeira imagem que tive foi minha mãe com uma garrafa de vinho tinto. A casa estava novamente toda bagunçada, com fotos da nossa família com um dos rostos riscados, garrafas e latas de bebida alcoólica pra todos os lados, rachaduras e um sofá com um cheiro horrível de cigarro e cerveja.  Lembro de ver a nossa casa assim pela primeira vez com 6 anos. Não esperava me acostumar com isso.
–VAI PRO QUARTO, A SALA É MINHA!– Minha mãe disse. Eu sei que ela estava bêbada, ela sempre estava, mas seus gritos me chateavam tanto.
Eu assenti com a cabeça como sempre fazia e fui pro meu quarto.
Na porta tinha latas vazias e garrafas de vinho quebradas,  as empurrei para um canto e entrei. Meu quarto literalmente só tinha uma cama, um armário com roupas velhas e rasgadas, já que nunca compravamos novas, uma tomada e um quadro com uma foto minha sorrindo, eu acho que eu deveria ter uns 3 anos na foto. Achava meio estranha, porque aquela felicidade nunca tinha me tocado, desde que me lembro. Minha mãe continuava na sala cantando e bebendo aos montes. Ela era alcoólatra e fumante, desde que meu pai deixou a gente quando eu tinha 4 anos. Na real ele nunca tinha curtido muito a idéia da gravidez, e ele queria pular fora e deixar minha mãe sozinha cuidando de mim. Mas a notícia deixou minha tia e minha vó tão felizes, e elas pressionaram meu pai, aí ficou mais difícil pra ele assumir que não queria e ir embora. Isso era bom, já que ia ser difícil me sustentar sozinha, mas aí, quando eu tinha 4 anos ele sumiu. Não me lembro de sua voz ou de seu rosto, nem de seu nome. Mamãe nunca fala dele. Quando ele se foi ela tentou ser forte, mas 2 anos depois começou a fumar e a beber muito, por causa do estresse, e nunca mais parou. É claro que eu amava ela, mas eu não tinha uma boa relação com ela e a achava bem chata. Ela estava sempre bêbada então nunca falei direito com ela.
Nhe, talvez eu devesse aceitar menos aquilo e tomar uma atitude, mas sempre fiquei quieta e assenti com a cabeça.
Foi isso na verdade que fez me machucar tanto, e acabar machucando os outros....

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